O grupo que deixou a reserva de Votouro, na última sexta-feira, segue acampado na sede da Funai, em Passo Fundo. Eles pedem Justiça pela morte do jovem Vitor Hugo dos Santos Refey, 22 anos, ocorrida em março passado. Também reivindicam segurança para retornar à aldeia. No final de semana, o clima ficou ainda mais tenso na reserva. Segundo informações, na madrugada de domingo, o grupo liderado pelo cacique ateou fogo na residência de Marcos Garcia, 37 anos.
Casado e pai de seis filhos, Marcos está em Passo Fundo acompanhado os protestos. "Ainda estou pagando os móveis que comprei, tudo novinho. As lideranças são contra os nossos protestos. Estão ameaçando queimar mais casas. Vão ter que pagar meu prejuízo. Não tenho para onde ir com minha família", disse.
A indígena Neusa Lopes afirma que a intenção da liderança é pressionar a saída de algumas famílias da reserva. Além de atearem fogo na casa, já providenciaram, por iniciativa própria, a mudança dos pertences de outras cinco famílias. "Mandaram as coisas, móveis, roupas, para Rio dos Índios. Não vamos aceitar essa mudança. Queremos voltar para nossas casas, mas com segurança", observou.
Coordenador regional da Funai, Lauriano Ártico afirma que a entidade trabalhando na mediação do conflito, no entanto, não tem uma previsão para garantir o retorno dos índios. " O grupo da liderança disse ter providenciado a mudança dos móveis porque as famílias teriam deixado a aldeia. Já os proprietários dos pertences alega ter saído de Votouro por falta de segurança. Nosso papel é ouvir os dois lados e tentar mediar um acordo. Nessas situações, não podemos forçar o retorno, o que pode acirrar ainda mais os ânimos", explica.Segundo ele, a Funai, nem mesmo a polícia, dipõe de pessoal suficiente para garantir a segurança no local. Sobre o incêndio na residência do indígena, Lauriano disse que havia sido informado do fato, mas que os técnicos ainda não haviam feito o levantamento.
Acampamento
Durante as tratativas de sexta-feira, ficou acertado de que as famílias seriam instaladas provisoriamente no acampamento ja existente, na área da antiga Ceasa, às margens da BR 285. No entanto, por falta de estrutura para acomodar as cerca de 70 pessoas, sendo pelo menos 25 delas crianças, decidiu-se pela permanência na própria Funai.