Saúde que vem da terra

Estreitar as relações entre o conhecimento científico e o saber popular foi a proposta do seminário sobre plantas bioativas

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Também pode ter planta medicinal no artesanato. A Associação Mariense de Artesãs (AMA) dá exemplosTambém pode ter planta medicinal no artesanato. A Associação Mariense de Artesãs (AMA) dá exemplos
Também pode ter planta medicinal no artesanato. A Associação Mariense de Artesãs (AMA) dá exemplos
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 “A gente vive em uma sociedade que valoriza muito mais o conhecimento técnico-científico e exclui a sabedoria popular”. A frase dita pelo psicólogo e especialista em Saúde da Família, Paulo César dos Santos Braga, resume um dos principais embates da saúde brasileira: a utilização correta das plantas medicinais. O uso frequente está longe de ser segredo: toda família possui a sua tradição cultural de uso de elementos fitoterápicos. Por isso a questão foi discutida nesta semana no 2º Seminário Regional de Plantas Bioativas e Homeopatia popular, desenvolvido pela Emater na Universidade de Passo Fundo (UPF). “Não se pode excluir um ou outro: podemos usufruir os dois, porque ambos são extremamente importantes”, concluiu o psicólogo. “Trabalhei durante muitos anos como farmacêutica, mas sempre pensando na homeopatia. Sofri discriminação? Sim, e principalmente no meio acadêmico”, acrescentou a professora do curso de Farmácia da UPF, Mariza Cervi. Segundo ela, são 252 os componentes da lista de medicamentos essenciais descritos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Destes, 10% são retirados diretamente de plantas, enquanto o restante - produzido sinteticamente - apresenta derivados de moléculas destes seres vivos.

Estreitar as relações entre o conhecimento científico e o saber popular, no entanto, ainda é sinônimo de luta. “Estes remédios industrializados, como os antibióticos e os alopáticos [comprimidos, xaropes, etc], são recentes. Antes deles, só existiam tratamentos com plantas medicinais. Só que se analisarmos hoje, a maioria [70%] dos produtos alopáticos vêm dessas plantas”, explicou a assistente técnica regional social da Emater Passo Fundo, Doriana Miotto. Pelo menos 71 destas plantas já são de interesse do Sistema Único de Saúde (SUS). “É uma forma mais acessível de medicação para a população. Ainda assim, é um grande desafio fazer com que esta prática saia da institucionalização e passe a ser corriqueira nas unidades básicas de saúde. “Existem possibilidades, mas não temos quem assine a prescrição [no SUS]”, completou Mariza. As 71 plantas em questão já foram validadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ainda assim, Doriana acredita que existem muitas mais a serem estudadas. “Sabemos que a população faz uso destas plantas, então a intenção é qualificar isso. Existe muita confusão de plantas: algumas pessoas vão pelo nome popular, então o que é uma planta para um pode não ser a mesma para outro. A mesma coisa com a utilização: o melhor é usar a casca, a folha, a flor? Via chá ou pomada? Cada uma tem a sua particularidade. Temos muito mais que 71 plantas usadas pela população, mas já é um bom começo”, disse ela.

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No SUS
A política nacional implantada pelo Ministério da Saúde já completou 10 anos. Em todo país, no entanto, cerca de 16 mil pessoas foram atendidas com o serviço. O número era ainda menor antes de 2013: até então, apenas seis mil pessoas teriam procurado, nas farmácias da atenção básica, os medicamentos fitoterápicos. Até o ano passado, a iniciativa já se mostrava em mais de três mil unidades farmacêuticas de pelo menos 930 municípios brasileiros. No geral, os insumos devem tratar gastrites, úlceras, problemas ginecológicos, tosses e gripes.

Mil e uma utilidades
Além de agirem como medicamente em si, as plantas medicinais também podem ser utilizadas de outras maneiras. Os exemplos vêm de duas cidades da região: Tapejara e Vila Maria. Em Tapejara, a família Scariot criou o Chá de Brigadeiro. “É a receita do brigadeiro gourmet, com creme de leite, e uma mistura de ervas e chás. Começamos com o brigadeiro comum e fomos incrementando. Hoje vendemos mais estes, com a mistura, que os tradicionais”, contou Amanda Scariot, responsável por expôr os doces na entrada do Seminário da Emater. Já a Associação Mariense de Artesãs (AMA) traz os chás e ervas medicinais como forma de relaxantes, descongestionantes e tonificantes em almofadas personalizadas. Os objetos são pequenos e podem ser colocados dentro da fronha dos travesseiros normais. O cheiro promete acalmar os ânimos e descongestionar as vias nasais de quem sofre de sinusite, por exemplo. Para os agricultores Fábio Pollo e Maria Beatriz Casanova, moradores da linha Nossa Senhora das Graças, de Passo Fundo, as plantas medicinais e temperos de cozinha são exemplo de cultivo prático e fácil. “Qualquer um pode ter em casa. Só recomendamos que as plantas peguem no mínimo 4h de sol todos os dias”, lembrou Maria Beatriz.

 

 

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