Os esforços da ex-policial Kelly Thimoteo para impedir a venda dos cavalos da Brigada Militar encontraram um obstáculo nesta semana. Serão leiloados 23 equinos na sede do 3° Regimento de Polícia Montada (RPMon), em Passo Fundo, no dia 23 de agosto, às 17h. A informação foi publicada pela Central de Licitações (Celic), órgão da Secretaria de Modernização Administrativa e Recursos Humanos, no Diário Oficial do Estado desta quarta-feira (8).
A advogada, que é presidente do Clube de Amigos e Protetores dos Animais (Capa), foi ao Palácio do Piratini, no mês passado, juntamente com outra ativista, conversar com secretário-chefe da Casa Civil, Fábio Branco, e com o Comando-Geral da Brigada Militar. Lá conseguiu suspender o leilão dos cavalos. Na ocasião, o governo do Estado criou um Grupo de Trabalho (GT) para estudar a possibilidade de estabelecer convênios com entidades protetoras de animais e a Brigada Militar, para destinação de equinos já em término de atividade.
Durante a audiência em que o GT foi criado, também foi entregue ao chefe da Casa Civil, Fábio Branco, a minuta de um projeto de lei (PL) que cria a aposentadoria de cavalos e cães do Estado, proibindo a comercialização, o abate e o uso em pesquisa ou tração. O deputado Gabriel Souza ficou comprometido em protocolar o PL no parlamento gaúcho. O projeto, porém, ainda não foi protocolado. A redação entrou em contato com a assessoria do deputado para saber se há uma previsão de propor o projeto, mas não obteve retorno.
Além de impedir a venda dos animais, Kelly deseja adotar um cavalo em especial: o Nanquin. Ele foi seu companheiro de patrulha durante três dos quatros anos em que a advogada esteve na Brigada Militar. Há sete anos a ex-policial tenta obter a guarda do seu amigo, mas sem sucesso. Conforme Kelly, em 2015 ele foi levado para a fazenda da Brigada Militar em Passo Fundo, onde está agora. Na reunião em Porto Alegre, a advogada afirma que conseguiu, por meio de um acordo com o Comando-Geral da Brigada Militar, autorização para visitar Nanquin. “Aqui não é o que está acontecendo. Eu solicitei uma visita e quando eu solicitei uma nova visita, eles ficaram uma semana sem dar retorno. Nesta segunda-feira (7) eles me informaram que só poderia vê-lo na próxima semana”, indigna-se.
A luta pela guarda do animal repercutiu nas redes sociais. Kelly criou uma petição no site change.org, que já possuía mais de 62 mil assinaturas nesta terça-feira (8). A meta é chegar as 75 mil assinaturas para entregar o abaixo-assinado ao governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori.
Nanquin não será leiloado
O companheiro de patrulha de Kelly não será leiloado no edital dos 23 equinos. Porém, a publicação da alienação causa indignação. “O nosso acordo foi desobedecido, porque os leilões haviam sido suspensos até que se revisasse as cláusulas e, caso não conseguíssemos a doação desses cavalos, que pelo menos eles fossem vendidos para alguém que fosse proporcionar um fim digno”, observa.
O edital de leilão dos equinos prevê que “como forma de proteção e bem-estar dos equinos que estão sendo postos a leilão, não poderá participar desta licitação as pessoas jurídicas que possuem no seu objeto social o abate de animais”. O item, porém, desagrada a ex-policial, uma vez que não contempla outras formas de maus tratos, como uso em pesquisa, esportes ou tração. “Não era o que nós tínhamos solicitado. Agora estamos estudando uma maneira para que o leilão seja suspenso”, pontua a presidente do Capa.
No caso do Nanquin, se estuda uma forma de conseguir possibilitar a adoção do cavalo, segundo Kelly. O prazo de resposta em relação à guarda do animal é até quinta-feira (10). O Capa luta para que seja proibida a comercialização de cavalos e que eles somente possam ser adotados por ONGs de proteção animal.
MP acolhe denúncia em relação a cavalos da BM
A denúncia protocolada pelo Capa envolvendo maus tratos em alguns dos cavalos da Brigada Militar foi acolhida pelo Ministério Público. O promotor de Justiça, Paulo Cirne, informou que o inquérito civil foi instaurado e no momento aguarda informações da BM. A queixa havia sido registrada em julho, segundo a ONG, em virtude de não ter conseguido o diálogo direto com o comando. Em julho, a BM informou ao ON que os os animais estavam em tratamento no momento em que as fotos foram registradas. Nesta terça-feira (8), a reportagem entrou em contato com a BM e não foi autorizada a entrar na fazenda para fotografar os equinos.
