A alegria das cores que tingem os longos tecidos usados pelos senegaleses se complementava aos sorrisos de boas-vindas a cada nova pessoa que adentrava ao salão de festas, no bairro Boqueirão, reservado especialmente para a quinta-feira (17) quando, ao longo de todo o dia, a comunidade senegalesa celebrou a festa Grand Magal de Touba.
A data obedece ao dia 18 de Safar, considerado o segundo mês do Calendário Islâmico - que é lunar e 11 dias mais curto que o gregoriano -, e lembrado por eles como marco de exílio do líder muçulmano Cheikh Ahmadou Bamba pela liberdade religiosa do Senegal ainda quando o país africano era colônia dos franceses, no ano de 1985. "Não é um evento pequeno", resume o membro da Associação dos Senegaleses de Passo Fundo, Cheikh Bou Dia. O dia cerimonioso, aliás, é a principal festa do país capaz de atrair milhões de devotos e turistas na tradicional peregrinação ao tempo localizado na cidade de Touba, considerada sagrada por eles.
Ainda que estejam distante da terra natal, os imigrantes uniram a religiosidade da data à oportunidade de integração com os brasileiros. Em Passo Fundo, por exemplo, a coletividade senegalesa, que congrega cerca de 300 pessoas, promoveu, do amanhacer ao pôr-do-sol, diversas atividades gastronômicas e culturais em um abrir de portas ao intercâmbio linguístico entre ambas nacionalidades. "É uma forma de mostrarmos os costumes. Quem foi uma vez, sempre pede quando vai acontecer de novo", conta Dia.
Na programação, a comunidade senegalesa propôs momentos de leitura do Alcorão - livro sagrado do Islã - já no amanhecer, além de canções populares do Senegal e glorificação do líder celebrado. No intervalo entre as atividades, três refeições foram servidas, de forma gratuita. "Ninguém pode manter a tua cultura além você mesmo", disse Bou Dia. No próximo ano, como adiantou ele, os imigrantes senegaleses residentes em todos os estados brasileiros devem encontrar-se em Passo Fundo para a celebração anual.
Amadou Bamba
Fundador da cidade Touba, que em árabe significa ‘felicidade’ ou bem aventurança, no ano de 1887. Seus seguidores são chamados de Mourides (Aquele que deseja). Eles representam um sexto do total da população no Senegal. Considerado por seus seguidores como um renovador do islã, Amadou foi sepultado em 1927 na grande mesquita em Touba, a cidade santa e centro do movimento Mourides.