A Ambev fomentou, em 2017, 72 mil hectares de cevada nos estados do Rio Grande do Sul e do Paraná. Na região, perdas já foram registradas e a Ambev busca auxiliar os produtores integrados a fim de minimizar as perdas. Além disso, a empresa busca estimular a qualificação do cultivo, para que os produtores tenham o domínio da cultura. Em entrevista, o diretor agroindustrial da Ambev, Marcelo Coelho Otto, fala sobre o programa de fomento e também sobre a atuação da empresa. Confira:
ON: Nesta safra, qual a área de cevada fomentada pela Ambev?
Marcelo Coelho Otto: A área de plantio dos produtores do programa de fomento da Ambev (2 mil agricultores do Rio Grande do Sul e do Paraná) foi de 72 mil hectares em 2017, um aumento de 28,5% em relação a 2016. Por isso, o volume de produção do grão será maior do que no último ano, quando tivemos uma safra recorde. A abertura regional dos dados não é algo que achamos relevante ressaltar, pois nossa estratégia é sempre ter as variedades corretas, nas regiões corretas, sendo cultivadas pelos produtores corretos.
ON: Da parte já colhida, qual a quebra na qualidade registrada?
Otto: Como tivemos um inverno instável, com períodos de seca e temperatura mais alta do que no ano anterior, a produtividade e a qualidade do grão não devem se repetir. No entanto, ainda não é possível mensurar a quebra. Quanto à qualidade, vale ressaltar que a cevada nacional vem numa crescente que impressiona. Não somente pelo potencial de rendimento verificado no último ano, mas também pelas propriedades malteiras, que apresentam alta qualidade. No país, temos características desejadas para obtenção de um bom malte e, consequentemente, uma boa cerveja. Atualmente, temos cultivares disponíveis no Brasil e que são amplamente utilizadas no Rio Grande do Sul, que nada deixam a desejar quando comparadas aos materiais importados.
ON: Com relação aos contratos firmados com os agricultores, o que acontece quando eles não podem oferecer à empresa um grão com a qualidade adequada para malteação?
Otto: Além de receber subsídios para a compra de sementes e insumos e auxílio técnico, os produtores parceiros da Ambev recebem uma garantia de preço à cevada. Com isso, ficam protegidos contra flutuações internacionais do valor do grão, já que os preços pagos na colheita são acertados antes do plantio. Quando a cevada cultivada não tem a qualidade necessária para a produção de cerveja, a companhia ajuda o agricultor a revender a safra para outras indústrias, como a de alimentação animal.
Em relação às sementes, a Ambev subsidiou parte do valor das sementes para que os produtores também reduzam custos e, consequentemente, tenham mais lucro. A empresa também disponibiliza uma série de programas de assessoramento, que buscam aproximar o conhecimento técnico da própria companhia com a comunidade agrícola, alavancando melhores resultados de rendimento e qualidade.
Além das vantagens econômicas, o cultivo da cevada no inverno apresenta vantagens para os produtores que optam pela soja como cultura de verão, já que apresenta ganhos com relação à rotação de culturas e proporciona melhores condições de solo para o cultivo da soja no verão. A cevada também apresenta mais resistência à geada em relação a outras culturas de inverno.
ON: A unidade da Ambev em Passo Fundo precisará trazer cevada de outras regiões, ou mesmo importar matéria-prima?
Otto: Como a produção de cevada do Brasil ainda não é autossuficiente, temos de importar cevada todos os anos. Estamos trabalhando para que, a longo prazo, o país alcance a autossuficiência na produção, com o programa de fomento da Ambev. Ao oferecer vantagens econômicas e auxílio técnico aos produtores, a empresa vem trabalhando para ampliar a área cultivada com o cereal no Rio Grande do Sul. Como a cevada apresenta mais resistência à geada em relação a outras culturas de inverno e é favorecida por um clima seco e de frio constante, uma das metas da companhia é intensificar o cultivo do grão na região dos campos do Campos de Cima da Serra, também chamada de Campos de Vacaria.
ON: A região tem oferecido matéria-prima para atender a demanda de malteação da unidade? Como isso está evoluindo?
Otto: Desde o início do projeto de ter uma maltaria em Passo Fundo, nossa estratégia é buscar a disponibilidade de cevada de alta qualidade na região Sul do Brasil, de forma balanceada e equilibrada, visando sustentabilidade da cadeia e melhores resultados para a Ambev e para o produtor rural. Como mencionado anteriormente, em termos gerais, temos de importar cevada todos os anos, mas estamos trabalhando para que o país alcance a autossuficiência na produção, com o programa de fomento.
Há mais de 30 anos, a Ambev mantém uma parceria de pesquisa de novas cultivares com a Embrapa. Como fruto dessa parceria, nos últimos anos, desenvolvemos e testamos sete cultivares novos de cevada, além de oito próprios. Por ano, em média, dois novos grãos são testados no campo. Na maltaria de Passo Fundo, temos uma área de pesquisa de novos materiais, onde nossos agrônomos e pesquisadores estudam novos grãos de cevada, métodos de plantio e cultivo, buscando sempre as melhores práticas para a cevada que plantamos e colhemos.
ON: Qual a orientação repassada aos produtores neste final de ciclo da cultura?
Otto: Para as lavouras atingindo o período final do ciclo, a orientação é que os produtores monitorem a presença de pragas e doenças. Além disso, que eles também respeitem o ciclo da cultura, e não só maturidade fisiológica, atingindo menores índices de umidade. Isso permitiria uma colheita mais eficiente e menores riscos pós-colheita.