Após um atraso de dois anos, devido à falta de recursos financeiros, o novo Censo Agropecuário está em curso. Passados 11 anos desde a última edição, os trabalhadores temporários devem encontrar, até fevereiro, uma realidade nova no campo. Tecnologia de precisão, aumento da produtividade e internet nas propriedades são alguns itens que já eram previstos pelos especialistas quando o censo foi anunciado.
Para trazer uma prévia dessas novidades, a reportagem de O Nacional acompanhou, durante a manhã de segunda-feira (30), um recenseador, um agente municipal e um supervisor censitário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no trabalho de campo. O destino inicial foi o interior de Santa Marta, no setor 2 – como a área é dividida. Ao total, são 12 setores em Passo Fundo. Na primeira residência, a coleta teve de ser adiada já que o responsável pela propriedade não estava presente.
A recenseadora Davina Linhares Alencar, que conduziria as perguntas, comenta que é comum ir até o local e perder a viagem. A indisponibilidade dos proprietários acaba dificultando e atrasando o trabalho. Cada recenseador é responsável pelo seu meio de transporte, de modo que o Instituto só disponibiliza o carro em ocasiões especiais. Além da falta de veículo, o total de funcionários também é menor em função do orçamento apertado para elaboração da pesquisa, conforme o coordenador da agência do IBGE de Passo Fundo, Jorge Bilhar. O que não altera a qualidade da pesquisa, cujas perguntas já vêm definidas pelo Instituto.
Estima-se que cada funcionário precisa visitar quatro estabelecimentos por dia para finalizar o trabalho nos cinco meses. Há um mês em coleta no município, dos mais de 800 estabelecimentos cadastrados no sistema do IBGE, cerca de 70 haviam sido visitados pelos recenseadores até o início da semana. Jorge Bilhar informa que, apesar de já ter passado o período de treinamento, os funcionários ainda estão em fase adaptação e que alguns empecilhos podem acontecer. Um desses empecilhos é quando o funcionário passa no concurso, mas não tem conhecimento prévio do campo e acaba não se adaptando ao trabalho. Com isso, muitas vezes, a pessoa desiste e o Instituto precisa treinar outra.
“A partir de novembro ou janeiro a produtividade teria que aumentar como em muitos municípios, cuja coleta de informações já está adiantada. Por enquanto não podemos nos precipitar quanto a isso, pois o processo está andando normalmente”, pontua Bilhar. Questionados sobre o não cumprimento do prazo, os agentes, que supervisionam o trabalho dos recenseadores, afirmaram que, em últimos casos, seria realizado um mutirão para finalizar as coletas. “O nosso contrato ele se estende mais, porque a gente revisa cada questionário que os recenseadores fazem. Para ver se não foge ao padrão. Então eles terminam em cinco meses e a gente continua porque com certeza não há como fazer nesse período as correções. São muitos estabelecimentos, então são muitos questionários”, informa Flávia Troglio, agente censitária municipal.
As entrevistas levam de 30 minutos até uma hora, em virtude da minuciosidade do questionário. As coletas são divididas entre as simples – que são efetuadas pelos recenseadores – e as especiais. Estas, só os agentes censitários podem fazer, porque envolvem estabelecimentos maiores e são mais complexas, conforme explica o supervisor censitário Guilherme Rodrigues da Cruz.
O segundo estabelecimento visitado foi de sucesso. O questionário, aplicado por Davina, foi respondido pelo filho dos proprietários, em uma sala de escritório com um computador a sua frente. A entrevista durou em torno de 40 minutos. O setor que a recenseadora visitada no dia 30 de outubro, já era o seu segundo. Até a data, a concursada já havia visitado mais de 30 estabelecimentos. Além de Davina, outros dois recenseadores trabalham nos 12 setores (áreas) de Passo Fundo.
Algumas das previsões dos especialistas já se confirmam. O acesso à internet já se transformou em algo corriqueiro nas propriedades rurais e deverá ser a grande novidade da pesquisa, conforme Bilhar. Tal realidade também foi sentida na terceira propriedade visitada, na comunidade de São Roque, que não era uma coleta simples como as demais. Tratava-se de um aviário que entrega frangos à JBS e a entrevista foi conduzida por Guilherme da Cruz e Flávia Troglio. Para buscar informações a respeito da agropecuária, o produtor informou aos agentes que utiliza a internet como principal meio.
“A grande novidade que o censo vai revelar é a questão da tecnologia. Tanto nos equipamentos para produzir na área rural – a tecnologia que antes atingia as grandes propriedades e hoje temos equipamentos para pequena, média e grande propriedades – e os meios de comunicação. Dificilmente não se tem telefone, internet no interior. Os produtores estão mais informados”, analisa Bilhar.
Perspectivas
Além do acesso à internet e a adesão aos aparelhos digitais, há um tendência de redução das propriedades agropecuárias em Passo Fundo. Conforme Bilhar, o novo Censo busca saber se permanecerão os mais de 800 estabelecimentos, que foram encontrados em 2006, se reduzirão ou se aumentarão. “Em Passo Fundo a tendência é reduzir. Em função da expansão do perímetro urbano que está avançando na área rural. Também a grande mobilidade do homem do campo que hoje está voltando à cidade e o grande número de chácaras de lazer que não é considerada propriedade produtiva. Ainda temos grandes dificuldades na acessibilidade nas estradas e infraestrutura para escoamento da produção. Que está motivando a saída do campo”, observa o coordenador da agência IBGE.
Jorge Bilhar lembra que o êxodo rural não é só do jovem, mas de faixas etárias diversas, uma vez que o centro urbano proporciona acesso facilitado a serviços de saúde, educação, mobilidade e, por consequência, qualidade de vida. Um incremento nas propriedades, em função da horticultura, também poderá ser notado na pesquisa. “Hoje há feiras do produtor, as mudanças que ocorreram no campo em função do aproveitamento dos produtos orgânicos que está sendo posto ao consumidor em nível de município”, pontua.
Importância do Censo Agropecuário
Jorge Bilhar faz um pedido aos proprietários de estabelecimentos agropecuários para que facilitem o trabalho dos recenseadores e tentem responder o questionário com o máximo de precisão possível. Para que, por meio desses dados, seja possível elaborar as estatísticas sobre o cenário do setor primário na região. Além disso, com base nestas informações, são elaboradas as políticas públicas nos municípios.
“O censo não é só do IBGE e também não é só do governo. É da sociedade e do cidadão. Hoje tudo que tiver que fazer quando se fala em investimento, em acessibilidade, produtividade, inovações, a base das informações está nessas pesquisas”, finaliza.
O produtor pode identificar o recenseador pelo crachá, colete e boné do IBGE. Em caso de desconfiança, o produtor pode entrar em contato com a agência do Instituto pelo telefone 54 3313-2803.
IBGE de Passo Fundo
A Agência do IBGE em Passo Fundo tem, sob sua jurisdição, 26 municípios. São eles: Camargo, Casca, Ciríaco, Coxilha, David Canabarro, Ernestina, Fontoura Xavier, Gentil, Ibirapuitã, Marau, Mato Castelhano, Mormaço, Muliterno, Nicolau Vergueiro, Passo Fundo, Pontão, Pouso Novo, Santo Antônio do Palma, São Domingos do Sul, São José do Herval, Sertão, Soledade, Tio Hugo, Vanini, Victor Graeff e Vila Maria. Nesta região, são 53 recenseadores e 19 funcionários entre agente censitário, agente municipal (responsável pela parte técnica), agente supervisor (coordena os recenseador) e agente censitário regional (responsável pela área de trabalho de vários municípios –subáreas de Marau, Passo Fundo e Soledade).
Sobre o Censo
O Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola 2017 é a principal e mais completa investigação estatística e territorial sobre a produção agropecuária do país, que mobiliza milhares de pessoas desde a fase de seu planejamento até a divulgação dos resultados. O Censo Agropecuário tem a coleta de dados executada de outubro de 2017 a fevereiro de 2018, adotando-se como referência o período de 1º de outubro de 2016 a 30 de setembro de 2017, ao qual deverão estar relacionados os dados sobre a propriedade, produção, área, pessoal ocupado, etc. A data de referência adotada para a pesquisa é 30 de setembro de 2017, à qual estarão referidas as informações sobre estoques, efetivos da pecuária, da lavoura permanente e da silvicultura, entre outras totalizações.
Após aplicados todos os questionários do Censo Agro 2017, os resultados serão apurados e então divulgados. A divulgação preliminar deve ser iniciada já no primeiro semestre de 2018 e até o final do segundo semestre devem estar publicados todos os produtos que irão compilar os resultados da operação censitária.
O questionário
De modo a cumprir o planejamento e alcançar os objetivos da pesquisa, o questionário foi elaborado considerando-se como referência o questionário do Censo anterior (2006) e o conteúdo conceitual amparado pelas avaliações técnicas geradas nos diversos fóruns participantes do planejamento da operação, em especial, o Comitê do Censo Agropecuário (interno) e o Fórum de Especialistas e Usuários dos Dados do Censo Agropecuário.
O questionário está dividido em 41 quadros, abrangendo os seguintes temas:
01 - Identificação do Estabelecimento Agropecuário e Área Total
02 - Identificação e Características do Estabelecimento Agropecuário e do Produtor
03 - Distribuição da Área Total do Estabelecimento, segundo a Condição Legal das Terras na Data de Referência
04 - Distribuição da Área Total do Estabelecimento, segundo a Utilização das Terras na Data de Referência
05 - Características do Estabelecimento Agropecuário
06 - Unidades Armazenadoras de Grãos existentes no Estabelecimento na Data de Referência
07 - Tratores, Implementos, Máquinas, Veículos e Aeronaves existentes no Estabelecimento na Data de Referência
08 - Produtor e pessoas com laços de parentesco com ele, trabalhadores permanentes e temporários que trabalharam no estabelecimento no período de referência, por dias trabalhados, além da contratação de serviços por meio de terceiros
09 - Produtor e pessoas com laços de parentesco com ele, trabalhadores permanentes, temporários e parceiros que trabalhavam no estabelecimento na data de referência
10 - Atividades da Pecuária desenvolvidas no Estabelecimento no Período de Referência, Controle de Doenças nos Animais e Suplementação Alimentar
11 a 27 - Bovinos: bois e vacas; Bubalinos: búfalos e búfalas; Equinos: cavalos e éguas; Asininos: jumentos e jumentas; Muares: burros e mulas; Suínos: porcos e porcas; Caprinos: bodes e cabras; Ovinos: carneiros e ovelhas; Galinhas, Galos, Frangas, Frangos e Pintos; Codornas; Outras Aves; Coelhos; Criação de Abelhas; Criação de Peixes, Camarões e Moluscos; Ranicultura: rãs; Sericicultura: bicho-da-seda; Pesca, Apanha ou Captura de Moluscos e Crustáceos
28 - Atividades da Produção Vegetal desenvolvidas no Estabelecimento no Período de Referência
29 - Lavoura Temporária
30 - Lavoura Permanente
31 - Horticultura
32 - Extração Vegetal
33 - Floricultura
34 - Efetivos da Silvicultura
35 - Produtos da Silvicultura
36 - Agroindústria Rural
37 - Outras Receitas do Estabelecimento e Outras Rendas do Produtor
38 - Financiamentos, Empréstimos e Garantia de Preços
39 - Despesas
40 - Autenticação
41 – Observações