A carne suína é uma das mais consumidas no mundo e o Brasil é o 4º maior produtor e exportador do produto. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o consumo per capita de carne suína no Brasil ainda é relativamente baixo comparado com países como Estados Unidos, China e diversos países europeus, o que motiva a expansão da suinocultura e a implantação de novas tecnologias relacionadas ao manejo, à alimentação e à sanidade, visando criar suínos em menos tempo e com melhor qualidade de carne. Na Universidade de Passo Fundo (UPF), pesquisadores vinculados ao curso de Medicina Veterinária e ao Programa de Pós-Graduação em Bioexperimentação estão engajados nesse processo, principalmente na área de Sanidade Animal. Uma das principais pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Microbiologia e Imunologia Avançada diz respeito ao desenvolvimento de vacinas que vão combater determinadas bactérias, evitando doenças e qualificando a carne.
Na suinocultura, uma das medidas mais efetivas para evitar as doenças infectocontagiosas é a vacinação dos leitões. Pensando nisso, os pesquisadores da UPF estão desenvolvendo vacinas para a doença de Glässer, que se caracteriza por poliserosites (inflamação crônica das membranas serosas que envolvem alguns órgãos como o coração e o pulmão), broncopneumonias e atraso no desenvolvimento.
Ao longo dos dois últimos anos, foram desenvolvidos diversos antígenos no Laboratório de Microbiologia e Imunologia Avançada que foram avaliados em leitões na unidade experimental de vacinas do Cepagro. Um dos estudos mais recentes foi conduzido pelo então mestrando João Antônio Guizzo, sob orientação do professor Dr. Rafael Frandoloso, e faz parte do projeto denominado “Profilaxia e diagnóstico de infecções e contaminações de carnes como estratégia para aumentar a segurança alimentar”, financiado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT) do estado do Rio Grande do Sul e coordenado pelo professor Dr. Luiz Carlos Kreutz. O estudo também conta com a participação de pesquisadores da Universidade de Calgary, no Canadá, onde atualmente o professor Frandoloso realiza estágio pós-doutoral.
A vacina atua contra uma bactéria denominada de Haemophilus parasuis, responsável pela doença de Glässer. De acordo com o professor Kreutz, os leitões se infectam ainda na maternidade em contato com a porca, que muitas vezes é portadora assintomática da bactéria. “Quando os leitões são desmamados e entram na creche, ocorre mistura de leitegadas, o que facilita a disseminação do patógeno entre os leitões no mesmo ambiente. Além disso, as alterações na ambiência, disputas por hierarquia e estresse gerado nesse período reduzem as defesas imunológicas, tornando os leitões mais suscetíveis às infecções”, explica.
Da pesquisa ao encontro com os produtores
O estudo identificou antígenos importantes com alto potencial de proteção contra a bactéria. Para que os resultados possam chegar até os produtores, os pesquisadores realizaram, no dia 28 de novembro, um evento junto à Associação de Criadores de Suínos do Estado do Rio Grande do Sul de Sarandi (ACSURS-Sarandi) para apresentar os dados e selecionar granjas para o fornecimento gratuito da vacina experimental.
Essa é a segunda reunião com os produtores. Segundo Kreutz, a primeira reunião foi realizada em 2016 para apresentação do projeto e, agora, os produtores já receberam orientações e em breve terão acesso às vacinas para os testes. “O contato com os produtores e médicos-veterinários especialistas em suínos sempre agrega muito ao nosso trabalho, pois recebemos um importante feedback em tempo real dos principais desafios vivenciados pelos produtores de suínos da região e podemos, por meio dos nossos estudos e projetos, contribuir de forma pontual e precisa na solução desses problemas”, destaca.
Na reunião com os produtores, Kreutz apresentou uma síntese de todos os resultados já obtidos durante o desenvolvimento do projeto, que não se limita a suínos, mas engloba também o desenvolvimento de métodos de diagnóstico molecular para detectar patógenos em carnes, desenvolvimento de vacinas para peixes e oferecimento de cursos de treinamento em diagnóstico para profissionais do setor da indústria e fomento. Após, o médico-veterinário João Antônio Guizzo, que conduziu boa parte dos experimentos e já concluiu o curso de mestrado, apresentou e discutiu o estudo com os veterinários e suinocultores.
Para o coordenador do projeto, existe um grande interesse por parte dos produtores. “O interesse dos técnicos e produtores é enorme, pois detemos a tecnologia e o conhecimento para apresentar soluções para diversos problemas da suinocultura. A expectativa é fornecer pelo menos mil doses das vacinas a partir de janeiro de 2018 e acompanhar os suínos vacinados ao longo dos primeiros meses do ano”, ressaltou, lembrando que, assim, será possível saber se a eficácia da vacina em leitões a campo será tão promissora quanto foi nos testes realizados na UPF.
Vacinação de suínos é o caminho para ampliação do mercado
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