Do disquete ao armazenamento de documentos na nuvem, Adriana da Leve vivenciou a evolução tecnológica dos últimos 20 anos. Trabalhando no setor de Tecnologia da Informação desde a década de 90, viu também as mudanças do mercado de trabalho e a luta das mulheres na busca por espaços. Ela tomou posse, há algumas semanas, da presidência do Polo Sul APLTEC (Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação e Comunicação). Primeira mulher a ocupar o cargo, ela reflete sobre questões de gênero, sobre sua trajetória no setor e também sobre as tendências de pensar no coletivo para um crescimento sustentável.
Uma pessoa que pensa fora da caixa. É assim que a nova presidente do Polo Sul se apresenta. Sempre com novos questionamentos, afirma que o que a mantém no setor de TI é a necessidade de querer trazer melhores soluções. “Sou grata por ter iniciado na década de 90. Isso me proporcionou vivenciar toda a mudança tecnológica dos últimos 20 anos. Comecei trabalhando com linguagem Cobol, disquete 1.44, fax, suporte via telefone e uma estrutura física grande para comportar equipamentos e pessoas. Hoje usamos Inteligência artificial para treinar ChatBots, notebooks para trabalhar, trocamos os servidores e nobreaks pela nuvem e estamos residentes em um parque tecnológico”, compara, sobre as mudanças digitais, que muito além de alterar lógica de produção, trouxeram novas maneiras de se relacionar, constituir identidades e se compreender enquanto sujeitos do mundo.
Lógica a qual Adriana estava atenta. “Na década de 90 resolvíamos necessidades operacionais, hoje resolvemos necessidades das pessoas, co-criamos e nosso modelo de negócio é inovação aberta. Comecei executando atividade de programação e hoje deixei a codificação para atuar em uma etapa antes, promover sensibilização para melhor compreender a necessidade a ser resolvida trazendo o usuário da tecnologia para construir junto. Foi um salto quântico para quem escolheu Computação para se envolver mais com máquinas do que com pessoas”, reflete.
Espaço das mulheres
Enquanto essas revoluções aconteciam, viu as mulheres ocuparem seus espaços, apesar do setor de TI ainda ser predominantemente masculino, conforme Adriana. “Sou a primeira mulher presidente do Polo Sul. Como todo universo com algum tipo de predominância, para se ganhar espaço é necessário buscar este espaço. Existem muitos relatos de preconceitos com mulheres nesta área, inclusive estatísticas que mostram a diferenciação entre homem e mulher na remuneração”, pontua. Disse nunca ter sofrido preconceito e nem ter se sentido intimidada por ser mulher.
As inspirações da nova presidente do Polo são mulheres do setor de TI. Entre elas, Grace Murray Hopper, a criadora do Cobol (linguagem de programação). Grace foi uma analista de sistemas da Marinha norte-americana nas décadas de 40 e 50. “O que precisamos é de iniciativas e apoio das próprias mulheres. É de grande importância as mulheres ocuparem seu espaço, isso traz equilíbrio à sociedade. Mulheres ocupando espaço de Gestão em iniciativas como o Polo, por exemplo, é uma oportunidade para que as outras mulheres sejam escutadas e se manifestem”.
Adriana espera que as mulheres do setor de TI de Passo Fundo e região se manifestem e procure o APLTEC. “As portas do Polo estão abertas para que as mulheres venham conversar, apresentar propostas de trabalho, necessidades, construir junto. Queremos criar um núcleo de mulheres na TI aqui em Passo Fundo”, enfatiza.
Polo Sul
Além do Polo, Adriana participa do Conselho de Ciência e Tecnologia, recém constituído em Passo Fundo e da AGS (Associação Gaúcha de Satrtups). Ela é sócio-proprietária da Splora, uma startup que trabalha com Inteligência Artificial, chatterbots (robôs que simulam conversas com seres humanos) entre outras tecnologias.
Ficará no comando do APL por um ano. Ela já integrava a diretoria da entidade desde 2017. “O Convite [para presidência] chegou em uma fase de transformação, tanto da nossa empresa como pessoal. Havia descontruído um padrão tradicional de empresa TI e construído um novo propósito, focando nas pessoas e colocando a tecnologia como meio e não como fim. Entendi que era hora de fazer a minha parte”, relembra.
O foco da gestão será pelo incentivo ao desenvolvimento saudável, com parcerias e com olhar humano nos relacionamentos interpessoais. “O guarda-chuva principal vai ser as pessoas e parcerias”, resume. Na composição da diretoria estão Odolir Reginatto (vice-presidente) e Jefferson Barros (secretário). “Somos uma gestão agregadora. Unidos pela vontade de transformar o ecossistema de Passo Fundo com tecnologia, inovação e parceria”. A programação para o ano está em discussão, com a intenção de agendar um café para apresentar o grupo aos pares e a sociedade do município.