No nono dia da greve dos caminhoneiros, a falta de fornecimento de produtos, especialmente o gás de cozinha, começa a afetar o comércio de Passo Fundo. Na maioria das distribuidoras de gás da região, o estoque está zerado. Sem o reabastecimento, alguns restaurantes do município estão funcionando no limite e outros já ameaçam fechar as portas, segundo proprietários. No cardápio, a solução encontrada tem sido adaptar os pratos de acordo com os produtos disponíveis.
Sócio-proprietário do restaurante Master Grill, Tales Zanella Romani diz que a situação é complicada: desde a tarde de ontem (29) o estabelecimento está completamente sem gás e, para evitar que feche as portas, ele depende de uma resposta positiva da distribuidora, o quanto antes, sobre o reabastecimento dos botijões. “Se não recebermos o gás até o início da manhã, o restaurante estará fechado nesta quarta-feira. A abertura nos próximos dias vai depender que a situação seja resolvida. Sem gás não temos o que fazer”, desabafa.
Em outro restaurante, o Requinte, as consequências da greve também preocupam o gerente Gilberto Baseggio. Segundo ele, a equipe trabalha sempre com o planejamento de produtos a serem usados ao longo de uma semana, portanto, o estoque é suficiente para os próximos dias, mas trabalhando dentro do limite. “Se demorar para normalizar, aí sim gera consequências e não somente para nós, para todos. O gás é algo que não podemos ter em estoque, é um produto de alta segurança e que não é conseguido de imediato. Conseguimos preencher todos os botijões antes que ocorresse a falta, mas se isso se estender não teremos para trabalhar na próxima semana. Estamos tomando alguns cuidados para economizar, gastar somente com o necessário”, explica. Quando trata-se de produtos alimentícios, para que o serviço não seja afetado, o cardápio vem sendo adaptado de acordo com os produtos estocados em maior quantidade. “Trabalhamos com muitos produtores da região e eles estão conseguindo entregar, então está razoavelmente dentro da normalidade. O que temos sentido é em produtos que vêm de Porto Alegre, por exemplo, porque estes sim não estamos recebendo. O fornecimento de hortifrutigranjeiros, carnes e peixes é o que está sofrendo mais”.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Passo Fundo, Edegar Camozzato, nos estabelecimentos que necessitam do gás para trabalhar o impacto não é mais grave porque eles costumam ter uma reserva suficiente para funcionar por alguns dias, mesmo sem abastecimento. “Esperamos que as coisas estejam caminhando para a normalização. Ainda não notamos nenhuma falta grande de produtos porque Passo Fundo é uma cidade muito bem abastecida”. Em hotéis, Camozzato comenta que a situação não gera efeitos sérios. “O movimento tem sido baixo, então cai o consumo também”, argumenta.
Mercados
No setor de mercados, açougues e fruteiras, já é possível notar algumas prateleiras vazias. De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de Passo Fundo (Sincogêneros), Ivan Manfroi, o desabastecimento mais grave é o de produtos perecíveis, que não podem ser estocados por muito tempo e começam a ficar em falta. “O que está resolvendo a situação é que temos pequenos produtores na região que abastecem esses mercados. Mas frutas que vêm de mais longe, carnes, laticínios... Isso está bem complicado. Quando a greve acabar, ainda deve demorar alguns dias para que tudo volte ao normal”. Felizmente, o Sindicato não tem notificação de nenhum estabelecimento que tenha fechado as portas por faltas de produtos no município. “Os supermercados estão conseguindo lidar. A população está consciente no consumo, não está comprando em quantidades exageradas, então não tem havido problemas. Fruteiras podem estar sentindo mais dificuldade, porque, devido ao tipo de produto com que trabalham, elas não conseguem ter estoque, precisam receber os produtos com frequência”, esclarece.
Ainda conforme Manfroi, os comerciários passo-fundenses não têm praticado valores abusivos sobre os produtos em falta, mas os valores podem aumentar no futuro em consequência da greve. “Como a cadeia produtiva parou, alguns produtos terão elevação de preço em função das perdas nas propriedades, como é o caso de frangos, ovos, laticínios e hortifrutigranjeiros”.