Desde que viu seu nome na lista de aprovados do vestibular de verão, a estudante Ana Carolina do Amarante pôde respirar mais aliviada. Ela está entre os tantos alunos que foram afetados pela greve do magistério, que está prestes a completar 90 dias. Durante mais de dois meses, foram dias de angústia pelas aulas perdidas e a ideia de não conseguir ingressar no ensino superior.
Já matriculada para cursar Direito no primeiro semestre do ano que vem, a preocupação da estudante agora é conseguir concluir o Ensino Médio a tempo. Ana Carolina enfrentou um problema de compatibilidade de horas. Por orientação da Secretaria de Educação (Seduc), a partir do dia 24 de outubro, a 7ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) começou o remanejo dos alunos dos nonos anos do Ensino Fundamental e dos terceiros anos do Médio para escolas que não estavam em greve.
Acontece que muitos alunos foram recolocados em escolas que haviam retornado anteriormente da paralisação e já tinham estabelecido seu calendário de recuperação de aulas. Foi o que aconteceu com Ana Carolina. Ela estudava na escola Nicolau de Araújo Vergueiro (Eenav) e foi transferida para a Mário Quintana, que havia permanecido em torno de 20 dias paralisada. A estudante precisava recuperar 42 dias de aula para fechar sua carga horária, um tempo maior do que o calendário previsto na Mário Quintana.
?EURoeEles disseram que iriam compensar apenas os dias que eles ficaram em greve. A carga horária não ia fechar?EUR?, explica. Devido a essa divergência, após duas semanas, a aluna pediu transferência novamente para o Eenav. Outros alunos da turma da estudante, porém, permaneceram na escola Mário Quintana.
Questionado sobre esse cálculo matemático que não fecha, o coordenador da 7ª CRE Elton de Marchi informou que o órgão possui um controle sobre a situação de cada escola. ?EURoeTem que dar um jeito de recuperar as aulas dela [Ana Carolina]. A escola vai ter que fazer uma gestão para recuperar as aulas desses alunos. Tem que recuperar, não tem como deixar em branco?EUR?, enfatizou o coordenador.
Com o retorno ao Eenav, a carga horária da estudante fechará no dia 5 de fevereiro. As aulas na faculdade começam no dia 20 de fevereiro, mas os alunos têm prazo até março para entregar o histórico escolar na instituição. ?EURoeEu espero que o documento fique pronto até em março?EUR?, finaliza.
Greve persiste
Na última sexta-feira (24), os professores do Cpers/Sindicato deliberaram pela continuidade da greve. A Assembleia Geral foi no Gigantinho, em Porto Alegre. A categoria está dividida. Pela manhã, o Conselho Geral da entidade havia votado, por ampla maioria, pela suspensão da paralisação. Durante a Assembleia, dos 1.620 votantes, 838 votaram a favor da continuação da greve e 782 pela suspensão.
Na ocasião, a categoria também aprovou um calendário de mobilizações pelo Estado. ?EURoeSabemos quando a greve tem força para avançar ou não, todo o cenário atual foi exposto à categoria para que tomassem a decisão e, democraticamente, definiram pela continuidade. Agora, temos um forte calendário de lutas para colocar em prática e fortalecer o nosso movimento?EUR?, afirmou a presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer.
De acordo com o último boletim de greve da 7ª CRE, em Passo Fundo são quatro escolas paralisadas parcialmente. Não há nenhuma escola totalmente em greve. Na região também não há escolas aderindo ao movimento, conforme de Marchi.
O diretor do 7º Núcleo do Cpers/Sindicato professor Orlando Marcelino afirma a greve se mantem na região, ainda que reduzida. São em torno de 60 educadores paralisados, segundo contagem do sindicato. A greve, que é uma das mais longas da categoria, está longe de chegar ao fim, conforme o professor. ?EURoeO governo do Sartori só nos dá mais motivos para continuarmos em greve, como, por exemplo, ter encaminhado à Assembleia Legislativa o pacote de ajuste fiscal?EUR?, pontua.
A categoria estará mobilizada durante a semana para protestar contra o pacote do governo gaúcho. Os esforços também estão voltados na Reforma da Previdência, que tramita na Câmara dos Deputados, cuja pauta os professores não apoiam. Uma greve geral contra o projeto que altera a Previdência Social está prevista para o dia 5 de dezembro.
Carga horária de alunos remanejados não fecha
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