A gestão de riscos e a busca de resiliência em agricultura

Pesquisador da Embrapa Trigo Gilberto Cunha diz que a redução de riscos pode ser obtida também pelo melhor controle do processo de produção

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Foi o risco de depender, exclusivamente, da coleta e da caça para a sua sobrevivência, que, admite-se, motivou o homem primitivo para a invenção da agricultura. Passados cerca de 12 mil anos desde essa grande revolução que marcaria, indelevelmente, o destino da humanidade, apesar de todos os avanços tecnológicos alcançados, produzir alimentos, quer seja de natureza vegetal ou animal, ainda continua sendo uma atividade de risco. A partir dessa afirmação, o pesquisador Gilberto Cunha, agrometeorologista da Embrapa Trigo e membro do Comitê Gestor das Ações de Zoneamento Agrícola de Risco Climático na Embrapa, nessa entrevista para O NACIONAL, discorreu sobre os riscos envolvidos na agricultura e o papel das ferramentas de gestão de riscos e da inovação tecnológica para a sustentabilidade dos empreendimentos ligados ao negócio agrícola.


O entendimento de conceitos como risco, incerteza e o domínio de técnicas de analise de decisão interessa tanto aos produtores rurais como aos executivos de empresas que atuam no setor, aos profissionais da assistência técnica, aos pesquisadores da área acadêmica ou tecnológica das organizações públicas e privadas, bem como aos agentes responsáveis pela formulação de políticas públicas ou pela tomada de decisão na esfera administrava de Governos; afirma Cunha. Apesar das definições acadêmicas complexas, diz-se, simplificadamente, que se está diante de incertezas quando o conhecimento que se tem sobre algo é imperfeito e que, efetivamente, se lida com riscos quando as consequências são incertas. E que, coletivamente, os métodos de análise de escolhas que envolvem riscos podem ser chamados de análise de decisão. Ainda, quer gostemos ou não, como, na maioria das vezes, o conhecimento, especialmente sobre o futuro, será sempre imperfeito, o risco, em grau variável, pode ser considerado como algo inerente a qualquer atividade humana e, em especial, na agricultura; complementou o agrometerologista Gilberto Cunha.


O risco do negócio agrícola é composto pela agregação de riscos individuais. Nessa soma, estão envolvidos os riscos de produção, que são relacionados com a natureza imprevisível da variabilidade climática extrema e do próprio desempenho das tecnologias usadas; os riscos institucionais, que dizem respeito às mudanças que fogem do controle individual, como são exemplos o surgimento de novos marcos legais ou barreiras à comercialização ou tributárias; os risco de mercado, que envolvem preços, relações de oferta e demanda de produtos e abertura ou fechamento de mercados; além dos riscos pessoais, relativos à natureza humana, tipo doenças graves, mortes ou o fim de sociedades; sintetiza Cunha. Na agricultura, e não importa o tamanho do empreendimento, quer seja em escala empresarial vultosa ou uma propriedade familiar, a tomada de decisão de gestão, levando em conta os riscos inerentes, deve focar para que prejuízos sejam evitados e as oportunidades maximizadas.


Ferramentas de suporte à gestão de riscos na agricultura são usadas no mundo todo. No caso brasileiro, cita Cunha, o Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos, operacionalizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que vem subsidiando as políticas de crédito e seguro rural no Governo Federal, no País, há 22 anos, é um bom exemplo.


Na agricultura, enfatiza Cunha, a redução de riscos pode ser obtida também pelo melhor controle do processo de produção, que, necessariamente, passa pelo uso da tecnologia mais adequada para cada situação. Isso, prossegue Gilberto Cunha, significa que aqueles que atuam em pesquisa e desenvolvimento tecnológico para a agricultura brasileira precisam, cada vez mais, olhar além dos meros riscos inerentes à atividade e trabalhar para a construção da resiliência dos nossos sistemas agrícolas. Enfrentar os desafios da variabilidade climática extrema, da especialização das plantas daninha e do surgimento de novas pragas e doenças requer a mudança do paradigma do sim ou não para o modelo do sempre sim, porem com riscos conhecidos e gerenciáveis. E, acrescente-se a isso, têm-se, paralelamente, as novas funções assumidas pela agricultura moderna, que, além da produção de alimentos e fibras, também engloba a agroenergia e ganha protagonismo cada vez maior na área de serviços, como o turismo rural. Para isso, tem que se lançar mão do que há de melhor em termos de ferramentas biotecnológicas, como a edição de genomas, em produtos das nanociências, em geotecnologias, em automação e em sistemas de precisão embarcados. A busca dessa resiliência para a agricultura brasileira, para cumprir seus múltiplos papeis, não escapa da intensificação dos sistemas agrícola, produzir mais numa mesma área, e da integração de sistemas, como é exemplo a integração lavoura-pecuária-floresta, primando, sempre, por práticas conservacionistas e sustentáveis. E a inovação tecnológica, inquestionavelmente, é a base para que aquilo que, para alguns, pode parecer apenas discurso vire realidade no campo; finaliza Cunha.

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