Quem chega no quarto 333 da Pediatria do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo, e vê o pequeno Iudi se espreguiçando e sorrindo, não imagina quão forte e guerreiro ele é. ludi nasceu de 24 semanas, pesando 595 gramas, no dia 25 de novembro de 2017. “Estava tudo bem na gestação e em função de uma infecção ele veio mais cedo. Por sorte, viemos direto para cá, se não ele não ia sobreviver. Cheguei no hospital e logo ele nasceu”, relata a mãe Vanderléia Zonta, de Ciríaco. O recém-nascido foi encaminhado para Centro de Tratamento Intensivo Neonatal e Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional (UCINCO), onde permaneceu por quatro meses. “Eu nunca tinha visto uma CTI e quando eu vi ele ali, pequeno, frágil, naquele lugar cheio de aparelhos, perdi o chão. Com o passar dos dias, conhecendo a equipe e vendo ele se desenvolver, fui ficando mais tranquila”.
Iudi é um dos 481 bebês atendidos pela CTI Neonatal em 2017, dentro da taxa de alta hospitalar que chegou a 90%. A estrutura completa que engloba profissionais especializados, equipamentos de ponta e cuidado humanizado tornam o serviço referência no interior do estado. A enfermeira Josevane Conte salienta que a estrutura do CTI Neonatal do HSVP é de alta complexidade, com tecnologias que facilitam o cuidado e aumentam as taxas de sobrevida dos bebês, como por exemplo as incubadoras umidificadas, essenciais nos casos de prematuros extremos como o Iudi. “Recebemos muitos casos de prematuros extremos e com baixo o peso e tivemos bons resultados. Se compararmos com uma gestação de 40 semanas percebemos que é bastante diferença, esses bebês se desenvolvem dentro da incubadora e ficam mais suscetíveis ao manejo, as infecções, por isso o cuidado é minucioso”, enaltece Josevane evidenciando que Iudi não teve sequelas em função da prematuridade.
A médica pediatra e neonatologista do CTI Neonatal, Dra. Cristiane Cassanelo evidência que os prematuros que nascem com menos de 1.500 kg são considerados extremos e que a taxa de mortalidade de bebês que nascem antes das 26 semanas é de 70%. “Esses bebês têm bastante dificuldade para respirar em função do pulmão ser muito imaturo, por isso eles passam muito tempo no suporte respiratório e como consequência são mais propensos a infecções respiratórios e pneumonias. Além disso, a imunidade dos prematuros extremos é muito baixa e o risco de problemas cardíacos mais alto”, explica a especialista, informando que em 2017, a CTI Neonatal do HSVP recebeu 36 prematuros nascidos com menos de 26 semanas e que, 12 deles tiveram alta hospitalar.
A neonatologista evidencia ainda que, o cuidado com esses bebês é muito minucioso e requer um trabalho multiprofissional. “Outro fator que foi muito importante no caso do Iudi, e que é fundamental em todos os casos de prematuros, é o aleitamento materno. Quando a mãe consegue amamentar, esgotar o seu leite para o bebê, há um ganho, pois é um alimento específico para ele, o que diminui infecções intestinais e fortalece a imunidade do bebê".
Para que as mamães consigam amamentar e os pais fiquem tranquilo para dar apoio e carinho, além de cuidar dos bebês, a equipe do CTI dá suporte aos pais, que precisam estar bem, para acompanhar o dia a dia dos pequenos. “Nós nos preocupamos com as mães, se estão dormindo se alimentando, pois precisam estar bem para produzir o leite, pensamos nos pais que muitas vezes ficam no trabalho e podem ver os filhos só a noite e também quando a família é de outra cidade procuramos saber onde estão hospedados e disponibilizamos as refeições para o acompanhante do bebê”, explica Josevane.
Humanização que faz a diferença
A equipe do CTI Neonatal se preocupa muito com a qualidade de vida dos pacientes prematuros que são atendidos, por isso, além de todas as técnicas e tecnologias que são utilizadas, os profissionais atuam de forma humanizada, se utilizando de cuidados específicos que amenizam a dor, acalmam os bebês e favorecem o ganho de peso. “Nós temos o cuidado Canguru, a técnica do Casulo, o banho de Ofurô, a hora do soninho e Musicaterapia que são momentos que acalmam os bebês e ajudam a diminuir o estresse, que vão refletir na sua qualidade de vida no futuro”, pontua. Iudi recebeu todos esses cuidados, mas o que mais emocionou a mãe foi o método Canguru, técnica que consiste em deixar mãe e bebê em contato pele a pele. “Eu peguei ele pela primeira vez com 13 dias e fizemos o Canguru. Foi muito emocionante. Ao mesmo tempo em que tinha receio pelo tamanho dele, estava feliz por pegá-lo no colo. O Canguru foi muito importante para nós dois”, relata a mãe.
Depois de quatro meses de internação no CTI Neonatal e UCINCO, Iudi foi para Pediatria onde aguarda a recuperação completa para ir para casa. Com 3,355kg ele curte o carinho da mãe que está ansiosa pela alta, depois de cinco meses no hospital. “Não tenho palavras para agradecer a equipe, elas me entregaram meu filho de volta, auxiliaram muito e fazem um trabalho maravilhoso. São anjos que em um momento difícil como este ajudaram muito. Agora é só ir para casa e curtir”, agradece a mãe, que contava com o apoio do marido Airton Silvano Vansini, para cuidar do filho mais velho, Iuri, seis anos.