Caminhoneiros e governo não entram em acordo

Greve entra no quinto dia nesta sexta-feira (25) com registro de falta de combustíveis, indústrias fechadas e linhas de ônibus canceladas

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Medo de desabastecimento provocou corrida aos postosMedo de desabastecimento provocou corrida aos postos
Medo de desabastecimento provocou corrida aos postos
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Terminou sem acordo a reunião entre os representantes dos caminhoneiros e o governo Federal, na tarde de ontem (24). O representante da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, não aceitou a proposta da equipe de Michel Temer e afirmou que a greve só encerra quando o presidente sancionar e publicar, no Diário Oficial da União, a decisão de zerar a alíquota do PIS-Cofins incidente sobre o diesel.

A União propôs a suspensão da paralisação por um período entre 15 dias a um mês enquanto o governo continua trabalhando para reduzir o preço do diesel.  Lopes disse que outros líderes da categoria se mostraram receptivos à proposta de suspender a paralisação, mas ele se recusou e deixou o local antes do fim da reunião. A Abcam representa 700 mil caminhoneiros, com 600 sindicatos espalhados pelo Brasil.

Enquanto os caminhoneiros não arredam o pé em Brasília, a paralisação ganha força pelo país. Em Passo Fundo, o quarto dia de protesto iniciou com indústria fechada e linhas de ônibus canceladas em Passo Fundo. O transporte afetado foi o interestadual. A Unesul cancelou pelo menos cinco linhas na quinta-feira (24), alegando falta de diesel, segundo informou a Rodoviária de Passo Fundo. Os ônibus tinham como destino Marau, Soledade, Getúlio Vargas, Porto Alegre e Caxias do Sul. A orientação da rodoviária é para que os usuários comprem passagem apenas próximo do horário de embarque para evitar contratempos. As encomendas foram suspensas pelo receio que os ônibus não conseguissem passar pelos bloqueios e oferece-se prejuízo aos passageiros. Na há informações sobre cancelamento de linhas para essa sexta-feira.

O transporte público de Passo Fundo circulou normalmente ontem (24). A Codepas estima que o estoque de combustível atual seja suficiente ainda para manter os serviços entre três e quatro dias. A empresa compra combustível para a frota diretamente da Petrobrás, por meio de licitação. Diariamente, são consumidos entre 3mil e 4 mil litros de combustível pela frota da empresa. A Coleurb informou que vai circular normalmente hoje (24) e nos próximos dias. Qualquer alteração na frota será em detrimento de orientações da Secretaria de Transportes do Município. A Coleurb tem combustível para no máximo quatro dias.

 

Frigoríficos

As indústrias alimentícias começam a suspender as atividades. Em Passo Fundo, a JBS deu folga coletiva aos funcionários para ontem (24) e hoje (25). A informação foi confirmada pelo sindicato dos trabalhadores do setor, que negocia, com a empresa, os dias de dispensa dos funcionários.  Em resposta ao Jornal O Nacional, a JBS informou que vem monitorando os impactos da greve dos caminhoneiros e “está adotando medidas em suas operações (fábricas) e logística, que inclui a paralisação de algumas unidades de carne bovina, aves e suínos, em razão da impossibilidade de escoar sua produção. As paralisações têm como foco principal os estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, e em menor escala, também em Minas Gerais e Mato Grosso do Sul”.

Em Marau, parte dos funcionários, que trabalha no setor de abate de frangos da BRF, foi dispensada hoje. A informação é do sindicato local. A empresa não respondeu aos questionamentos de ON. Em Erechim, duas plantas da Aurora Alimentos, de aves e suínos, estão com as atividades suspensas. Além da cidade vizinha, todos os frigoríficos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul estão parados.  Em nota, a cooperativa informou que os estoques estão cheios e não consegue produzir uma vez que toda matéria-prima e insumos dependem do setor de transportes. Na região do Alto Uruguai, a maioria das empresas não está recebendo leite dos produtores, de acordo com a Sutraf-AU.

Em nota a Aurora afirma que a suspensão foi inevitável. “A capacidade de estocagem de produtos frigorificados – de 50 mil toneladas – está exaurida. No campo, as famílias rurais são as mais prejudicadas porque o mesmo movimento grevista impede o fornecimento de ração, pintinhos, material genético, remédios etc. aos milhares de produtores rurais, colocando em risco imensos planteis de aves, suínos e bovinos. Ao mesmo tempo, impede a retirada da produção agrícola e pecuária. Dessa forma, o sistema de produção no campo e na cidade ficou asfixiado e impossibilitado de operar em face da falência de suprimentos”, informou.

 

Combustíveis e alimentos

Houve registros de falta de combustíveis em alguns postos em Passo Fundo ontem (24). Enquanto faltam gasolina e diesel em alguns locais, outros estabelecimentos garantiram o reabastecimento nas bombas para pelo menos essa sexta-feira (25). O consumo aumentou e foram registradas filas em diversos postos. “O movimento que teríamos em uma semana, tivemos em dois dias”, resumiu uma funcionária.

Nos supermercados, também há possibilidade de falta de produtos nos próximos dias. Os alimentos perecíveis devem ser os primeiros a sumirem das prateleiras. O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, informa que a partir de quarta-feira (23) agravaram-se os problemas de abastecimento de mercadorias para supermercados gaúchos em decorrência da paralisação dos caminhoneiros em todo o Brasil. O dirigente salienta, entretanto, que os supermercados possuem um estoque médio de segurança de 15 dias nos produtos não perecíveis, em que se enquadram itens de mercearia (massas, biscoitos, grãos, leite, açúcar, bebidas, farináceos, matinais, condimentos, doces, bombonière, etc.), higiene e beleza, limpeza, bazar e não alimentos em geral. “Com relação a estes produtos, não há risco de desabastecimento para o consumidor final em um curto prazo”, destaca Longo.

A situação mais preocupante recai sobre os perecíveis, que não são estocados pelos supermercados por seu curto prazo de shelf life. “A partir dos próximos dias, se a situação não se normalizar, poderá haver desabastecimento em itens de hortifrúti, carnes, frios e laticínios refrigerados, por exemplo”, explica o presidente da Agas. Segundo Longo, os problemas vão aumentar gradativamente, à medida que os supermercadistas não conseguirem repor as mercadorias vendidas nas lojas do setor.

O presidente da Associação conclui informando que os supermercados gaúchos recebem diariamente quatro milhões de consumidores em suas lojas, espalhadas por todos os municípios do Estado. “Reconhecemos a legitimidade do pleito dos caminhoneiros e somos favoráveis ao direito de livre manifestação, mas esperamos que o poder público chegue a um acordo com a categoria, no menor prazo possível, para que os consumidores e contribuintes brasileiros não sejam prejudicados”, finaliza.

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