Que o nível da educação tradicional, no Brasil, está um caos, não é nenhuma novidade. Não é nenhuma novidade, também, e porém, a desesperançadora falta de verbas para remunerar melhor os trabalhadores de tão importante segmento da atividade humana, ou, então, para equipar, ao menos minimamente, as escolas do país.
Mas eis que, de repente, surge, no fim desse assombroso túnel ou, quiçá, no fundo desse poço quase sem fundo, uma pequena luz. Todavia, esse pequeno facho luminoso, como tudo o que é novo, desafia quem teme o desconhecido e afronta quem faz qualquer coisa para não trocar o certo, ainda que trágico, pelo incerto, embora promissor. Refiro-me com isso tudo à bem- vinda Educação Domiciliar.
Apesar de uma enorme miopia com que grande parcela da sociedade analisa a questão, não parece difícil, ao menos àqueles que têm um pouquinho de discernimento, e boa vontade, ver que esse inovador sistema educacional desonera o Estado, qualifica o ensino e restabelece direitos democráticos previstos na Declaração dos Direitos Universais, na Constituição Federal e no Código Civil Brasileiro.
Mas o que move, afinal e efetivamente, um número tão grande de famílias (em 2018, eram mais de sete mil, no Brasil) a reivindicarem o direito à Educação Domiciliar?
Essas famílias são impelidas a isso, em primeiro lugar, pela colossal insatisfação relativamente ao sistema de ensino na educação formal e oficial brasileira. As famílias que chamam para si mesmas a responsabilidade pelo ensino dos próprios filhos veem, na escola tradicional, uma série enorme de deficiências, desmandos, desperdícios e riscos.
Esse descontentamento decorre, ainda, de muitos outros fatores: baixo nível do sistema tradicional de ensino, exposição dos filhos aos perigos das ruas, violência sexual e psicológica no caminho ou na própria instituição de ensino, discriminação na forma de bulling, tratamento igual a pessoas desiguais (“boiada” ou, então, “bananas encaixotadas”!), superficialidade com que são tratados os conteúdos, necessidade de melhor preparação dos filhos, quer para a sequência dos estudos, quer para a vida sócio-profissional, e pela ideologização do ensino.
Além disso, e como se disse lá no início, essas famílias detêm condições financeiras para bancar a preparação de um ambiente adequado para a educação em suas próprias residências, para a contratação de profissionais que elaborem o projeto exigido pelo Mec e para buscar, no mercado, os melhores professores em cada área do conhecimento humano.
É hora, pois, de abandonar preconceitos, aceitar o novo e permitir que, quem pode, partilhe com o Poder Público o ônus de ministrar um ensino mais qualificado e mais tranquilo a seus próprios familiares. Para tanto, é evidente, a há de haver humildade para se curvar ao filósofo que sentencia: “Tudo o que é vivo, tudo o que pulsa, tudo o que desafia, tudo o que faz crescer é incerto; só o que está morto é certo, é tranquilo, é definitivo”.
A certeza é fatal. O que me encanta é a incerteza.
A neblina torna as coisas maravilhosas.
Oscar Wilde
* O autor é professor (46 anos de magistério) e advogado.