Sustentabilidade econômica, social e ambiental é foco de Dia de Campo

Integração Lavoura-pecuária-floresta (ILPF) foi tema da programação realizada nesta semana

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Atividade leiteira envolve mais de 300 mil produtores na Região SulAtividade leiteira envolve mais de 300 mil produtores na Região Sul
Atividade leiteira envolve mais de 300 mil produtores na Região Sul
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A produção de leite com sustentabilidade econômica, social e ambiental foi o foco do IV Dia de Campo Integração Lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que aconteceu nesta semana na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS. A realização foi conjunta entre a Embrapa, Emater/RS-Ascar, Sebrae e Rede ILPF. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de leite, com 35,1 bilhões de litros/ano e média anual de 1.780/litros/vaca. Conforme dados do Censo Agropecuário, em 2006 o Brasil contava com 1,35 milhões de propriedades leiteiras, envolvendo cerca de 2,7 milhões de trabalhadores. O estado líder no leite é Minas Gerais, com quase 9 bilhões de litros por ano, 27% do total nacional, seguido por Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.


Com média estimada de 3.049 litros/vaca/ano, quase o dobro da média brasileira, a Região Sul puxa a produtividade na pecuária leiteira. No ano passado, cerca de 38% do volume total de leite produzido no País veio da Região Sul. A produtividade animal aumentou 43,5% na última década. A expectativa, registrada no Anuário do Leite 2018, é que a Região Sul deverá ultrapassar a Região Sudeste ainda no próximo ano e, até 2025, a Região Sul deverá produzir mais da metade de todo o leite brasileiro. 


De acordo com o Centro de Inteligência do Leite, regiões como sudoeste do Paraná, oeste de Santa Catarina e noroeste do Rio Grande do Sul formam a nova “Meca” do leite no Brasil, apresentando o maior crescimento na produção e atraindo investimentos da indústria de laticínios. O maior destaque em produtividade é o município de Castro, no Paraná, que ganhou o título de Capital Nacional do Leite, conferido em lei federal em 2017, onde a média chega a 7.478 litros/vaca/ano. Já Santa Catarina apresentou crescimento de 92% na produção nos últimos 11 anos. A maior média de produtividade anual é no Rio Grande do Sul, com 3.240 litros/vaca.


A atividade leiteira na Região Sul envolve cerca de 300 mil produtores, a maioria agricultores familiares que dependem da diversificação para manutenção da renda. A atividade leiteira nos estabelecimentos familiares é estratégica como fonte regular de renda no campo, muitas vezes associada à produção de grãos. São sistemas de integração lavoura-pecuária que, muitas vezes, se complementam utilizando a área de lavoura como base para a alimentação do rebanho através de pastagens, alimento conservado (feno e silagem) e grãos utilizados na formulação de rações.


Oferta de alimento
Para o pesquisador da Embrapa Trigo, Renato Fontaneli, entre as explicações para as melhores produtividades na Região Sul estão a experiência do produtor, o investimento em genética e, principalmente, a diversidade de forrageiras/pastagens adaptadas ao ambiente e com potencial de rentabilidade: “A Região Sul está numa área de transição entre a zona tropical e a zona temperada, possibilitando o cultivo tanto de forrageiras de clima temperado, como espécies típicas de regiões tropicais quentes e úmidas. Assim, dispomos de opções de pastagens que oferecem alimento a menor custo durante todo o ano”, afirma Fontaneli.


Contudo, o produtor de leite ainda enfrenta períodos críticos na oferta de pasto aos animais, são os vazios forrageiros outonal (março a maio) e primaveril (setembro a novembro), um período intermediário entre a semeadura ou rebrote das novas pastagens. Segundo a Embrapa, o adequado planejamento forrageiro e o investimento em adubação podem sanar a baixa oferta de alimento: “O produtor de leite da Região Sul está acostumado a limitar o pasto em aveia preta e azevém, comum, no inverno, e milheto ou capim sudão no verão, que geralmente são manejados e adubados de forma insuficiente, permitindo forragear os animais apenas por seis a oito meses ao ano”, explica o pesquisador Renato Fontaneli. Para minimizar a escassez, o pesquisador recomenda utilizar espécies anuais de inverno, escolhendo cultivares mais produtivas e de ciclo conhecido, de aveias, centeio, triticale, trigo, cevada, azevém, ervilha, ervilhacas e trevos, compondo sistemas com as forrageiras anuais de verão, como sorgo pastejo e silageiros, capim sudão e cultivares modernas de milheto e milho grão, recém colhido em com alta densidade (150 a 250 mil sementes por hectare). 


De acordo com o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Sérgio Juchem, entre 40 e 60% do custo do leite está na alimentação das vacas. A unidade energética (energia metabolizável) obtida com o uso de feno ou silagem custa o dobro da obtida com pastagens, enquanto que o uso de concentrado eleva o custo da unidade energética em quatro a cinco vezes a obtida na pastagem. “A produção de forragem por pasto é a maneira mais econômica de se produzir leite. Por isso, é importante que a pastagem seja bem manejada e que o produtor saiba explorar o potencial produtivo de cada forragem para fazer a melhor escolha”, afirma Juchem.


Conservação do Solo
A cobertura do solo com espécies forrageiras também pode fazer parte das estratégias para descompactação, com uso das raízes das gramíneas e a palhada atuando na recuperação de áreas degradadas. Nas áreas com animais, o cuidado está com o limite da carga animal (lotação) e a maior oferta de pasto para evitar reduzir a movimentação dos animais na área. Ainda, evitar soltar as vacas após vários dias de chuva ou em baixa oferta de forragem (pasto rapado) pode garantir a qualidade do solo, com fertilidade capaz de favorecer a lavoura de grãos em integração lavoura-pecuária. “O maior problema dos sistemas integrados é quando o produtor de grãos simplesmente solta os animais na área ociosa, com baixa cobertura de solo ou faz o inverso, semeando direto após retirar o plantel, com baixa quantidade de resíduo de pasto”, alerta o pesquisador da Embrapa Trigo, Henrique Pereira dos Santos. 


Estudos da Embrapa mostram que os sistemas que integram pastagens com produção de grãos (verão e inverno) são mais lucrativos do que áreas destinadas somente à produção de grãos. Além de promover a melhor ciclagem de nutriente e aporte de carbono no solo, os sistemas integrados de produção agropecuária (ILPF) ainda permitem a diversificação da renda, distribuindo o ganho do leite em receita líquida mensal, ou engorda de novilhos, somada ao retorno com a colheita de grãos ou forragem conservada.

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