Mesmo fora de época, não valendo disputa alguma, sem os tradicionais carros alegóricos e com uma estrutura mínima, havia um consenso entre os carnavalescos de que era preciso, de alguma maneira, levar o samba para a avenida este ano. Sem desfile oficial desde 2015, o sentimento dos foliões que transformaram um trecho da avenida Brasil, bairro Boqueirão, em passarela, no sábado à noite, era de retomada do carnaval de rua de Passo Fundo.
A chuva que caiu durante todo o sábado, resolveu colaborar e dar uma trégua no momento do desfile, realizado na mesma quadra da praça Boqueirão Legal. O local conhecido dos passo-fundenses pelo natal ecológico abriu espaço para o samba.
O público foi chegando aos poucos e ocupando o canteiro central e também no lado da calçada. Não havia nem mesmo cordão de isolamento. Moradora do próprio bairro, Ana Ribas, 32 anos, não se assustou com a possibilidade de chuva e levou cadeiras para ver o desfile acompanhada da mãe, irmã e sobrinho.
Tesoureiro da Liga Independente das Escolas de Samba de Passo Fundo, Márcio Marques definiu o evento como ‘primeiro passo para o carnaval de 2020’. Conforme ele, a entidade já está realizando contatos e agendando reuniões com alguns empresários da cidade em busca de recursos. Outra mudança importante prevista para o mês de maio, ressalta, será a eleição de escolha da nova direção da Liga. “Não podemos deixar o samba morrer em Passo Fundo. Cidade menores, como Cruz Alta, faz um dos melhores carnavais do interior do estado”, compara.
Um dos idealizadores do desfile de sábado, Felipe Machado, presidente da Acadêmicos do Chalaça, declarou que a iniciativa partiu das próprias escolas. Para pagar algumas despesas de estrutura, as entidades se uniram na venda de cachorro-quente. A prefeitura cedeu o som, palco e funcionários. Instalações de banheiros químicos e outras despesas ficaram por conta das escolas. “Hoje (sábado), estamos realizando um desfile nos moldes antigos, como era antigamente. Nosso objetivo é iniciar uma mobilização antecipada para o próximo ano e fazer um carnaval que a cidade merece”, declarou.
Vice-presidente da Liga, Maria da Graça, reforça a mesma opinião e dispara apontando para os foliões. “Olha como estão felizes. Não podemos deixar nossa cultura morrer”.
Desfile
Marcado para às 19h, o desfile iniciou com mais de uma hora de atraso. Cada escola tinha entre 30 a 40 minutos para percorrer o trecho demarcado. Mesmo com o pouco tempo de preparação para o evento, não faltou criatividade. Primeira a entrar na avenida, a Acadêmicos do Chalaça levou uma comissão de frente formada quatro integrantes, dois deles cadeirantes. Daiane Ikali Marques,23 anos, faz parte do projeto Sobre Rodas e Próteses da Universidade de Passo Fundo. Minutos antes do desfile, revelou estar ansiosa pelo pouco tempo de ensaio. “Fizemos tudo em apenas uma semana, foi um milagre”, afirma. Na sequência, desfilaram as escolas: União da Vila, Pandeiro de Prata, Academia de Samba Cohab I e Bom Sucesso.