Um grupo formado por diferentes setores do complexo agroindustrial da canola vistou lavouras no Paraná e no Rio Grande do Sul, no início do mês. Apesar da incidência de geadas ao longo do inverno, os danos foram localizados e não deverão comprometer a safra de canola, estimada em quase 50 mil toneladas.
No Rio Grande do Sul, onde está 92% do cultivo de canola, a Associação Brasileira de Produtores de Canola (Abrascanola) organizou uma visitação às lavouras em formato de rally. Em Santo Ângelo/RS, o produtor Pedro Cargnelutti apresentou o manejo adotado na lavoura, com cuidados no escalonamento de semeadura para reduzir o risco de perdas por geadas.
O produtor Jorge Dal Berto Rapachi também avalia estratégias para proteger os 120 hectares de canola em cultivo em Giruá/RS. Mesmo com a ocorrência de três eventos de geadas na área, a expectativa é de rendimento de 25 sacos por hectares (1.500 kg/ha).
Apesar dos desafios, o pesquisador Marcos Carrafa, do Setrem, em Três de Maio/RS, avalia a importância da canola no sistema produtivo: “A canola complementa o sistema produtivo, junto com o trigo, o milho, a soja. É preciso avaliar a rotação e não apenas a cultura isolada”, explica o pesquisador que conduz experimentos com canola na região noroeste do RS desde 2002. “Não podemos copiar a tecnologia, mas adequar a canola a cada região, a cada realidade local”, conclui.
Regionalizar os conhecimentos é a proposta da Embrapa Trigo. Segundo o analista Paulo Ernani Ferreira, é preciso incentivar os produtores e a assistência técnica a conduzir experimentos locais e difundir os resultados. “Existe muito conhecimento sendo gerado em nível local que precisa chegar ao produtor. Somente no Rio Grande do Sul podemos identificar três regiões bem distintas de cultivos, com características de clima, altitude, relevo e solo bem variados. Não é possível empacotar o sistema de cultivo de canola sem adaptações às particularidades regionais”, avalia Ferreira.
Resultados
A área de canola no Brasil nesta safra é de 35 mil hectares (CONAB, set2019), com estimativa de produção de 50 mil toneladas.
De acordo com o Presidente da Abrascanola Vantuir Scarantti, apesar de algumas áreas sofrerem danos devido as geadas, a maioria das lavouras registra bom desenvolvimento e a expectativa é de produtividade média de 1.500 quilos por hectare. A colheita deverá encerrar ainda no mês de setembro. “O custo de produção ficou em torno de 15 sacas por hectare, o que deixa a canola como uma opção interessante de rotação de cultura e de renda para o produtor neste período do ano, uma vez que muitos contratos já são fechados com empresas antes mesmo da implantação das lavouras”, avalia Vantuir, destacando que a demanda brasileira de óleo comestível necessita do equivalente à 100 mil hectares de canola. Assim, a Abrascanola busca incentivar os produtores a investirem mais neste cultivo para suprir uma maior parte do consumo nacional e diminuir a necessidade da importação.
“Como a canola tem uma cadeia produtiva ainda pequena, foi possível reunir todos os segmentos e atores interessados na cultura, com diversidade para discutir aspectos econômicos, comerciais e tecnológicos durante os encontros. A troca de informações é necessária para aprimorar o sistema de produção posicionando a canola num encaixe que traga renda ao produtor”, finaliza o pesquisador da Embrapa Trigo, Jorge Gouvêa.