Já está valendo: em seis meses Passo Fundo passará a contar com um inventário arbóreo. A lei, publicada no fim de semana, institui a catalogação de todas as espécies de árvores existentes no município. Para o Conselho Municipal de Arborização Urbana (Comau), a medida não apenas favorece como é essencial à cidade. De acordo com o conselheiro e ex-presidente da entidade, o engenheiro agrônomo Reni Rui Tres, a luta pela instituição do inventário já é antiga. “Só em cima disso que poderemos tratar toda a política de área verde do município”, explica ele. Isso porque hoje não existem estimativas que possam computar todo o volume de espécies existentes na cidade, o que implica no corte ou plantio muitas vezes irregular de árvores em locais inapropriados.
“Não se pode projetar nada sem ter uma base do que já existe no lugar. E não temos dado nenhum sobre isso na cidade. Não temos sequer a área exata da cobertura florestal arbórea na cidade. Ou seja: não sabemos quantas espécies existem, em quantas são. Passo Fundo tem inclusive uma série de árvores exóticas plantadas em calçadas que não deveriam estar nestes lugares. Este é o momento de colocarmos estas questões em pratos limpos”, explicou o conselheiro. O inventário também deverá servir para que a cidade possa contemplar as espécies existentes na Mata Atlântica, da qual a região faz parte: segundo ele, não há como saber se estamos cumprindo a legislação nacional que trata de preservar a Mata Atlântica adequadamente.
O Comau participou da criação do projeto protocolado na Câmara pelo vereador Saul Spinelli (PSB). A partir da publicação, a lei tem seis meses para ser regulamentada. Neste período, audiências públicas deverão ser realizadas para tratar de supressão, cortes ou retiradas de árvores. Em seus objetivos, a lei pretende definir diretrizes de planejamento, implantação e manejo da arborização urbana, privilegiando a qualidade de vida e segurança dos cidadãos, além de desenvolver critérios de monitoramento e fiscalização dos órgãos públicos e privados em atividades que tenham reflexo na arborização urbana. O programa de arborização também deve retirar árvores alergênicas ou que são inadequadas à acessibilidade dos passeios públicos. Para a catalogação serão consideradas as espécies predominantes na região, os tipos de solo e hídricas do município e as características climáticas e geográficas das áreas verdes. “São dados essenciais. Hoje quando ocorre a retirada de uma árvore de uma calçada muitas pessoas ligam para o Comando Ambiental da Brigada Militar para denunciar. A questão é que na maioria das vezes essa espécie não é adequada para o local. Temos muitas que, inclusive, prejudicam a saúde das pessoas. Este inventário vai nos dar condições de partirmos para um Plano Municipal de Arborização científico. Até então, é tudo perdido”, pontuou Tres. A primeira reunião do Comau está marcada para março, quando os conselheiros devem debater com mais profundidade sobre o assunto.
O perfil arbóreo de Passo Fundo
Sem um inventário, sabe-se pouco sobre o perfil arbóreo da cidade. De qualquer forma, Passo Fundo possui características que já podem ser percebidas na área urbana. De acordo com a técnica responsável pelo Museu Zoobotânico Augusto Ruschi (Muzar – UPF), Flávia Biondo, temos um número alto de árvores antigas e de grande porte na cidade, além de muitas conhecidas como alergógenas, que causam alergias, como a espécie Ligustro. “É uma árvore que está por todo canto, dá muita sombra e se desenvolve rapidamente, mas possivelmente quando foi plantada ninguém sabia que é uma árvore exótica e, quando na floração, causa muita alergia”, explicou Flávia. Segundo ela, já existem estudos para a substituição da espécie na cidade. “O ideal seria que toda cidade tivesse esta catalogação. Temos muitos problemas de queda de árvores e de acessibilidade, porque muitas árvores foram plantadas inadequadamente embaixo das calçadas, por exemplo. O inventário é essencial para o planejamento de retirada e substituição das espécies, além de pensar no futuro das ruas. Que objetivos temos para a rua ser arborizada? Para sombra? Para atrair animais? Quais serão as implicações desta árvore no passeio público?”, terminou.