A partir de informações divulgadas em uma série de reportagem do Intercept Brasil, o diretório municipal do Partido dos Trabalhadores (PT) organizou um ato pró-Lula na tarde de ontem (10), em frente ao Fórum de Passo Fundo. O objetivo da manifestação simbólica, de acordo com o presidente do diretório, Jorge Gimenez, foi o de mostrar, para a sociedade e para a opinião pública, que os apoiadores do partido estão atentos aos desdobramentos e querem reparação do que consideram uma injustiça ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Conforme o petista, o conteúdo divulgado pelo portal reforça a interpretação de que Lula é um preso político e foi impedido, por meio de perseguição orquestrada pelo judiciário, Ministério Público e Sérgio Moro, de concorrer nas eleições. “O judiciário cometeu um erro gravíssimo. Não vi nenhum advogado capaz de dizer que o que foi feito é legal”, destacou Gimenez.
No início da noite de domingo (9), o Intercept Brasil, um site de conteúdo jornalístico, publicou supostos trechos de conversas entre o hoje ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Sérgio Moro – à época juiz federal – e do procurador do Ministério Público Federal (MPF) Deltan Dalllagnol, um dos coordenadores da Operação Lava Jato em Curitiba.
Os supostos diálogos, captados entre 2015 e 2017, indicam proximidade entre Moro e Dallagnol, com orientações e críticas do então juiz a respeito da Lava Jato, além de demonstrar motivações políticas por parte dos procuradores em processos envolvendo o ex-presidente. Com as informações obtidas, o Intercept fez três reportagens. Na primeira, são reveladas motivações políticas dos procuradores do MPF em relação à entrevista de Lula ao jornal Folha de São Paulo durante as eleições. Em um diálogo, a preocupação de uma das procuradoras era de que uma entrevista de Lula pudesse “eleger o Haddad”.
Durante esse episódio, mais adiante, há críticas dos procuradores em relação á postura da Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge e elogios ao Partido Novo, que, à época, ingressou com uma liminar contra a entrevista de Lula. No grupo do Telegram, os procuradores comemoraram a decisão do ministro Luiz Fux, que atendeu ao pedido do Novo e não permitiu a entrevista durante a campanha. “Devemos agradecer à nossa PGR: Partido Novo!!!”, disse um dos procuradores.
Na segunda reportagem, são relatados os diálogos em relação à época da denúncia do MPF no processo criminal contra o ex-presidente pelo caso do tríplex do Guarujá. As trocas de mensagem dos procuradores no Telegram indicam insegurança de Dallagnol em relação à peça acusatória. “Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis… então é um item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até agora tenho receio da ligação entre petrobras e o enriquecimento, e depois que me falaram to com receio da história do apto… São pontos em que temos que ter as respostas ajustadas e na ponta da língua [sic]” segundo divulgado pelo portal de notícias.
Sobre esse episódio, ainda há a busca dos procuradores do MPF por reportagens que comprovassem que o apartamento era do ex-presidente. Uma reportagem de 2010, do jornal O Globo, é mencionada por eles. Porém, segundo o Intercept Brasil, o apartamento citado neste texto de O Globo ficava na torre B. Na denúncia, o tríplex era da torre A, que não havia sido construído em 2010. “A Lava Jato usou a reportagem como prova de que o apartamento era, sim, uma propriedade ou uma aspiração da família presidencial, mas indicou outro imóvel na denúncia”, disse o portal.
Por fim, a última reportagem revela mensagens entre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol. Segundo o site, Sérgio Moro, então juiz federal de 1ª instância, cobrou agilidade, sugeriu alterar a ordem das operações da Lava Jato, antecipou uma decisão e fez críticas ao Ministério Público e ao procurador. Segundo divulgado, os dois trocavam mensagens sobre questões de processos criminais. Em um dos casos, Dallagnol enviou a Moro “Caro, STF soltou Alexandrino. Estamos com outra denúncia a ponto de sair, e pediremos prisão com base em fundamentos adicionais na cota. […] Seria possível apreciar hoje?”. A resposta de Moro foi: “Não creio que conseguiria ver hj. Mas pensem bem se é uma boa ideia”. Alguns minutos depois, o juiz deu outro alerta: “Teriam que ser fatos graves”.