Os professores brasileiros ganham mal. A constatação é da pesquisa “Panorama geral da educação 2016” realizada pela OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que aponta que um docente brasileiro recebia em 2014 cerca de U$ 12,2 mil dólares por ano. No mesmo período, em países desenvolvidos como Alemanha e Suiça, por exemplo, os salários ultrapassavam os U$ 45 mil por ano.
Os salários defasados, que se somam aos atrasos de pagamento no caso dos professores da rede estadual e as agressões sofridas em sala de aula acabam por desvalorizar a categoria. No domingo (15), se comemora o Dia do Professor. A data, porém, traz sentimentos antagônicos aos docentes: de um lado a alegria por lembrar a importância da profissão à sociedade, de outro a angústia pelo contexto de descaso em que estão inseridos.
Para refletir os desafios da profissão, o jornal O Nacional entrevistou o professor do Integrado UPF, da rede municipal de ensino de Passo Fundo e presidente do Centro Municipal de Professores de Passo Fundo, Eduardo Albuquerque. Questionado sobre quais são as demandas mais urgentes, o docente brinca que seria necessário realizar um congresso para colocar tudo em pauta.
O primeiro empecilho apontado por ele é a falta de investimentos em educação e no magistério. “O descaso de todos os governos que já tivemos e que estamos tendo em relação às questões da educação. Lidamos com um país que trata muito mal a educação. Temos um projeto de ensino médio que é condenado à falência. Ele já nasceu falido, porque vai contemplar os interesses do mercado financeiro, esquecendo-se da qualidade da escola pública”, analisa.
Aliado a isso, se tem as pressões para cumprimento de exaustivas jornadas, conforme o presidente do CMP. O acúmulo de atividades faz com que os professores tenham que levar trabalho para casa, comprometendo os fins de semana. O que leva ao estresse e ao adoecimento da categoria. “Há também as agressões constantes sofridas pelo magistério que são cometidas por alunos ou pela sociedade”, acrescenta.
Amor pela profissão
Diante das dificuldades, Eduardo Albuquerque garante que não fosse a paixão pela educação, os profissionais não estariam dispostos a passar por essas dificuldades. “Há um mito que se criou que muitos professores estão ou são professores porque não tem outra coisa para fazer. Não é verdade. Eu posso falar pelo magistério municipal e vejo mais de 50% dos professores com pós-graduação. Temos em torno de 200 mestres e em torno de 10 doutores. Isso prova que o nosso magistério está comprometido sim com a nossa carreira. Quem não está comprometido são os governos e alguns setores da sociedade que, não se sabe bem porque, insistem em culpar os professores como se nós fossemos culpados por toda uma crise moral e financeira que se vive nos país”.
O professor parabeniza os colegas e pede união da categoria. “Estamos todos no mesmo barco. Eu gostaria de chamar a todos que se unam em torno de seus pares, em torno de seus sindicatos e fortaleçam as instituições porque essa é a única maneira para que possamos reconstruir a educação. Está em nossas mãos”, pontua.
Debate sobre educação
O professor Eduardo Albuquerque foi um dos participantes do debate “Em defesa da Educação e pela valorização da carreira do magistério”. O encontro, que mobilizou professores da rede pública estadual e municipal, da rede privada, além de alunos e professores dos cursos de licenciatura da Universidade de Passo Fundo (UPF) foi realizado na quarta-feira (11), no ginásio do Colégio Notre Dame. A atividade, promovida pela UPF, por meio da Vice-Reitoria de Graduação (VRGRAD) e da Coordenadoria das Licenciaturas (Coorlicen), e em parceria com o Colégio Notre Dame, integrou a programação da Semana do Dia do Professor, comemorado no domingo, dia 15 de outubro.
Além de Albuquerque, o tema foi debatido pelos professores Claudia Toldo, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Letras da UPF, professora do curso de Letras da UPF e supervisora de Ensino da Rede Notre Dame; Rosimar Esquinsani, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UPF, do curso de Pedagogia da UPF e da rede municipal de Educação de Passo Fundo; e Nei Alberto Pies, professor da rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul e da rede municipal de ensino de Passo Fundo.
Presente no debate, a vice-reitora de Graduação da UPF, professora Rosani Sgari, destacou a importância do tema para a Universidade que tem em sua origem vocacional a formação de professores. “Nós formamos professores, nós temos preocupação com a formação, nós temos preocupação com a carreira do magistério desses professores e nós entendemos que nós devemos falar sobre educação e lutar pela educação”, comentou.
Coordenadora da Coorlicen, a professora Adriana Braganholo explicou o papel da coordenadoria na discussão de diferentes temas, em especial o momento que a educação vive. “Precisamos falar sobre educação, precisamos conversar, mobilizar as pessoas e nós temos muitos desafios pela frente. A Universidade, com seu apoio e parceria com os professores, se coloca junto nesse processo para que nós possamos pensar em uma educação de qualidade”, disse.
Com o tema “Precisamos falar sobre educação”, o debate teve como principal objetivo promover a reflexão acerca do atual cenário da Educação Básica no país. Uma das debatedoras, a professora Claudia Toldo, ressaltou em sua fala como as questões da Base Nacional Comum Curricular e as mudanças no Ensino Médio implicam na vida dos professores, tendo como foco a formação desses professores e as novas demandas que as novas legislações estão exigindo. Na opinião dela, os professores não foram formados para essa realidade de interdisciplinaridade, de projetos interdisciplinares, de itinerários formativos que prevê a nova lei.
“Nós ainda fomos formados nas caixinhas, em que cada professor cuida da sua disciplina, entra na sala de aula e vai embora, com toda a competência, com toda a excelência do seu trabalho docente, mas essa perspectiva de trabalho em equipe, de interdisciplinaridade nós não fomos formados para isso. Portanto, a formação continuada dos professores é de extrema importância para que a gente consiga então nos formar e aprender a fazer para dar conta dessa demanda”, finalizou.
A atividade contou ainda com o apoio de diversos segmentos da UPF, bem como do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers), Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro) e Centro Municipal de Professores de Passo Fundo (CMP).