Os fragmentos de Ariano Suassuna

Escritor de muitos gêneros e formatos, Bráulio Tavares afirma que as pessoas conhecem partes da obra de Suassuna

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 Comédia brasileira de grande bilheteria, difícil quem não tenha acompanhado as aventuras de João Grilo (vivido por Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Melo), os nordestinos que aplicavam golpes para sobreviver. O Auto da Compadecida não tem mérito só pelos diversos prêmios que ganhou como filme, mas por seu enredo que foi escrito por Ariano Suassuna. Estudioso e fã do escritor, Bráulio Tavares afirma que a maioria das pessoas conhece fragmentos da obra desse grande escritor brasileiro. “Há quem conheça a fundo seu teatro, sem ter tido contato com sua poesia. Há quem seja aficionado da música armorial, sem jamais ter lido os romances. Há quem conheça as adaptações dos seus textos para tv, mas nunca tenha lido seus artigos em jornais e revistas. A imensa maioria das pessoas conhece um pedacinho de Ariano Suassuna e gosta. E se conhecesse esses outros pedacinhos tão dispersos em várias mídias, em vários canais diferentes, eu acho que gostaria mais ainda”, aponta.

Obra

Nascido em 1927 na Paraíba, Ariano Suassuna foi dramaturgo, poeta, romancista, ensaísta, professor e político. Além de O Auto da Compadecida, o escritor ainda é autor de O Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta e O Romance d’a Pedra do Reino. Mantendo uma ligação com o escritor, o também paraibano Bráulio Tavares escreveu o livro ABC de Ariano Suassuna e fez diversas adaptações de sua obra. A obra de Suassuna inclui prosa, poesia, teatro, ensaio, ensino, entre outros. Taveres, por ter contato com todos os fragmentos da obra de Suassuna, acredita ser este justamente o principal desafio para a divulgação da obra do escritor: “fazer com que todo mundo que gosta de um setor da obra de Ariano, comece a conhecer os outros”.

Vida política

A influência de Ariano na cultura brasileira foi além das artes, ele atuou na política como secretário de Cultura de Pernambuco. Ariano, como Tavares costuma chamá-lo, era amigo de infância do político Miguel Arraes, que foi três vezes governador de Pernambuco e deputado federal. “Arrares era amigo de juventude de Ariano, os dois moravam um de frente para o outro. Tem até uma história muito engraçada de uma das vezes que Arraes foi eleito governador. De manhã cedinho, Ariano foi comprar pão e vinha voltando para casa com o café e lá vinha Arraes com o pão também levando para casa – em um tempo em que o governador comprava o próprio pão do café na padaria. Eles deram um abraço e Arraes disse: Ariano tô pensando em chamar você para a Secretaria de Cultura de Pernambuco. Ele disse: pelo amor de Deus, não me chame não porque eu não sei lidar com dinheiro.  Arraes disse: então você é o homem certo, porque dinheiro é o que não tem”, brinca Bráulio.

Visão clara

Sobre a atuação de Suassuna na política, Tavares mantém a admiração. Para o admirador, a ideologia política surge a partir da visão de mundo. “Primeiro você tem uma visão de mundo. Depois você procura na política os canais nos quais você vê aquela sua visão de mundo mais bem realizada. Eu procuro proceder assim e acredito que Ariano procedia assim também. Ou seja, não é a fidelidade a uma linha partidária específica. Se você se torna fiel a uma linha partidária específica, que está sempre sujeita aos acordos de momento e às crises de momento, acaba tendo que fazer concessões da sua visão de mundo para seguir ao partido”, analisa. Suassuna chegou a ser filiado e concorrer pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Bráulio não acredita que ele tenha sido um sujeito de partidarismo. “Ele tinha visão de mundo, do Brasil. Ele tinha uma visão muito clara do que ele chamava do choque entre o Brasil oficial e o Brasil real. Por essa amizade que ele tinha com Arraes e outros políticos, ele procurava interferir. Mas nunca foi o indivíduo cujo partido dá a ordem e ele abaixa a cabeça. Sempre foi um grande individualista e eu o admirava por isso”, conclui. O escritor morreu no dia 23 de julho de 2014, vítima de AVC.

 Quem é Bráulio Tavares

Assim como Ariano Suassuna, os textos de Bráulio Tavares também caminham pelos gêneros e formatos: romance, poesia, crônica, ensaios, traduções e uma grande paixão: a ficção científica (FC). Começou a ler ficção com 10 anos e nunca mais parou. Quando se mudou para o Rio de Janeiro, teve mais contato com estudos científicos sobre o gênero. Como tem a máxima de só trabalhar com o que gosta, tomou a decisão de mergulhar no mundo da FC. Além dos livros que escreveu, entrou em um grupo de leitores do gênero e passou a desenvolver atividades. Uma delas foi convencer uma editora a publicar uma versão brasileira da Asimov’s Magazine (uma revista sobre FC).  “É meio que um trabalho de fã, porque o fã faz isso, ele fica forçando a editora para publicar o livro que ele gosta para que todo mundo saiba e receba a palavra divina de Asimov e de quem mais for. É um trabalho de crítico porque eu não sou só fã. Há muitas críticas a fazer à ficção científica como um todo e as limitações dos gêneros nos Estados Unidos, no Brasil, uma certa mentalidade que predomina aqui acolá. Eu acho que a melhor maneira de trabalhar um gênero é vê-lo criticamente. Apontar os defeitos e as direções em que ele poderia evoluir”, pondera. Dentro do mundo da ficção científica, Tavares se diz contista e ensaísta. O escritor foi um dos debatedores de ontem (4), trazendo informações sobre Ariano Suassuna para o público da 16ª Jornada Nacional de Literatura.

 

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