Morte de ciclista causa comoção e protesto

Uma pedalada em homenagem ao médico Jonatas Conterno, 36 anos, morto no feriado de Carnaval, está prevista para este sábado (17). Grupo pede por trânsito mais seguro

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Ciclistas do grupo Pedala Guria em passeio, em abril de 2016Ciclistas do grupo Pedala Guria em passeio, em abril de 2016
Ciclistas do grupo Pedala Guria em passeio, em abril de 2016
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O Bike Light Passo Fundo vai se reunir na tarde deste sábado (16), como o faz costumeiramente há cerca de três anos. O trajeto, dessa vez, inicia na Praça Tamandaré em frente à Igreja Matriz, às 14h e tem como destino o Santuário Nossa Senhora Aparecida. Porém, este não será um pedal comum, mas de luto e protesto pela morte trágica de um dos integrantes do grupo, o médico oncologista Jonatas Conterno, de 36 anos.
A vítima pedalava no acostamento da ERS 153, em frente ao Santuário, quando foi atingida pelas costas por um Fiat Brava, de cor branca, que trafegava em alta velocidade. O condutor, de 30 anos, estava embriagado e fugiu sem prestar socorro. Ele foi preso logo em seguida, pela Brigada Militar. Sem documentos, o corpo demorou a ser identificado. Foi o sogro do ciclista quem reconheceu a bicicleta, ao passar pelo local. Ele havia saído na mesma direção, com intuito de encontrar o genro e continuar a atividade física. No meio do caminho, entretanto, se deparou com a cena.


Comovidos pelo fato, os diversos grupos de ciclistas existentes em Passo Fundo organizaram o protesto de hoje. “Foi uma vontade coletiva. Por mais que a maioria não tivesse contato com ele, está todo mundo na mesma situação. Parece que é uma pessoa da nossa família”, resume a nutricionista Fabrícia Perozzo, também ciclista e integrante do grupo Pedala Guria.


Organizado coletivamente, a manifestação já contava com mais de 400 pessoas confirmadas em evento no Facebook na sexta (16). Junto de amigos, familiares e conhecidos, a reivindicação do grupo é por um trânsito mais seguro com respeito às leis e ao espaço de ciclistas, pedestres e motoristas. “O objetivo principal é que o trânsito não seja motivo de agressão, de violência e de mortes. Que o trânsito seja seguro e que não seja motivo de doença e de estresse como ele é hoje” pontua o médico oncologista Álvaro Machado.


Ghost Bike
No local do acidente, os amigos, familiares, ciclistas e demais pessoas farão uma oração ao médico. Será colocada uma Ghost Bike, ou bicicleta branca, que homenageia um ciclista vítima de acidente. O objeto também serve de alerta para outros ciclistas. A ida até o santuário será de bike. Todos estão convidados a participar.


Um dos organizadores da manifestação, Fabio Eduardo Woitchunas, informou no evento do Facebook que, por medidas de segurança, a Brigada Militar solicitou que o protesto fique restrito aos ciclistas. O motivo é “para que todos, em um mesmo ritmo, permaneçam unidos não causando tumulto nem grandes dispersões do aglomerado de pessoas”.


Os grupos de ciclismo
O ciclismo ganhou muitos adeptos nos últimos anos. Os atletas e amantes da atividade geralmente pedalam em grupos. Há pelo menos dez deles em Passo Fundo. “São grupos que se formam por conveniência, em razão da intensidade da pedalada e dos horários disponíveis. Há uma integração entre todos os grupos de ciclistas existentes em Passo Fundo. É um objetivo comum. O pedal é uma atividade física regular, que é necessária para a saúde. Também é uma forma de aliviar o estresse de uma semana de trabalho intenso e um espaço de convivência de pessoas de diferentes origens sociais e profissionais”, comenta Álvaro Machado.


Machado é um dos integrantes do Bike Light. O grupo, de aproximadamente 20 ciclistas, tem uma rotina. É nas tardes de sábado que sempre se reúne o maior número de pessoas. “A gente se comunica por redes sociais e marcamos expedições quando se tem oportunidades. Nosso pedal é para fora, na estrada de chão. Apesar de vários integrantes participarem de outros grupos de pedal no asfalto, o nosso pedal é mais tranquilo, como diz o nome”, observa.


Apesar de a atividade ser light, há medidas de segurança, como pedalar sempre de capacete e com sinalização de luz dianteira e traseira à noite. Outros grupos, como o Pedala Guria, também adotam dessas regras. No grupo das mulheres, existente há cinco anos, são solicitados também óculos e luvas. As gurias se encontram para pedalar sempre às 19h30, nas terças.


“Sempre antes dos pedais a gente conversa com quem é nova no grupo ou na atividade. Explicamos algumas regras de trânsito, como se portar, sinalizar tudo o que for fazer. A gente preza muito por respeitar as leis de trânsito, por isso paramos em todas as sinaleiras, entramos na ciclovia todos em fila indiana, respeitamos quando a prioridade é do carro ou do pedestre. A gente tenta educar através do nosso pedal para que as pessoas aprendam do formato certo e para que não haja imprudência da nossa parte”, pontua uma das integrantes do grupo, Kristi Becker Kochhann.


Apesar dos cuidados com a segurança, os ciclistas que não passaram por uma situação de risco, já presenciaram uma. Kristi e Fabrícia costumam treinar juntas. As parceiras de pedal já tomaram vários sustos com carros ou caminhões que passaram muito perto delas.
O médico oncologista já presenciou uma situação de intimidação. Ele conta que certa vez, um caminhoneiro se sentiu agredido porque teve que reduzir a velocidade em virtude dos ciclistas. Ele parou o caminhão no acostamento e desceu com um cabo de aço com o intuito de agredir os ciclistas. “Temos relatos quase cotidianos de motoristas que não respeitam a distância mínima, que passam em velocidade excessiva. Carece de muita educação e respeito”, enfatiza o médico.

 

“Grande perda”
Natural de Porto Alegre, Conterno morava em Passo Fundo há cerca de três anos. Ele era médico oncologista no Hospital da Cidade e professor universitário. Deixou a esposa e um filho, de cinco meses. Por onde passou, deixou boas lembranças. É assim que o médico oncologista Álvaro Machado se refere à Conterno. Os dois tinham proximidade pela medicina e por integrarem o mesmo grupo de bike. “Ele foi uma pessoa cativante. Era muito tranquilo, parceiro de todos os integrantes do grupo do pedal. Por onde ele passou, ele sempre deixou bons amigos e companheiros. Ele era um excelente médico. Só tinham elogios a ele, era professor da faculdade, uma pessoa que certamente teria um futuro brilhante. Foi uma perda muito grande para a família, para nós colegas, para os amigos. Era uma pessoa especial”, finaliza.

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