Um aperto de mão, um abraço, um sorriso são gestos que fazem bem em todas circunstâncias. Especialmente, quando se é criança e precisa ficar quieto num quarto de hospital. Aí nessa situação, o toque, o olho no olho, a atenção, têm um significado ainda mais especial. As crianças internadas na Pediatria do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo recebem, diariamente, estímulos para brincar e fazer atividades lúdicas no ambiente hospitalar. O sentido desse trabalho desenvolvido pelo Espaço Lúdico e de Atendimento Pedagógico às Crianças Hospitalizadas, projeto realizado em parceria com a Universidade de Passo Fundo (UPF), impacta positivamente na recuperação dos pequenos pacientes. Agora, quando eles são surpreendidos por um voluntário, que veste macacão poa colorido, calça sapato pontudo, coloca um chapéu e um nariz de palhaço, ah o sorriso “corre solto”! E foi assim que crianças e pais receberam no dia 11 de agosto, o Palhaço Amendoim Plantado da Terra. Este é o seu nome completo, mas ele é chamado simplesmente de Amendoim.
A visita inusitada encheu os olhos curiosos de alegria. Em apenas uma hora e pouco, as conversas, as brincadeiras preencheram um espaço grande, que só quem está hospitalizado sabe que o tempo demora a passar. Era Amendoim pra cá, Amendoim pra lá, e os risos soltos davam o tom da magia que envolve a presença de um palhaço dentro de uma unidade de internação infantil.
A enfermeira gestora da Pediatria, Jovânia Besutti dá sempre boas-vindas ao trabalho voluntário. “Gosto bastante quando as pessoas se dispõe a vir na pediatria, trazer motivação, distração para as crianças e os pais. São momentos que fazem bem para o nosso público e também para a equipe que interagiu com o Amendoim”. Jovânia ressalta ainda que os pais precisam de distração, porque o hospital é um ambiente que causa exaustão para eles. Além de cuidarem dos filhos, muitas vezes, eles não recebem boas notícias em relação à saúde das crianças, então a ludicidade propicia um respiro para os pais.
Odila Bianchi, 71 anos, de Marau, vó e mãe adotiva de Emili, 1 ano e 7 meses, quem o diga. Ela respirou leve, deu risada e até falou em italiano com o Amendoim. Com dois meses de internação acompanhando Emili, ela disse que a visita do palhaço foi tão bonita e que ficou feliz por falar italiano. “Me distrai, contei a vida desde criança, quando minha vó veio da Itália. O tempo que eu trabalhava na roça, comíamos polenta, batata, salame, queijo e fomos criados com leite de cabrito”, detalha Odila sorrindo, ao salientar que o contato com o palhaço a fez se sentir para cima.
A magia do Palhaço Amendoim
O Amendoim não é um simples palhaço. Ele é um conquistador de sorrisos, que cativa as pessoas por fazer seu papel com amor e satisfação. Esta história de doação o acompanha desde que era criança. “Sempre gostei de fazer as pessoas rirem e de fazer o bem”, afirma Paulo Ricardo de Oliveira, 48 anos, que trabalha como representante comercial e atua como Palhaço Amendoim desde 2000. Ele morou em Goiânia e levava alegria para pacientes internados no Instituto do Câncer. Mas não é apenas o ambiente hospitalar que serve de picadeiro para Amendoim despertar gargalhadas. “Animo festas de aniversários, asilos, até no Equador já atuei como palhaço”, conta ele, que para se transformar no personagem Amendoim precisa só de um nariz vermelho.
A figura do palhaço não vem pronta. Segundo Oliveira, ela é construída conforme o momento, a expectativa do público. Nesse aspecto Amendoim explica que para uma criança que sente medo, por exemplo, há possibilidades de entrar primeiro só o sapato ou só o nariz, para ir despertando a imaginação, a curiosidade da criança, e assim começa a conquista de seu público.
Na visão de Oliveira, o significado da existência do palhaço é quebrar a rudeza da realidade, tornar a vida mais leve. “Vestir-se de palhaço é viver algo mágico! É um sentimento de muita gratidão quando se está diante de uma criança hospitalizada, especialmente, quando a cativamos e conseguimos interagir com ela. Nos momentos em que peço para ela ser minha auxiliar, percebo a motivação em participar, porque tudo que a criança não quer é ter que ficar quieta”.