No caminho das rotas leitoras

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“Como vai, assustado leitor?”. A pergunta que inaugura as Rotas Leitoras do aplicativo da 16ª Jornada Nacional da Literatura é um resumo dos passos que serão dados logo a frente. Passos - literalmente. O leitor é convidado a sair da zona de conforto e encarar não apenas os textos literários, mas também a cidade em si. É mais uma marca da transformação da Jornada, que tenta se desvincular do âmbito exclusivamente acadêmico. Desta vez, os olhares estão voltados para as ruas e pontos turísticos da cidade - uma Passo Fundo que desperta e é vista por aqueles que aqui habitam.

E é por isso que surgiu o projeto Transversais - Rotas Leitoras. “Temos a ideia de que a cidade é uma coisa só. Acontece que elas são feitas em camadas, setores”, começa o idealizador do percurso e coordenador da 16ª Jornada, Miguel Rettenmaier. Segundo ele, a intenção central das rotas é fazer com que a cidade seja um espaço de trânsito, convivência e discussão sobre literatura. “Estamos acostumados, por várias questões relacionadas a segurança principalmente, a imaginar que a rua é um espaço de trânsito apenas. Passamos com medo que as coisas possam acontecer conosco. Queremos fazer com que a Capital Nacional da Literatura tenha em si toda um aparato de leitura esperando pelo leitor neste movimento”, justificou.

Todos os caminhos da Rota partem da Praça Tamandaré e se desmembram em outros quatro percursos - vinculados as quatro temáticas da Jornada. No fim, as rotas se encontram na Rua Independência, local de encontro nas noites da movimentação literária, que acontece entre os dias 2 e 6 de outubro.

Leitura das obras

Para completar as rotas é, sim, preciso ter lido algumas das obras sugeridas da Jornada. O sugerido, no entanto, é que a pessoa interessada em participar da rota escolha uma das temáticas e leia as obras vinculadas. “Ou seja, se a pessoa se interessa pela temática da rota dos ‘Monstros e outros medos imagináveis’, ela pode fazer somente esta leitura”, explicou Miguel. “É necessário ler os livros, mas as perguntas também podem ser respondidas na medida em que mais de uma pessoa participe da rota. Assim ela pode compartilhar dando a dica para o outro. Isso também é leitura: compartilhar elementos dos livros, informações e interpretações”, completou ele.

Dificuldade em manter os QR Codes

Uma questão particular, no entanto, está atrapalhando no andamento da rota: a retirada de QR Codes. De acordo com o professor Miguel, desde que foram instalados, todos precisaram ser repostos pelo menos duas vezes. “Conseguimos viabilizar tudo, inclusive o patrocínio da BSBios, mas infelizmente o mais importante não conseguimos manter: registramos muitas retiradas das placas com o QR Code pela cidade. Isso tranca a rota e o leitor não consegue seguir em frente na atividade”, contou. Em alguns lugares, segundo ele, a placa não durava mais de duas horas.

A ideia é pioneira em mobilizações do gênero. “Passo Fundo foi pioneiro nesta ação de trazer a rua como espaço de trânsito e leitura”, comentou ele. A iniciativa também está vinculada com o projeto Cidades Educadoras, modelo mundial que visa mudar o entendimento das cidades como espaços de educação permanente.

Jornalização da cidade

As rotas leitoras fazem parte de um processo que busca uma ‘jornalização’ da cidade. Em termos práticos, a intenção é levar a Jornada à comunidade. Este caminho já iniciou-se com as Estações da Leitura, realizadas durante o mês de agosto nas escolas da cidade. “A jornalização é uma maneira de fazer com que a cidade se incorpore ao projeto e vice-versa. De forma mais precisa, quem ajuda e está ajudando a fazer isso é a própria comunidade. O conceito de jornalização não surge sozinho: é criado por todos e todas que se apropriam dele.

Os traços das Rotas Leitoras

1. PONTO INICIAL: Praça Tamandaré

- A escolha do local foi por ser um ponto central e histórico da cidade. A região onde está instalada é considerada o berço da cidade. No início, era conhecida como a Praça da Igreja - fazendo referência a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, inaugurada em 1892. A placa com o QR Code das Rotas está em frente ao monumento em homenagem ao Coronel Gervásio Annes (1920), que foi intendente do município.

2. Teatro Múcio de Castro

- Ponto histórico de Passo Fundo, começou a ser construído em 1883. Abrigou o Poder Judiciário em 1911, as instalações do jornal O Gaúcho e foi local de ensino público para o Colégio Elementar. Mais tarde, de 1940 a 1977, serviu como sede do Legislativo Municipal. A partir dos anos 1990 readequou-se como o Teatro Municipal e tombou-se patrimônio histórico da cidade.

3. Bella Città Shopping

- Ponto de referência de comércio e lazer da cidade. Estrutura foi inaugurada em 1998.

4. Praça Marechal Floriano (Praça da Cuia)

- O QR Code localiza-se em frente do monumento ‘A Cuia’, marco tradicional da cidade. A praça Marechal Floriano, uma das mais antigas da cidade, é conhecida como o coração de Passo Fundo.

5. Clube Comercial

- A placa posicionada em frente ao clube dá início a duas rotas: a primeira, ‘Por elas: a arte canta na igualdade’ e também ‘Centauro, pedra, rosa e estrela’, que lembra os quatro escritores homenageados. O Clube Comercial foi fundado em 1912 por um grupo de comerciantes da cidade.

6. SESC - Serviço Social do Comércio

- A unidade Sesc de Passo Fundo é uma das principais movimentadoras da arte e cultura na cidade.

7. Praça Ernesto Tochetto

- Originada nos anos 1960, a conhecida como Praça Tochetto é um dos principais pontos de encontro da cidade.

8. Praça Antonino Xavier

- Inaugurada no final dos anos 1950, também é conhecida como a ‘Praça do Hospital da Cidade’.

9. Menorah

- Monumento instalado em frente ao Banrisul da Avenida General Netto homenageia a religião judaica em Passo Fundo.

10. Catedral Metropolitana

- O QR Code que abre a rota ‘Literatura e imagem: além dos limites do real’ está em frente da Catedral Nossa Senhora Aparecida, também conhecida como a Catedral Metropolitana. Conhecida por sua arquitetura característica, foi inaugurada em 1950.

11. Bebedouro

- Patrimônio histórico tombado do município. Sua construção se deu pela necessidade de um espaço para tratar os animais. Como na época, o meio de transporte mais comum era o cavalo ou a carroça, os carroceiros levavam seus animais para beberem água no lugar. 

12. Parque da Gare

- Um dos lugares conhecidos pelo início do desenvolvimento da cidade. Com a Estação Férrea desativada nos anos 1980, lugar virou parque público.

13. PONTO DE CHEGADA: Rua Independência

- A Rua Independência é o encontro de todas as rotas. Lá é onde deve acontecer o Caminho das Artes - uma estrutura que será montada na semana da Jornada. O local deve servir como ponto de encontro para a comunidade - incluindo os não participantes do evento.

Entenda o mapa

O mapa é separado por quatro cores que correspondem aos quatro temas centrais da 16ª Jornada. A cor roxa é usada para sinalizar a rota do tema ‘Monstros e outros medos colecionáveis’ enquanto a cor azul representa o tema ‘Literatura e imagem: além dos limites do real’. Já a cor laranja serve como orientação para a rota dos autores homenageados, ‘Centauro, Pedra, Rosa e Estrela’ - Ariano Suassuna, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Moacyr Scliar. Por sim, a cor rosa delimita a rota ‘Por elas: a arte canta na igualdade’.

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