Parceiro nos passeios de bicicleta, Valdir Pavan define Jonatas Conterno, o médico atropelado na última terça-feira (16), próximo do Santuário Nossa Senhora Aparecida, às margens da ERS 153, como o filho que ele nunca teve. Há cerca de oito anos na família Pavan, desde que o médico havia engatado um relacionamento com a filha de Valdir, também médica Thais, sogro e genro criaram proximidade mesmo a pouco mais de três anos. Com a mudança do médico para Passo Fundo, os passeios e demais atividades entre os dois se intensificaram.
Em janeiro desse ano, fizeram juntos um passeio de 100 quilômetros. “Todo mundo desistiu, só eu que não. O meu genro, o Jonatas, disse: eu vou contigo, nem que seja até a metade do caminho”, relembra o empresário. Quando chegaram a Pulador, Pavan recomendou que o genro voltasse. Ele insistiu e foi junto. “Ele era parceiro. Foi comigo até o fim, a gente saiu sem almoço, fizemos um lanche na estrada. Demoramos sete horas e 30 minutos”.
Em função da profissão de Conterno e da falta de tempo, nos últimos meses, ele e o sogro estavam pedalando pouco. O trajeto até o Santuário era um dos preferidos do médico. “Nos últimos seis meses estava muito atarefado no hospital, então ele fazia o trajeto mais curto”, observa Pavan.
Foi Jonatas quem convidou o sogro para pedalar na manhã de terça-feira (13), com este destino. O empresário estranhou que o genro o tinha convidado já que era feriado de Carnaval. Ainda assim, ficaram combinados. Valdir Pavan, que costuma fazer trajetos mais longos sairia às 7h e Jonatas Conterno, às 8h.
Devido a um imprevisto, Pavan precisou tardar o pedal. “Faltou material na obra e fui atender o pessoal. Me liberei por volta das 8h30. Mandei mensagem, ele não respondeu. Liguei, não respondeu. Pensei ‘ah tudo bem’, pode ter mudado o itinerário, está sem sinal. Resolvi tomar um café no posto. Recebi uma notícia de uma pessoa que entrou dizendo que um ciclista havia sido atropelado e tinha morrido. Pensei: não pode ser verdade”, relembra o empresário.
Tomado pela incerteza, saiu do posto e foi pedalando até o local do acidente. Chegou por volta das 8h50. “Fui lá sem acreditar que poderia ser ele. Mas eu tinha um negócio. Quando cheguei que eu vi. Não precisou nem ver o corpo, só vi a bike e não tive mais dúvida”. A vítima era Jonatas. Ele foi atingido, pelas costas, por um carro que trafegava em alta velocidade na rodovia. O motorista, que estava embriagado, não parou para prestar socorro. Ele foi preso horas depois.
Deixou a esposa e um filho
Jonatas e Thais estavam casados há pouco mais de um ano. Desta união, há três meses, nasceu Antônio Pavan Conterno. “Ele não vai conhecer o pai, não vai conseguiu dar um abraço de um ano”, emociona-se. Antes do casamento, haviam sido outros seis anos de namoro. “Quando começou a namorar a minha filha, eu percebi que era um guri diferente. Ele foi entrando na família. Sempre teve liberdade da família, da empresa. Moravam juntos em Porto Alegre. Tinha a chave da minha casa. Aqui e em Porto Alegre. Tinha toda liberdade para entrar e sair a hora que quisesse”, expõe.
No lado profissional também não faltaram elogios e mensagens de carinho, que vieram dos mais diversos cargos dentro dos hospitais pelos quais ele passou. Dedicado, o paciente sempre tinha prioridade para o médico. Com ele não tinha horário. Pavan comenta que interromper passeios ou almoços para atender ao telefone eram cenas comuns.
O sogro descobriu nesta semana, após o acidente, que o genro já era chefe da equipe no hospital, devido à modéstia de Jonatas. Natural de Cruz Alta, o médico estudou em Porto Alegre e fez estágio em Caxias do Sul.
Família quer justiça
A família vai participar do protesto organizado pelos ciclistas, previsto para ocorrer hoje (17). “Eu não estou aqui para defender ciclista, mas para fazer o que é certo. Eu não me lembro de ter visto ciclista abusando na estrada. Agora eu já vi muito motorista fechar para colocar o ciclista para fora da rodovia. Isso tem que acabar”, argumenta Pavan. Com cada vez mais adeptos do ciclismo, o empresário alerta que o trecho do acidente é muito utilizado por quem corre, caminha ou pedala. “Tem que haver consciência. Nós temos que mudar nossa cultura”, reivindica.
Além do respeito no trânsito, a família pede pela responsabilização do motorista. “A polícia está fazendo um belo trabalho, assim como a promotoria de Justiça, o Judiciário também, que tomou todas as providências. Temos que parabenizar pela rapidez com que estão conduzindo o caso. Tudo que a gente quer é justiça. Que essa pessoa pague pelo crime que cometeu. Hoje foi com ele, mas que amanhã pode ser com outra pessoa. Não existe dor pior do que essa”, finaliza Pavan.