O silêncio que conta a história

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Mausoléu dos Expedicionários - ou dos Pracinhas - chama a atenção por seus 14 metros de altura. Estrutura foi reformada em 2012Mausoléu dos Expedicionários - ou dos Pracinhas - chama a atenção por seus 14 metros de altura. Estrutura foi reformada em 2012
Mausoléu dos Expedicionários - ou dos Pracinhas - chama a atenção por seus 14 metros de altura. Estrutura foi reformada em 2012
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Mais de 40 túmulos do Cemitério da Vera Cruz têm uma missão em comum: contar um pouco da história de Passo Fundo. Seja por sua arquitetura ou pelos personagens que abrigam, os pontos foram catalogados e podem ser visitados a qualquer momento do ano através de um projeto do curso de História da Universidade de Passo Fundo (UPF). A proposta é que já no próximo ano inicie uma rodada de visitas guiadas com uma equipe do Arquivo Histórico Regional (AHR) e Instituto Histórico de Passo Fundo (IHPF). Por enquanto, um guia de visitação fica disponível para toda a comunidade que tiver interesse em conhecer um pouco da história da cidade e também da região.

“O cemitério é um local que guarda muita história. A nossa proposta é não apenas vê-lo como um local mórbido, de última morada, mas também como um espaço possível de ser estudado. Isso porque a partir dos túmulos podemos entender os períodos, visualizar estilos artísticos e inimigos políticos frente a frente, por exemplo”, explicou um dos membros do projeto, Djiovan Carvalho. O Cemitério da Vera Cruz, que é o mais antigo a nível de instituição municipal da cidade (foi inaugurado em 1902), vem sendo estudado desde 2013. A intenção, no entanto, é que o trabalho abranja também outros cemitérios da cidade, como os distritais. Alguns foram inaugurados ainda no século 19, por exemplo. ‘Se formos analisar a composição do cemitério, podemos refletir muitas coisas. A cidade dos mortos reflete a cidade dos vivos, costumamos dizer. Podemos ver a conjuntura das grandes famílias, refletir sobre a desigualdade social e entender onde estão as pessoas menos favorecidas financeiramente. O cemitério não é apenas mórbido ou triste, em casos de luto. Quando olhamos com o olhar histórico, ele imediatamente se torna um local interessante”, completou Djiovan.

Rota por entre os túmulos

Inimigos frente a frente
Se em vida os políticos Gervásio Annes e Antônio Prestes Guimarães preferiam ficar distantes um do outro, isso não ocorreu depois de suas mortes. Os túmulos do coronel e general, respectivamente, que lutaram em lados contrários na Revolução Federalista (1893-1895), estão muito próximos nos corredores do cemitério: Gervásio Annes fica no corredor G, enquanto Prestes Guimarães está no corredor F, separados por poucos metros de distância. “Eles tiveram muito destaque político no final do século 19 e início do século 20. Foram combatentes de lados contrários: Gervásio era do partido republicano, enquanto Guimarães lutava pelos federalistas. Deputado provincial do Partido Conservador, Gervásio morreu em 1917. Já Guimarães, aclamado general do Exército Libertador, era neto de Cabo Neves, fundador da cidade de Passo Fundo.

A jovem santa de Passo Fundo
O nome “Maria Elizabeth de Oliveira” está escrito na lápide de um dos túmulos mais visitados de Passo Fundo. Nascida em 06 de fevereira de 1951, Maria Elizabeth previu a sua morte: foi vítima de atropelamento aos 14 anos de idade. O número de visitas ao seu túmulo é semelhante ao percentual de pessoas que garantem ter alcançado o objetivo depois da prece feita à menina.

Mausoléu dos Pracinhas
O Mausoléu é visto de longe por quem visita o cemitério: com aproximadamente 14 metros de altura, foi construído para receber os restos mortais do capitão Jovino da Silva Freitas, morto em 1918, aos 41 anos, vítima da gripe espanhola. A construção, no entanto, não agradou a viúva, Juliana de Mello Freitas. “Ela era uma pessoa simples. Quando viu aquela grandiosidade, achou suntuoso demais”, lembrou o filho do casal, que levava o mesmo nome do pai, Jovino da Silva Freitas, em entrevista concedida ao jornal O Nacional em 2012. O médico oftalmologista morreu em maio deste ano, aos 107 anos. Com o descontentamento, o mausoléu foi doado ao Exército Brasileiro. Ali estão enterrados os militares passo-fundenses que lutaram na revolução paulista de 1932.

João de Césaro
O túmulo do construtor e projetista do antigo quartel e do Hospital da Cidade também está no cemitério da Vera Cruz. Além destes dois espaços, João de Césaro também construiu outros prédios imponentes e históricos da cidade, como o Cassino da Maroca, Banco da Província (atual Banco Itaú) e Societá Italiana (atual Clube Caixeral).

 

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