Abolição foi uma conquista e não um presente

Passados 130 anos da publicação da Lei Áurea, sociedade pouco sabe da influência e dos reflexos que este período da história ainda tem nos dias atuais

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No domingo de 13 de maio de 1888 foi sancionada uma das leis mais emblemáticas da história do Brasil. Há 130 anos, a Lei Áurea foi um marco que aboliu formalmente a escravatura, mas que não determinou uma fronteira clara entre a escravidão e a liberdade dos negros no país. Nas edições deste final de semana e de segunda-feira, O Nacional apresenta como a abolição é entendida hoje, quais seus reflexos e também como essa forma de trabalho ainda persiste na sociedade atual.


Apesar de ter predominado por grande parte da história do país, o período da escravidão é pouco compreendido pela sociedade e a forma com que teve fim é até romantizada, muitas vezes. O jornalista, escritor e professor Dr. Juremir Machado acredita que hoje as pessoas não tenham mais a consciência do que a escravidão representa para a história brasileira, nem dos reflexos que ela ainda causa na sociedade atual. “A história é esquecida no Brasil. Passada a efeméride, o esquecimento voltará. Uma pena. Temos muito a aprender com a riqueza desse passado de conflitos não totalmente resolvidos”, lamenta.


A opinião é compartilhada pelo pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em História da UPF, Dr. Mário Maestri. Durante muitos anos, historiadores apresentavam uma visão paternalista sobre o período da escravatura e da relação entre escravizadores e escravizados. “Nos anos 1960 e 1970 tivemos uma reação contra essa visão e historiadores que mostraram e recuperaram as raízes despóticas da escravidão. Não se pode imaginar o que era a escravidão. Se for consultar anúncios dos trabalhadores escravizados, vai encontrar crianças de nove anos fugindo da escravidão sem saber onde iam ir, o que iam comer. Quando os proprietários faziam o anúncio de um cativo fugido eles faziam um anúncio muito real”, destaca ao professor ao explicar que estes anúncios continham inclusive informações de cicatrizes daqueles que eram procurados, por exemplo.


Início
Maestri explica que a escravidão colonial começou primeiro com a população indígena que foi escravizada ainda por volta de 1530. Já entre os séculos XVI e XVII a escravidão negra era hegemônica nas capitanias luso-brasileiras, sobretudo nas capitanias açucareiras. “Arrancaram da África milhões de homens, mulheres e adolescentes para virem trabalhar no Brasil. Estima-se que em torno de 5 milhões de africanos foram arrancados, capturados na África e chegaram com vida ao nosso Litoral. A escravidão conformou todos os aspectos da sociedade brasileira durante praticamente dois terços da sua história. A própria unidade nacional. O Brasil não explodiu uma série de repúblicas como aconteceu nas colônias espanholas devido à preocupação dos senhores em manter viva e forte a escravidão”, aponta.


RS: um exportador de escravos
O professor Maestri destaca que o Rio Grande do Sul, ao contrário do que se pensa, sempre foi uma das principais províncias escravistas do Brasil. O Estado foi uma das poucas regiões em que a população escravizada aumentou naturalmente. “Ela continuou crescendo mesmo depois do tráfico transatlântico de escravos. Com o desenvolvimento da economia cafeicultora, o Rio Grande do Sul se tornou talvez no maior exportador de trabalhadores escravizados para o Estado de São Paulo e Rio de Janeiro. Temos um fluxo impressionante. 

***Leia a matéria completa na edição impressa desse fim de semana.

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