Os números de produção nesta safra de soja, que ultrapassou 1,8 milhões de toneladas do grão na região, não estão refletindo em vendas ao comércio exterior. Nos primeiros sete meses deste ano, a exportação da soja, em Passo Fundo, caiu 10,62% em relação ao mesmo período que o ano passado. Ao mesmo tempo, as tortas e outros resíduos da extração da soja registraram queda de 73,30%. O preço das commodities que deixa o produtor receoso, a desvalorização da moeda de outros países que aumenta a competitividade internacional e a concorrência entre o mercado externo com o interno são algumas das explicações dos especialistas para o decréscimo. As quedas são semelhantes em outros grãos como trigo, milho e arroz. Os dados são da Balança Comercial, divulgados pelo Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Na questão do soja, a maior queda foi verificada nos produtos derivados do grão. Nos primeiros sete meses do ano passado, Passo Fundo comercializou 250 mil toneladas de produtos derivados da extração do óleo de soja por U$ 85,6 milhões. No mesmo período deste ano, foram 68,3 mil toneladas por U$ 22,8 milhões. O economista e professor da UPF, Avelino Guarienti, frisa que a industrialização e os preços praticados por outros países acirraram a concorrência. “Caiu as exportações de farelos (soja) e de óleo porque caiu os preços [no mercado externo] em relação ao ano anterior. Essa queda se refere a uma questão de competitividade”, explica Guarienti.
A China é o principal importador de soja brasileira, segundo o economista. Na tabela de exportações passo-fundenses, ela aparece em primeiro lugar representando mais de 70% das vendas desse ano. O professor analisa que a China está se industrializando e, com isso, ela deixa de comprar derivados (do soja) do Brasil e passa a competir no mercado externo. “A China compra o grão in natura, industrializa e vende para o mundo. Quanto mais aumenta o poder de industrialização deles, mais diminui a nossa exportação de produto industrializado, que é o óleo de soja e o farelo de soja (que são ‘resíduos’ de soja)”, pontua.
Os chineses continuam comprando o grão in natura e viram concorrentes nos industrializados, que são produtos com maior valor agregado. “O nosso problema é a moeda. Nós, quando vamos exportar o farelo, precisamos ter competitividade no preço, em relação ao dólar. Quanto mais desvaloriza a nossa moeda, mais competitivos nós ficamos no mercado externo. Porém, a China também teve uma desvalorização da moeda, o que fez com que eles ficassem competitivos”, afirma Avelino Guarienti.
Mercado interno x mercado externo
Uma outra questão que influência na queda das exportações é o aumento do valor agregado ao produto no mercado nacional. “Se o nosso preço interno está melhor do que o externo, o produtor não vai vender para fora. As nossas indústrias vão tentar se colocar dentro do mercado interno. Essa competitividade é em relação aos países do mercado externo e também a competitividade do mercado interno”, avalia o economista.
Preço e armazenagem
O preço praticado na saca do soja desagrada os produtores, de acordo com o engenheiro agrônomo da Emater Regional de Passo Fundo, Cláudio Dóro. A saca de 60 quilos do grão, que no ano passado era vendida por R$ 73, hoje está sendo comercializada em torno de R$ 60. “O preço das commodities agrícolas caíram tanto no mercado interno quanto no internacional. Essa queda de preços teve um impacto negativo na balança comercial como um todo”, afirma o engenheiro.
O fator preço faz com que o produtor fique receoso e, muitas vezes, estoque seu grão para tentar conseguir um valor melhor no futuro. “O produtor está preocupado porque a lucratividade caiu. Ele precisa ser cada vez mais eficiente, com uma gestão cada vez mais apurada para conseguir equilibrar os fatores de produção e garantir o lucro, para que ele possa permanecer no seu meio rural. É um grande desafio para a gestão da propriedade: minimizar os custos de produção sem afetar o rendimento”, argumenta Dóro.
Outros grãos
Outros produtos agrícolas como milho, trigo e arroz também registraram queda na balança comercial de Passo Fundo neste ano. O milho teve uma redução de 72,80% na exportação, em relação ao que foi comercializado no ano passado. Guarienti aponta que nos primeiros meses desse ano a exportação do milho foi baixíssima e que de maio em diante vem demonstrando recuperação. “O milho teve uma queda de preços internos em razão do volume de safra. Tivemos uma supersafra da milho, a oferta do produto aumentou e fez com que o preço interno caísse”, diz.
De acordo com Dóro, a saca do milho está sendo comercializada em torno de R$ 22, enquanto que no ano passado estava em R$ 34. O trigo, que estava na casa dos R$ 40, hoje está por R$ 35. Na balança comercial, houve uma queda de 86,33% na exportação de trigo. A venda do arroz para o mercado externo teve variação negativa de 11,39%, de 2016 para 2017. Em julho deste ano, o saldo da balança comercial de Passo Fundo caiu 58% em relação ao mesmo período do ano passado.