A morte de colméias inteiras em diferentes regiões do Estado tem sido um sinal de alerta neste início de ano. O problema, que ainda não teve uma causa específica identificada, pode estar sendo causado pelo uso inadequado de defensivos agrícolas. A morte dos insetos, além de prejudicar a produção de mel, pode ter reflexos também em outras áreas, tendo em vista o trabalho que as abelhas desempenham na polinização de diferentes culturas. Em Marau, na comunidade de São Francisco foram identificadas mortes de colméias inteiras. A Associação dos Apicultores de Marau (Apimar), no entanto, ainda não tem um levantamento completo do problema.
O engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar de Ijuí, Antônio Altíssimo, explica que neste período do ano a morte das colméias, geralmente, não é causada em decorrência de problemas ambientais ou climáticos. “O que causa a morte de abelhas, geralmente é o inverno rigoroso. Principalmente quando o agricultor não tem os cuidados adequados pré-inverno e durante o inverno. No inverno a abelha não consegue, em função de frio, chuva, neblina, ventos fortes, trabalhar adequadamente e passa um grande tempo consumindo o mel depositado na colméia”, explica sobre as causas mais comuns. Ele exemplifica que no inverno passado ocorreram muitos casos de abelhas que morreram de fome e de frio pela falta de mel para alimentá-las e garantir a energia que elas precisavam para manter as colméias aquecidas. “No verão não, a abelha busca alimento, estamos com floradas ainda boas”, compara.
Outra hipótese levantada, e a mais provável, é o uso inadequado de agrotóxicos nas lavouras. Quando produtos inadequados são aplicados ou são aplicados de forma inadequada, eles podem causar esse tipo de problema. “Na intoxicação por veneno é normal morrer o enxame inteiro, porque grande parte das abelhas que vão ao campo leva o pólen contaminado para dentro da colméia e repassa para as outras abelhas que estão dentro da colméia e causa uma contaminação geral e elas morrem dentro e também próximo a ela”, explica.
Alternativa
Apesar de parecer inconciliável, é possível continuar produzindo e, ainda assim, cuidar das abelhas, tanto as com ferrão quanto as sem. Altíssimo explica que na metade Sul do Estado, por exemplo, agricultores e apicultores conseguem manter o equilíbrio. “A soja tem uma flor muito procurada pela abelha e quando é feito o uso inadequado de produtos acaba causando a mortalidade dos insetos”, reitera sobre a importância do uso correto de defensivos a fim de se minimizarem efeitos colaterais. “Nosso trabalho sempre foi na linha de proteção às abelhas e qualquer inseto que seja benéfico ao meio ambiente e à agricultura, em nenhum momento fomos contrários ao uso de agrotóxicos para controle de pragas na lavoura, mas o que pregamos é o uso correto e adequado nas lavouras quando realmente é necessário e em horários específicos”, reforça.
O engenheiro agrônomo ainda ressalta que existem estudos internacionais que relacionam a população de abelhas com os índices de produtividade de algumas culturas, mas que não há um estudo específico realizado regionalmente. “Grande parte do agricultor e da população em geral não sabe o valor da abelha para a produção do alimento que está em nossa mesa”, lamenta. O trabalho de polinização realizado por estes insetos é fundamental para a produção de frutos e também de grãos. Neste ano, na Expodireto Cotrijal a Emater abordará o tema.
Recuperação dos enxames
Com as mortes das colméias, os apicultores precisam esperar, pelo menos, até a próxima primavera para conseguirem refazer seus enxames. Na estação, as abelhas passam pelo processo de enxameação, em que é possível capturar os insetos na natureza e acomodá-los nas caixas utilizadas pelos apicultores para a produção de mel. Altíssimo também ressalta a importância dos apicultores fazerem o correto manejo antes e durante o inverno para que as abelhas tenham a disponibilidade de alimento para passar pela estação.