Pela primeira vez, o município compartilha com Porto Alegre as atividades alusivas ao aniversário de 160 anos com uma programação que busca mostrar as marcas e potencialidades da cidade que é considerada a Capital do Norte do Rio Grande do Sul e a Capital Nacional da Literatura. Na noite dessa segunda-feira (14) os trabalhos foram abertos oficialmente com um encontro para conversar sobre educação literária, leitura e formação do leitor. A Sala José Lewgoy do Solar dos Câmara da Assembleia Legislativa ficou lotada para receber pesquisadores que são referência no tema. Fazer a leitura acontecer é o que motiva as professoras e pesquisadoras Dra. Tania Rösing e Dra. Regina Zilberman, anfitriãs do encontro, que contou com o painel “Educação Literária: novas leituras e novos leitores” e com o lançamento e a distribuição da obra “Leitura: história e ensino”, organizada por Tania e Regina, e publicada em 2016 pela Edelbra Editora Ltda.
O tema do painel dialoga com toda a reflexão proposta no livro, ao buscar entender o ato da leitura e o modo de ler, analisando ângulos históricos, pedagógicos e tecnológicos. A educação literária tem a proposta de formar leitores que não apenas decodificam o texto, mas que compreendem e interpretam, atribuindo assim sentido à leitura. No atual cenário, ampliar os índices de leitura no Brasil é uma necessidade, como explica a pesquisadora Dra. Tania Rösing. “A preocupação de educadores verdadeiros é formar leitores pelo texto de excelência, que é o texto literário. Nós hoje convivemos com conceito de leitura que vai do impresso ao digital, passando pelas linguagens artísticas. O contexto é de baixos índices leitura, embora seja possível constatar que nunca se leu tanto quando se lê agora”, explicou.
Para ela, é necessário aliar as novas formas de comunicação para que se possa ter acesso aos textos de qualidade. “Os textos literários são textos originais, e por isso mesmo merecem atenção. Mas, sabemos que as pessoas têm imensa dificuldade de aproximação desses textos considerados clássicos. Entendemos que há um grande vácuo que precisa ser preenchido na questão da mediação da leitura, fazendo com que esse potencial que os jovens tem possa ser aproveitado em textos literários, mas não necessariamente clássicos em um primeiro momento”, apontou ela. Tania ainda falou sobre o aniversário da cidade: “é uma alegria Passo Fundo completar 160 anos como uma cidade que tem evoluído na área da cultura e da educação. Vamos continuar contribuindo para que isso aconteça”, finalizou.
Para a pesquisadora Dra. Regina Zilberman, é uma honra iniciar a Semana de Passo Fundo em Porto Alegre falando sobre leitura e formação do leitor. “Ficamos muito felizes que esse seja o tema escolhido para abrir a Semana. Passo Fundo tem a Jornada, que é o evento literário mais importante do Rio Grande do Sul nos últimos 30 anos. Não é à toa que o município tem o título de Capital Nacional da Literatura”, afirmou.
Regina iniciou sua fala contextualizando essa preocupação com a leitura e a formação do leitor, que surgiu na década de 80, quando um projeto de leitura mudou o quadro de circulação da literatura na sociedade por dois fatores: a massificação do ensino do 1º grau, na época, e também pela redemocratização que se iniciava. Em comparação aos dias atuais, depois de mais de 30 anos, os antigos problemas continuam, mas também novos apareceram. “Não podemos mais falar apenas no livro e em uma única literatura, assim no singular. Temos ainda uma grande desigualdade social que na década de 80 não aparecia, pois estudavam apenas pessoas de classe média ou alta. Assim, há uma problemática que permanece, mas também novos problemas”, observou. Por fim, Regina também dá ênfase ao preconceito ao se tratar de obras consideradas cânones ou não: “somos uma mescla de tudo o que lemos, isso nos forma como leitores, não apenas os clássicos”, disse ela.
O secretário municipal de Cultura, Pedro Almeida, agradeceu a receptividade dos porto-alegrenses e convidou toda a cidade a participar da programação. “É um momento especial para nossa cidade que comemora 160 anos. Esta Semana mostra as potencialidades de Passo Fundo, principalmente na área cultural. Quando pensamos em fazer este evento com a professora Tania, falando de um tema tão importante, mostramos os diferenciais da nossa cidade, além de agradecer os mais de 30 anos de dedicação da professora Tania, que significa muito para Passo Fundo”, ressaltou.
O evento contou com a presença de alguns dos pesquisadores que contribuíram com o livro, nomes de reconhecimento nacional ao falar em leitura e formação do leitor, como Ana Cláudia Gruszynski, Luís Augusto Fischer e Maria da Glória Bordini, além de Tania e Regina, que também contribuíram com textos. Também participaram do encontro a diretora do Instituto Estadual do Livro (IEL), a a professora e ilustradora Patrícia Langlois, o presidente da Associação Gaúcha de Escritores (Ages), o escritor Christian David, e o membro da Reinações: Confraria da Leitura, o escritor Caio Riter. A Ages e a Confraria foram entidades apoiadoras do evento.
A obra
Com a proposta de ser uma referência em estudos sobre a leitura, “Leitura: história e ensino” busca contribuir com o aprofundamento das reflexões e novas perspectivas na área, valorizando o resgate histórico para o entendimento de mudanças no ato de ler, principalmente entre jovens. As vivências de leituras precisam ser entendidas e estimuladas não apenas em novos suportes, mas também no livro, ao pensar em uma leitura mais profunda e meditativa. Assim, a pesquisa resulta subsídios para explicar os novos modos de ler e escrever e propor novas estratégias de compartilhamento de leitura entre professores e estudantes.
Os autores são: Ana Cláudia Gruszynski, Anne-Marie Chartier, Bethania Mariani, Elias José Torres Feijó, Ezequiel Theodoro da Silva, José Luís Jobim, Luis Augusto Fischer, Márcia Abreu, Maria da Glória Bordini, Marisa Lajolo, Miguel Rettenmaier, Regina Zilberman, Roger Chartier, Sandra Guardini Vasconcelos e Tania Rösing.