Apoio emocional no outro lado da linha

Como atuam os voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Passo Fundo na frente de prevenção ao suicídio

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Ramal 188 está disponível durante as 24 horas do dia de forma gratuitaRamal 188 está disponível durante as 24 horas do dia de forma gratuita
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“Como vai você?”. Desde maio de 2018, essa pergunta é repetida a cada nova ligação atendida pela central de acolhimento e escuta do Centro de Valorização da Vida (CVV), em Passo Fundo. Há cerca de um ano, a associação civil sem fins lucrativos estabeleceu um canal de comunicação direto e anônimo voltado à prevenção ao suicídio e ao suporte emocional na cidade.

“A comunidade deve perceber o CVV como um apoio porque a abordagem é centrada nas pessoas”, afirma Isabel*. Assim como ela, que preferiu utilizar um pseudônimo durante a entrevista concedida à reportagem do jornal O Nacional, 17 voluntários se somam na atividade de ouvir pessoas que telefonam para buscar auxílio e compartilhar aflições. “Muitas vezes, elas ligam porque se sentem sozinhas”, menciona. Em escala de plantões, como explica a psicóloga e presidente do Núcleo de Apoio à Vida de Passo Fundo (Navipaf), Ciomara Benincá, os dígitos 188 permanecem disponíveis durante todas as horas do dia, em todos os dias da semana. “O sigilo é absoluto sem a necessidade de identificação, tanto do voluntário quanto da pessoa que telefona”, assegura. De acordo com ela, a incidência maior de ligações acontece durante o período das madrugadas, finais de semana e datas festivas.
Capacitar para nutrir a empatia
Estar apto para ouvir o outro, no entanto, é uma habilidade que, segundo Isabel, se desenvolve durante os cursos de capacitação para o volutariado no Centro de Valorização da Vida. Em 10 encontros, os cidadãos que disponibilizam quatro horas semanais da rotina pessoal para estar do outro lado da linha telefônica são instruídos a acolher e escutar, tendo como foco principal a prevenção ao suicídio na abordagem individual de atendimento. “Nos chama a atenção a quantidade de jovens dispostos a colaborar com a causa”, aponta Ciomara.
Na segunda edição, o próximo encontro, como antecipa a tesoureira do Navipaf e voluntária do CVV, Silvia Benincá, será na quarta-feira (24), no espaço disponibilizado pela prefeitura Municipal de Passo Fundo, próximo à praça da Cuia. Assim como o governo municipal, conforme explica, a implementação do Centro de Valorização da Vida é viabilizado pelas parcerias solidárias firmadas entre entidades sociais, comunitárias e empresas privadas. “O Navipaf é a mantenedora do CVV porque ele não possui fins lucrativos. Porém, é necessário verba para as questões operacionais. Por isso, qualquer pessoa física ou jurídica pode colaborar”, indica. O custo das ligações é aportado pelo Ministério da Saúde, de modo a não ser cobrado do indivíduo que disca às centrais de atendimento em busca de apoio emergencial. “O CVV é um auxílio, não substituí a psicoterapia”, lembra a psicóloga Ciomara Benincá.

Passo Fundo na segunda posição nacional com as maiores taxas de suicídio
De acordo com dados divulgados pelo DATASUS, o Rio Grande do Sul apresenta os maiores índices nacionais de suicídio, com média de 10 casos notificados para cada 100 mil habitantes. Se estado de alerta, portanto, pudesse ser descrito em uma tabela, constaria no levantamento do Ministério da Saúde. Dos 20 municípios nacionais que apresentam as maiores taxas do ato intencional de tirar a própria vida, 11 são gaúchos. A cidade de Passo Fundo divide a segunda colocação nacional com o município de Patos de Minas (MG). Segundo o DATASUS, 12 suicídios são cometidos para cada 100 mil habitantes, na capital do Planalto Médio.
Em escala global, conforme sinaliza a Organização Mundial da Saúde, o suicídio de jovens de 15 a 29 anos de idade já é a 2ª principal causa de morte no mundo e “a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio”, prossegue o último relatório divulgado em 2016. Isso, segundo a entidade global, representa a morte intencional de 800 mil pessoas por ano ao redor do mundo.
CVV
Reconhecida como utilidade pública, o Centro de Valorização da Vida (CVV) foi criado em 1962, em São Paulo. Através da linha 188, começou a funcionar no Rio Grande do Sul de forma pioneira, por ser um número gratuito. A unificação nacional dos dígitos iniciou no ano seguinte. O CVV atua em 19 estados do Brasil e no Distrito Federal com a participação de 2.400 voluntários, como informa a página da entidade na internet. No ano passado, o centro recebeu 2 milhões de antendimento nos 110 postos descentralizados.
Os telefones funcionam durante todo o dia e o auxílio é fornecido, ainda, nos endereços https://www.cvv.org.br/, via e-mail ou chat.



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