Como é criar os filhos na era digital

A maternidade agora acontece também no mundo virtual e tem ajudado as mães a encontrar auxílio além dos meios tradicionais

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Ser mãe não é mais uma experiência vivida somente em família. Na era digital, a maternidade é compartilhada, curtida e comentada. As mamães - principalmente as de primeira viagem - buscam auxílio e suporte de outras mães através de grupos nas redes sociais. O papel de conselheira da mãe do século XXI não se restringe à avó ou àquela amiga que também está nessa fase; agora as dúvidas e os anseios são visualizados instantaneamente por dezenas de mães que, muitas vezes, jamais se encontraram pessoalmente ou que não mantém uma relação de proximidade, mas por um momento trocam informações que podem interferir diretamente na criação dos filhos.

 

Em 2013, o Ibope Media realizou um levantamento onde foi possível observar que quase metade das mães brasileiras estão conectadas à Internet. Desses 48%, pelo menos 39% acessam sites de educação e 46% visitam sites de saúde. O dado reflete a nova geração de mães que se vê mais desprendida das fontes tradicionais de informação e que tem buscado ajuda principalmente na experiência de outras mães. É o caso da Luziana, que aos 19 anos se tornou mãe do Isaac, hoje com um mês de idade, e participa desde o início da gestação do grupo do Facebook “Mamãe de Primeira Viagem”. A comunidade possui mais de 52 mil membros e Luziana conta que o grupo sempre a ajudou muito. “Eu participo do grupo pelo tempo que fico acordada e tiro algumas dúvidas. Como eu sou mãe de primeira viagem tudo estava meio complicado pra mim, meio difícil”, conta. “Por exemplo algumas coisas relacionadas à amamentação, o que eu poderia comer, aí eu postei sobre isso e as meninas do grupo me explicaram de tudo.” A Taise, também de 19 anos, é mãe do Enzo, de 1 ano e 2 meses e participa do grupo “Mãezona” no Facebook, ela conta que é um bom local para tirar dúvidas, principalmente sobre a questão da alimentação do bebê, ou sobre como proceder se a criança adoece, mas de acordo com ela as mães são cautelosas e sempre orientam a procura de um médico.

 

Para a psicóloga Eliana Bortolon, grupos de mães como os do Facebook e Whatsapp podem ser positivos, desde que usados com bom senso e limites. “Grupos desse tipo são um recurso importante nessa questão de dividir uma informação ou até uma angústia, mas às vezes pode prejudicar”, afirma. A psicóloga se refere às informações equivocadas que acabam sendo disseminadas entre os membros do grupo. Apesar do suporte, como no caso de Luziana, nem tudo que é postado pode ser entendido como fato. No topo do grupo, um quadro de avisos alerta: é proibido citar ou indicar medicamentos. O comunicado vem na tentativa de evitar a automedicação. Conforme Eliana, algumas publicações falsas são muito frequentes nos grupos e, aliadas à avalanche de mensagens, podem acabar prejudiciais. “Nem sempre ler de tudo vai ajudar, como no caso da maternidade por exemplo. Muitas vezes as mães ficam ansiosas e leem muitas coisas sobre o tema, não dá tempo de digerir tudo aquilo e acaba gerando ansiedade mais do que qualquer outra coisa.”, afirma. “Há muita notícia falsa, sem fundamento teórico ou científico, que acaba circulando. Elas [as mães] precisam verificar a informação nas quais estão se baseando.” Para Eliana, grupos como os de Whatsapp normalmente acabam se tornando um desserviço, porque a dimensão da comunicação, apesar de interessante, toma proporções negativas, tentando resolver situações que, para ela, podem ser demasiadamente complexas para serem resolvidas online.

 

Para a psicóloga Júlia de Oliveira, o impacto desses grupos é algo bastante positivo. “Do ponto de vista psicológico acho muito válido os grupos nas redes sociais sejam para mães ou qualquer outro grupo. Transmitem uma sensação de apoio e pertencimento às pessoas.” Para Júlia, o apoio emocional que as mães encontram é o ponto chave dos grupos. “Por exemplo, vi em um grupo uma mãezinha colocar a situação do tratamento de seu filho com doença grave e receber muito incentivo, muita força. Acho isso maravilhoso”, conta. Em relação à preocupação com a saúde das crianças, a psicóloga possui um posicionamento otimista: “Como profissional da saúde sou muito a favor das mídias sociais, em minhas redes sempre procuro divulgar conhecimento, conversar e trocar ideias. Penso que as pessoas hoje valorizam muito o ser humano que o profissional é, não apenas o conhecimento. Vivemos na era dos vínculos, da confiança, do empoderamento como peça central dos tratamentos.”, comenta. “Essa questão da indicação de remédios, chás, isso sempre existiu com as tias, as avós, as vizinhas. Não é algo criado pelas redes sociais, mas apenas ampliado. No geral as mães são muito zelosas, sabendo que não se deve dar medicamento sem consultar o médico de confiança e que o organismo da criança é muito diferente do adulto.”

 

*Leia a matéria completa na edição impressa desse fim de semana.

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