A colheita e comercialização do pinhão, autorizada pela Polícia Ambiental do Rio Grande do Sul desde o dia 15 de abril, deve registrar uma queda de 60% em comparação à produção do ano passado, conforme estimativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do RS (Emater-RS).
O prognóstico da entidade é embasado, principalmente, nos fatores climáticos que influenciaram a formação da pinha. De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater-RS, Ilvandro Barreto de Mello, a previsão é comercializar cerca de 400 toneladas da semente comestível até o final da safra, que se intensifica nos meses de maio e junho. A colheita e venda do produto deve movimentar 4 milhões de reais na economia gaúcha, segundo ele. O valor varia de 3 a 4 milhões a menos que o registrado no ano anterior quando foram comercializadas 800 toneladas do alimento. “A pinha demora 2 anos para se formar. Em 2017, houve geadas fortes e um período de estiagem que dificultaram a polinização, causando um aborto das pinhas”, explica.
Aliado aos fatores naturais de descanso fisiológico das araucárias e uma reação de autodefesa da planta contra o ataque da praga Cydia araucariae, o preço, como aponta Mello, é outro condicionante à comercialização do pinhão. “10 reais é o valor normal para a venda. Acima disso, o consumidor terá mais receio em comprar”, declara.
“Está baixa a venda. Esse ano, a crise pegou”
Às margens da RST 153, o comerciante Antônio Paz mantém, há 3 anos, uma pequena tenda com, mais ou menos, cinco caixas de produtos, entre frutas e legumes. Há uma semana, mais duas foram incorporadas ao comércio destinado, especialmente, aos motoristas que trafegam pela rodovia e sinalizadas por placas com grafias em vermelho. Indicando que a venda de pinhão iniciou em seu negócio, ele queixa-se da queda na compra do produto comercializado a R$ 8. “No ano passado eu tinha até mil quilos por semana, esse ano 100, 200 quilos, no máximo”, revela. Por dia, ele julga vender 10kg de pinhão quando, anteriormente, essa média era fixada em 50kg.
O trajeto percorrido pelos pinhões que coloca à venda, em Passo Fundo, no entanto, começa há 142km de distância. É no município de Muitos Capões, próximo a Vacaria, que Paz busca junto a produtores rurais o produto para ser disponibilizado aqui. “Esse ano não tem muito pinhão. A venda está baixa porque a crise pegou”, intui. O lucro que tem também reduziu. Os fornecedores aumentaram o preço de venda em 2 reais, segundo ele. “Antes eu comprava a 3 reais o quilo. Agora, pago 5”, afirma.
O consumo do pinhão nas lentes de pesquisadores
Cozido, assado ou em receitas culinárias sulistas, o pinhão buscado em fruteiras e tendas, como a de Antônio, também serve de alimento para outras 70 espécies de animais nativos, como apontou um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e espanhóis sobre o consumo de sementes do pinheiro-brasileiro. A pesquisa foi realizada em quatro regiões do sul e sudeste do Brasil, onde há maior incidência e remanescentes das Florestas com Araucárias.
O estudo contou com a participação de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCiAmb) do Instituto de Ciências Biológicas, da Universidade de Passo Fundo (UPF), além de estudiosos da Divisão de Biologia da Conservação da Estación Biológica de Doñana (Espanha) e do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Conforme o professor Dr. Jaime Martinez, na metodologia utilizada pelos pesquisadores, a avaliação foi realizada sob a copa de 520 exemplares de pinheiros fêmeas, produtoras de sementes, registrando pinhões predados e não predados junto ao solo, e contando com o auxílio de armadilhas fotográficas. “Entre os principais resultados do estudo, está o fato de que 98% das árvores pesquisadas receberam a visita de animais predadores ou dispersores das sementes, evidenciando a forte interação que a Araucária mantém com a fauna silvestre”, aponta Martinez.
O pinhão, segundo ele, é um recurso-chave na conservação de animais que se alimentam diretamente dele, e pela cadeia alimentar de muitos animais carnívoros, incluindo os grandes predadores entre as aves e os mamíferos. “A grande preocupação gerada pelos resultados é o fato de mais da metade dos pinheiros que integraram a amostra do estudo terem sido visitados por mamíferos exóticos como os bovinos, os equinos, a lebre europeia e o javali”, cita o professor, destacando que esses animais consomem sementes e plântulas da Araucária, diminuindo as possibilidades de regeneração da Floresta com Araucária e, com isso, diminuem a disponibilidade de alimento para os animais nativos.