33% dos idosos não sabem quais medicamentos utilizam

Revelação faz parte de estudos permanentes da equipe de Residência Multiprofissional do hospital

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Saber a medicação é fundamental para o melhor cuidado na EmergênciaSaber a medicação é fundamental para o melhor cuidado na Emergência
Saber a medicação é fundamental para o melhor cuidado na Emergência
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Conhecer os públicos atendidos, realizar pesquisas e debater resultados é um processo fundamental na melhoria do atendimento à pacientes. Por isso, a Emergência do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo, através dos residentes da Residência Multiprofissional Integrada, em Saúde do Idoso, promove estudos constantemente. Recentemente, os profissionais observaram que, a maioria dos pacientes idosos que chegavam até a Emergência desconheciam os medicamentos que fazem uso contínuo e por isso os profissionais resolveram buscar mais informações acerca desta questão.


Além de não identificarem a medicação, os residentes das áreas de Nutrição, Farmácia e Enfermagem, destacam que os idosos que não sabem relatar suas medicações solicitam que seja perguntado aos familiares sobre os mesmos, e estes, por sua vez não lembravam. Em seguida então, é solicitado aos familiares a receita do medicamento contínuo que está em casa. Quando os familiares retornam com a receita, que na maioria das vezes não é imediata, esta informação se perde e o paciente fica sem a terapêutica anterior. “Esta realidade preocupa muito o setor de emergência porque estes idosos, quando portadores de doenças de caráter crônico, perdem a continuidade do tratamento farmacológico, comprometendo a estabilidade alcançada anteriormente. Ainda, certas condições clínicas apresentadas pelos idosos ao chegar na Emergência, podem ser consequência destas terapêuticas inadequadas”, salientam os profissionais.


As situações clínicas mais frequentes dos pacientes que chegam até a Emergência do HSVP são: insuficiência cardíaca, infecções pulmonares e no trato urinário, insuficiência renal e hepática, fraturas, quedas, politraumas, distúrbios gastrointestinais, doenças cerebrovasculares, intoxicação cumarinica, entre outras, mas o que os residentes constataram é a queda do estado geral, como relato principal dos familiares. “Esta condição clínica, quando investigada, é reflexo de algumas alterações ligadas aos medicamentos de uso contínuo. Esta situação é preocupante, pois reflete a instabilidade do cuidado no que se refere ao uso de medicamentos de forma adequada”, reiteram os residentes, evidenciado ainda, outro aspecto na chegada dos idosos, que é o reconhecimento dos medicamentos pela função, pela cor, pelo formato, mas quase nunca pelo nome genérico ou comercial. “Eles transferem esta responsabilidade para os seus cuidadores ou acompanhante, que por sua vez, não reconhecem esta responsabilidade, fazendo com que não se interem destas informações de forma ideal”.


Características dos pacientes
Dos idosos entrevistados 53% eram do sexo feminino e 47% do sexo masculino, com a média de idade de 71,5 anos. A escolaridade prevalente foi ensino fundamental incompleto com 68%, seguido por não alfabetizados 10 %. Quanto a comorbidades, residentes identificaram que a maioria possuía diagnóstico de doenças cardiovasculares com 49%, destas 35% foram referentes à hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitos 17%, câncer 10%, hipotireoidismo 8%, doenças neurológicas 7%, renais 6%, respiratórias 5%, gastrointestinal 3% e outras 33%. Em relação ao diagnóstico da internação prevaleceram as doenças cardiovascular com 49% dos entrevistados, seguido por problemas gastrointestinais 16%, ortopédico 11%, câncer 10%, neurológicos 8%, respiratória 6%, renal 3%, do trato urinário 2% e outros 10%.  “Quando indagamos sobre os medicamentos que os idosos usavam diariamente, 10% sabiam o nome, 33% não sabiam, 45% sabiam em partes e 12% dos idosos não faziam uso de medicações contínuas. Com referência a cor e forma dos medicamentos 12% dos idosos relataram durante a entrevista e 88% não. Dos idosos 51% disseram receber ajuda de marido, esposa, nora, filhos (as) ou netos para utilizar os medicamentos, e 37% não recebiam ajuda”.


O número total de medicamentos citados pelos pacientes durante a entrevista foi de 119, sendo que, 35 pacientes disseram fazer uso de algum medicamento e a média de fármacos por paciente foi de 3,5. Já o número total de medicamentos citados no prontuário médico foi de 248. Os medicamentos referidos com maior frequência pelos idosos durante a entrevista foram: sinvastatina 11%, ácido acetilsalicílico (AAS) 8%, enalapril 7%, captopril 6%, metformina 5%, metoprolol 5%, omeprazol 4% e hidroclorotiazida 4%. Quanto aos medicamentos mais citados no prontuário médico, 10% sinvastatina, AAS 8%, furosemida 7%, enalapril 6%, metformina 5%, hidroclorotiazida 5%, omeprazol 5% e losartana 4%.


Para os residentes, os números coletados apontam que, os idosos em sua maioria, não trazem consigo a receita das medicações e não se recordam o nome do medicamento de uso diário. Isto dificulta o atendimento, pois é frequente que o médico solicite a receita das medicações de uso contínuo. A orientação é que o idoso ou seu acompanhante traga consigo as receitas para facilitar o atendimento hospitalar. “Por meio da divulgação dos resultados deste estudo, queremos sensibilizar os envolvidos neste cenário. Os familiares ficarão mais conscientes da importância de seu envolvimento. Sugere-se que cada família eleja um cuidador principal, ou cuidador significativo, aquele que acompanhará o idoso nas consultas, que organizará seus medicamentos em casa, que evidenciará algum tipo de inadequação”, reiteram os especialistas.

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