A postura atenta das crianças que encheram uma das salas de aulas da Escola Municipal de Ensino Fundamental Georgina Rosado, na tarde dessa quarta-feira, para assistir a apresentação da peça “O Silencioso Mundo de Flor”, não deixou espaço para dúvidas quando o assunto é a magia do teatro. Enquanto Diego Granza e Giancarlo Camargo, do Grupo de Teatro Depois da Chuva, caminhavam pela sala, era difícil ouvir qualquer voz além da voz dos atores. Por outro lado, quando Diego e Giancarlo estimulavam uma resposta, uma multidão de braços e vozes de crianças se levantava.
A apresentação da peça, que integra a agenda cultural do mês de agosto do Sesc Passo Fundo e é promovida por meio do programa Arte Sesc – Cultura por toda parte, é planejada especialmente para alunos de escolas passo-fundenses, visando levar até eles o contato com a cultura desde a infância. Apesar a ideia de inclusão estar presente em todas as apresentações ofertadas às escolas pelo Sesc, o espetáculo “O Silencioso Mundo de Flor”, em particular, é ainda mais inclusivo: não somente tem uma linguagem de fácil entendimento, como também é adaptado para o público com problemas auditivos ou visuais. A peça conta a história de Flor, uma menina que não pode ouvir. Um dia, junto com o amigo Téo, Flor encontra um barracão repleto de instrumentos musicais – itens que ela nunca havia visto antes. Entre tantos instrumentos, eles descobrem um em especial: o surdo. Embora não possa ouvi-lo, Flor é capaz de sentir a vibração dele. E é assim, também, que as crianças com deficiência auditiva podem apreciar a peça nas escolas: enquanto os atores brincam com os instrumentos, elas assistem e sentem a vibração. Aquelas que não veem, deliciam-se com o som.
Para a coordenadora da escola, Tânia Loss, a atividade proporciona um momento único e especial, tanto para os mais de 15 alunos inclusos, que têm algum tipo de deficiência, quanto para os demais estudantes. “A maioria dos nossos alunos nunca foi ao teatro ou ao cinema, são crianças que só tem contato com tudo isso por meio da escola. Muitas são bem agitadas, brigam durante o intervalo, e a diferença no comportamento delas quando tem uma atividade assim é muito grande. Elas ficam encantadas, prestam atenção. Então é algo que estimula a atenção, o senso crítico e o juízo de valor, além de ser um momento de interação entre turmas”.
Ainda de acordo com a coordenadora, atividades culturais são também um meio de entreter os alunos e desviar a atenção dos pontos negativos da escola, que aguarda reformas na estrutura há meses. “A nossa parceria com o Sesc é bastante antiga. Quando é possível, a gente leva os alunos de ônibus até as atividades, mas como não estamos conseguindo fazer isso ultimamente, aproveitamos a oportunidade de trazer a atividade até as crianças. Elas se divertem e esquecem um pouco das dificuldades e do quanto temos muitas partes feias na escola”. Em alguns exercícios, os pequenos ajudam até mesmo a deixar o lugar mais bonito: fazem pinturas nos muros, expõem desenhos pelas paredes dos corredores e confeccionam origamis. Tudo sempre conectado com os livros estudados, os filmes exibidos ou as peças recebidas. “É um benefício que se estende. A partir desta peça, por exemplo, no decorrer da semana as professoras vão elaborar exercícios. Os alunos adoram”, finaliza.