Retorno ao pátio de infância e a exaltação à natureza

Parceria com a artista plástica Maria Lucina Bueno, Projeto Rio Passo Fundo trabalha com a produção de tintas naturais

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O processo é orientado voluntariamente por Maria Lucina e realizado com uma equipe de estagiários do curso de Artes VisuaisO processo é orientado voluntariamente por Maria Lucina e realizado com uma equipe de estagiários do curso de Artes Visuais
O processo é orientado voluntariamente por Maria Lucina e realizado com uma equipe de estagiários do curso de Artes Visuais
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Em meio à grama, uma menina remexia na terra em busca de cor. Enquanto no solo buscava o colorido, no céu, encontrava desenhos. A paixão de Maria Lucina Bueno pelas cores começou ainda criança, no pátio de casa, se transformou em pesquisa e, hoje, é um trabalho consolidado. “O pátio da infância foi uma referência muito importante na minha vida artística. Eu era fascinada pelas cores. Observava muito as cores da natureza e para mim era um fascínio muito grande perceber que elas tinham uma força especial”, inicia. Há três décadas trabalhando com tintas naturais – produzidas a partir de elementos da natureza -, a artista plástica é parceira do Projeto Rio Passo Fundo: os diferentes materiais que foram coletados durante as expedições realizadas pela equipe do Projeto em 2017 são a matéria prima para a produção das tintas naturais que vão orientar as ações educativas que vão acontecer no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider - MAVRS -e, também, colorir as maquetes produzidas pelo curso de Geografia e que estarão na exposição apresentada no Museu Zoobotânico Augusto Ruschi – MUZAR. O processo, que é orientado voluntariamente por Maria Lucina e realizado com uma equipe de estagiários do curso de Artes Visuais, está sendo realizado no MAVRS.

 

Trabalho que inspira

O trabalho que Maria Lucina desenvolve com tanta paixão busca, além de valorizar o meio ambiente e aquilo que nele está, explorar uma nova forma de arte e, também, produzir materiais alternativos para serem utilizados em escolas. O trabalho foi além e, agora, ganha os contornos do Projeto Rio Passo Fundo – desenvolvido pelo Museu de Artes Visuais Ruth Schneider (MAVRS), com o apoio do Museu Histórico Regional (MHR) e do Museu Zoobotânico Augusto Ruschi (Muzar) e realizado a partir do patrocínio do Programa CAIXA de Apoio ao Patrimônio Cultural Brasileiro 2017/2018. “Tenho um prazer muito grande de trabalhar neste Projeto. A nossa criatividade está sendo desafiada. Não temos  ideia do que pode surgir desse trabalho”, garante a arista que tem buscado, junto com os estagiários, um trabalho capaz de expressar sensações e experiências em forma de arte.

Coletas
Ao longo dos 200 km percorridos pelo Rio Passo Fundo, diferentes cenários apresentam a vida que pelo trajeto se desenha: em meio às cidades em pleno desenvolvimento e à comunidades que parecem esquecidas, a biodiversidade se destaca e garante a paisagem. E é justamente a partir dessa biodiversidade que as tintas naturais estão sendo produzidas. As expedições realizadas pelo Projeto Rio Passo Fundo nas cidades de Entre Rios do Sul, Pontão, Ronda Alta, Cruzaltense, Campinas do Sul, Faxinalzinho, Nonoai e Passo Fundo foram acompanhadas pela equipe que, em cada local, coletou diferentes elementos: terra, flores, folhas, galhos, sementes.

Carolina Fornari Roman, estagiária do MAVRS, foi uma das pessoas responsáveis por essa coleta. Para ela, o trabalho é desafiador e, ao mesmo tempo, enriquece. “Desde o início, foi um desafio saber que trabalharia com o processo de produção de tintas naturais. As cidades que fomos são muito verdes, têm muita vegetação. É possível ver a biodiversidade dos lugares. Têm lugares que são apenas córregos e lugares que têm cachoeiras, cascatas. Todo esse trajeto que o Rio faz, ao longo do seu percurso, carrega história junto”, comenta. “Em cada região que foi percorrida, a terra tem uma cor diferente, as flores são diferentes e você vê como a biodiversidade tem a sua força em determinado local. É como se ela tivesse a sua história naquele ponto e dois metros para frente, no mesmo Rio, é outra história.”, completa. “Vamos criar a partir desses materiais, envolvendo nosso sentimento e sensibilização”, conclui.

Uso prático
Depois de coletados, os materiais foram armazenados no Museu. Parte deles, será utilizado no processo e produção das tintas, o restante vai compor o processo criativo para as exposições. O que for ser transformado em tinta, passa por um processo de peneiração, acréscimo de água, descarte de resíduos, decantação natural e, só então, a criação da tinta.

Todo esse processo tem objetivos bem específicos dentro do Projeto Rio Passo Fundo: além de estimular o processo criativo dentro das exposições, as tintas naturais vão ser utilizadas pelo curso de Geografia – para colorir a maquete que representará os relevos da Bacia Hidrográfica do Rio Passo Fundo, que será exposta no Muzar – e, ainda, vão ser utilizadas nas Ações Educativas do Projeto realizadas, no segundo semestre do ano, pelo MAVRS e pelo MHR. “Esse trabalho me trouxe muitas referências boas do meu pátio de infância. Coisas que eu não sabia que iam acontecer estão acontecendo. Que bom que posso compartilhar essa experiência com os outros, experiência essa que começou há 30 anos e segue no meu ateliê. Cada dia se descobre uma coisa nova”, conclui Maria Lucina.

 

 

 

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