Em apenas um ano de atividade, o posto passo-fundense do Centro de Valorização da Vida (CVV) já registrou mais de 20 mil atendimentos através do telefone 188. Voltado ao apoio emocional e à prevenção do suicídio, o serviço é gratuito e destinado a qualquer pessoa que precise de alguém para conversar. Quem presta o atendimento é uma equipe de voluntários interessadaem diminuir os alarmantes índices de suicídio do país – conforme estimativa do CVV, diariamente, cerca de 30 brasileiros tiram a própria vida, chegando a 11 mil casos de suicídio por ano.
Em Passo Fundo, o CVV é mantido pelo Núcleo de Apoio à Vida, uma organização sem fins lucrativos que foi fundada,no ano de 2018, por um grupo de voluntários liderados pela psicóloga Ciomara Benincá. Eles temiam que o aumento gradativo no número das vítimas de suicídio em Passo Fundo não pudesse ser freado sem ações preventivas mais efetivas, como é o caso do CVV. Conforme explica o coordenador do posto local, Carlos Nunes, que também atua como voluntário nos atendimentos telefônicos, o programa tem se mostrado uma ferramenta fundamental na prevenção do suicídio. “Muitas vezes, as pessoas necessitam apenas de alguém que as escute com respeito, sem julgamentos ou aconselhamentos. Alguém que valorize seus sentimentos. Como o nome diz, essa é uma forma de valorização da vida”, explana.
Para auxiliar no projeto, no ano passado, a Prefeitura de Passo Fundo cedeu ao CVV um espaço físico junto ao Hospital Dr. César Santos, onde os voluntários recebem as ligações de pessoas de todo o Brasil que precisam de ajuda. O atendimento é anônimo e confidencial, a fim de preservar a identidade de todos os envolvidos na conversa. Isto significa que, ao invés de informar seu verdadeiro nome, tanto o voluntário quanto a pessoa que está sendo atendida, utiliza um pseudônimo durante o diálogo. Além de tornar o processo mais seguro, o anonimato torna o contato mais confortável para quem busca ajuda.
Atendimento livre de julgamentos
Atualmente, o CVV Passo Fundo conta com 28 voluntários envolvidos nos plantões do projeto e outros cinco disponíveis na parte de apoio – no Brasil, esse número chega a quatro mil participantes espalhados por 120 municípios.Conforme salienta o coordenador local, durante o programa de seleção de candidatos todos os voluntários passam por um treinamento especial, com duração de 36 horas, para que estejam de fato preparados para prestar um atendimento tão delicado. “O foco [do treinamento] é na escuta integral da pessoa que está ligando, com respeito, aceitação e buscando sempre a compreensão do sentimento que esta pessoa nos traz, sem julgamentos ou aconselhamentos”.
Uma das voluntárias mais antigas, a pedagoga passo-fundense que atende pelo pseudônimo de Isabel (e que prefere não informar seu verdadeiro nome), conta que a experiência pode ser transformadora não apenas para quem está do outro lado da linha, mas também para quem se dispõe a atender o telefonema. Atuando como voluntária desde que o projeto foi fundado, ela admite que quando se candidatou – depois de ver um anúncio nas redes sociais sobre a chegada do CVV a Passo Fundo – ainda sabia muito pouco sobre a filosofia do programa. “Mas, à medida que vamos conhecendo essa filosofia, ela passa a ser o nosso jeito de ser. Estar disponível exige disciplina, comprometimento e um desejo grande de querer servir àquele que busca no CVV uma forma de compartilhar sentimentos, aliviar angústias ou simplesmente saber que há uma pessoa do outro lado da linha. É uma doação que vai muito além do tempo ofertado durante o plantão... Exige uma integralidade de corpo e alma”, comenta.
Embora revele que, no início, a tarefa pode ser árdua, Isabel acredita se tratar de uma atividade recompensadora. “Foram mais ou menos três meses de formação até o início dos plantões...Demanda um movimento interior muito grande, mas hoje posso garantir que é um trabalho lindo.Sentimos de perto a importância do nosso trabalho. Vemos que algumas barreiras estão sendo quebradas com relação à importância do ‘falar’, porque é realmente a melhor opção. As pessoas que nos procuram estão vulneráveis e, por isso, oferecemos simplesmente apoio sem exigências ou interferências na vida dela, tratando-a com respeito, compreensão, aceitação e confiando em sua capacidade e potencialidade individual”.
Como ser um voluntário
Apesar de contar com um número significativo de voluntários envolvidos na iniciativa, segundo Carlos Nunes, o CVV Passo Fundo ainda precisa de pessoas interessadas em ajudar. Cerca de 15novos voluntários são necessários para que o posto possa realizar atendimentos 24 horas por dia. A candidatura é bastante simples. Basta ser maior de 18 anos, se identificar com a causa da prevenção do suicídio, realizar o curso de seleção de voluntário e ter disponibilidade de 4 horas/semana ou 8 horas/quinzenais para o trabalho voluntário. Interessados podem enviar seus dados e se inscrever para o próximo curso, que iniciará em abril/2020, através do email: [email protected].
Atendimento
Os atendimentos do CVV são realizados gratuitamente, sem tarifa de ligação, em todo o território nacional pelo fone 188. Ao realizar a ligação, a pessoa pode ser atendida em um dos 120 postos do Brasil, de forma sigilosa. O atendimento telefônico funciona 24 horas/dia durante todos os dias do ano. É possível, também, ser atendido via chat, pelo site: cvv.org.br.