Vidas transformadas em busca de um caminho de sonhos

Projeto completa dez anos e oferece novas perspectivas para crianças e jovens, além de proporcionar inúmeros benefícios ao meio ambiente

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Projeto oferece oficinas de capoeira, dança, percussão, inclusão digital e reforço escolarProjeto oferece oficinas de capoeira, dança, percussão, inclusão digital e reforço escolar
Projeto oferece oficinas de capoeira, dança, percussão, inclusão digital e reforço escolar
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Você já parou para pensar quanta coisa pode mudar em dez anos? Se estiver perto de uma janela e olhar para fora verá quantas novas construções se ergueram, como os modelos de carro evoluíram, como as roupas das pessoas mudaram. No seu bolso, em cima da mesa, ou mesmo na sua mão dá pra ver como a tecnologia evoluiu até chegar aos smartphones atuais, por exemplo. Mas e na vida de uma pessoa, quanta transformação pode ocorrer em uma década? E se essa mesma década for contada entre os cinco e os 15 anos? Talvez a gente não se dê conta, mas o que acontece nesse período pode mudar de forma determinante o futuro de alguém. E é justamente isso que o Projeto TransformAção faz há dez anos: ele muda o futuro das pessoas.
Em 2007, o local onde hoje funciona a sede do projeto, na Vila Popular, ainda não tinha a importância que tem hoje. Mesmo assim, muitas situações vivenciadas por aquela comunidade como a pobreza, a violência e o tráfico de drogas, por exemplo, ainda permanecem. Em um cenário como este não é difícil imaginar que as crianças que ali crescerem não terão um futuro muito diferente. Mas a verdade é que elas podem e o projeto que há dez anos trabalha em diferentes áreas tem mostrado isso. Crianças que poderiam ter sido incluídas no tráfico, mas que cresceram no projeto, hoje percebem que a vida pode ser feita de sonhos e da luta por objetivos.
O projeto mudou a minha vida
A frase não é de apenas uma pessoa, mas repetida frequentemente por jovens que foram atendidos pelo TransformAção. Paloma Gonçalves da Luz entrou no projeto quando tinha por volta de 12 anos. Hoje, com 18, ela não pestaneja para repetir a afirmação. “Antes a gente ficava em casa ou na rua. No projeto a gente recebia a ajuda de muitas pessoas, se ocupava e se sentia feliz. Aqui aprendi o respeito, a ser uma pessoa melhor. Eu achava que eu nunca conseguiria trabalhar e eu consegui um emprego em um hospital, como eu queria”, relata. Hoje ela trabalha no Hospital de Olhos e está em licença maternidade. Mas já sabe aonde quer chegar. Ela pretende finalizar o ensino médio e ingressar em um curso de enfermagem. O desejo, ela conta, surgiu quando uma das irmãs ficou doente e ela auxiliava a mãe nos cuidados.
Assim como ela viu a própria vida se transformar, também viu a vida de muitos amigos e conhecidos tomarem caminhos bem diferentes. O envolvimento com drogas e a violência, por exemplo, levou muitos deles para a prisão. “O projeto me ajudou a ser melhor em tudo”, reforça lembrando que aprendeu a ter mais paciência. Hoje, no trabalho como recepcionista, o ensinamento de se colocar no lugar do outro é fundamental para que ela possa desempenhar a atividade. “Eu tenho que tentar ajudar a mudar”, pontua.
Menores aprendizes
Luis Eduardo ainda está no projeto. Com 14 anos, ele participa desde os cinco das atividades e, em breve, será encaminhado para o programa Menor Aprendiz, vaga a qual a irmã Ines Sartori, que é responsável pelo TranformAção em Arte, o está ajudando a encontrar. “Aprendi a nunca desistir das coisas e que é preciso batalhar”, conta. Ele lembra que sem o projeto ele ficaria em casa sem nada para fazer e também não teria aprendido muitas coisas. Além disso, as amizades feitas no projeto e as atividades de reforço também o auxiliaram na escola. O irmão Moacir Filipin, também coordenador, explica que em conversas com professores das crianças atendidas já houveram vários relatos da melhora no desempenho escolar após a participação no projeto.
Os menores também entendem a importância que o projeto tem na vida deles. “A gente brinca, estuda, aprende a fazer tudo de bom”, resume Weslei da Luz de apenas oito anos. Dentre as atividades preferidas estão o estudo e as atividades de inclusão digital que contam com equipamentos como tablets e computadores e também a oficina de pintura.
Atualmente, o projeto TransformAção em Arte atende cerca de 60 crianças e proporciona atividades voltadas principalmente à formação e educação. Entre as atividades oferecidas estão as oficinas de capoeira, dança, percussão, inclusão digital e reforço escolar. O projeto, através da conscientização, também busca evitar diversos problemas sociais. O Projeto conta com a colaboração financeira de pessoas físicas e jurídicas, através de boletos e projetos específicos. É possível se tornar um colaborador. Para receber as orientações, basta entrar em contato pelos telefones 54 3045 1262 ou 54 99983 7124.
Encaminhamento ao mercado de trabalho
Até hoje, 34 jovens foram encaminhados para o mercado de trabalho por meio de programas como o Menor Aprendiz. Além disso, pelo menos mais quatro estão em busca de inserção. Tanto os coordenadores, quanto os jovens participantes do projeto têm o entendimento de que mesmo com as condições e conhecimento proporcionados pelo TransformAção, a atitude dos jovens é fundamental para que eles possam desenhar o próprio futuro. O projeto não tem caráter assistencialista, mas sim de promover que cada uma das crianças e famílias atendidas tenha condições de “caminhar com as próprias pernas”, como define a irmã Inês para demonstrar como é estimulada a autonomia dos indivíduos atendidos.
A ajuda é fundamental
Além das oficinas, o projeto beneficia as famílias, quando elas necessitam, com roupas e alimentos que são recebidos de doações da comunidade. A ajuda é fundamental para que as atividades sejam mantidas. A irmã explica que, por isso, é necessário que as pessoas que querem colaborar realmente doem roupas e objetos em condições de uso. Assim como alimentos que estejam próprios para o consumo.
Um problema enfrentado pelas cooperativas de recicladores atendidas pelo TransformAção é a incorreta separação do que é lixo daquilo que pode ser reciclado e que é fonte de renda para muitas famílias. Quando as pessoas não separam os resíduos adequadamente em suas casas acabam prejudicando o trabalho de muitas pessoas que têm seu sustento na venda de materiais recicláveis. A irmã e o irmão enfatizam que é necessário que as pessoas criem a consciência de que cuidar do meio ambiente é também cuidar de si e, a partir disso compreendam a importância da correta separação e também do trabalho de quem separa e encaminha os materiais para serem reciclados.
Quando os materiais que podem ser reciclados não são separados corretamente, eles geram custos ao poder público para sua destinação. Anualmente, milhões de reais são gastos com a destinação dos resíduos colocados fora sem a correta separação. Dinheiro esse que poderia ser usado em outras áreas, como a educação, por exemplo.
O projeto TransformAção trabalha com quatro cooperativas de recicladores do município de Passo Fundo. Conforme dados apontados no livro que conta a história dos dez anos do projeto, no município são produzidas aproximadamente 150 toneladas de lixo por dia. Deste total, apenas 2% passam por processo de triagem, reciclagem e destino para reaproveitamento. O número demonstra a importância do trabalho dos cooperados e, principalmente, a necessidade de ampliar as ações de conscientização e também de encaminhar materiais para serem reciclados.

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