Nos dois primeiros meses do ano, cinco ataques de abelhas provocaram a morte de três pessoas, na região norte e noroeste do Estado. Especialistas dizem que estes ataques são considerados bastante comuns. Com um instinto de proteção coletivo bastante aguçado, as abelhas costumam atacar quando observam uma movimentação estranha no entorno da colmeia. O agrônomo, doutor em produção animal, Hélio Rocha, destaca que não pode ser considerado incomum incidentes com abelhas. Mesmo que estas ocorrências sejam menos frequentes do que com outros animais, há estudos que indicam uma quantidade relevante de ocorrências fatais, principalmente no meio rural. Ele explica que os ataques acontecem principalmente pelo comportamento destes insetos. O agrônomo comenta que abelhas mais agressivas começaram a entrar no Brasil à partir da década de 1950, pois antes disso, as espécies introduzidas ,principalmente por imigrantes alemães e italianos, não tinham tanta agressividade. Mas na década de 1950, com o objetivo de melhorar a produtividade de mel, foi introduzida uma espécie oriunda do continente africano. O híbrido resultante demandava um manejo mais cuidadoso, pois aproximadamente 30% dos indivíduos tinham um comportamento mais agressivo. “Foi a partir deste processo que começaram a ser registrados incidentes com as abelhas, pois muitos produtores de mel tinham as colmeias perto de sua casa”, comentou ele. Somente depois de entender o comportamento desta subespécie, que se entendeu a necessidade da utilização de máquinas de fumaça mais potentes e roubas para apicultura mais protegidas. As abelhas resultantes da hibridização das espécies da África e Europa têm uma produção de mel muito maior, e um trabalho de polinização mais amplo, porém as rainhas das colmeias têm uma “zona de exclusão” bastante definida. “Pode ser homem ou animal, qualquer um que entrar na zona de exclusão da colmeia será atacado, pois é o seu instinto de defesa”, disse ele. Além do fator genético, questões ambientais também influenciam no comportamento das abelhas, períodos do ano mais quentes, e períodos onde há muitas flores são períodos em que os ataques são mais frequentes. “Quanto maior a colmeia, mais perigosa ela é, pois as abelhas produzem um feromônio que indica a presença de perigo próximo à colmeia, e assim pode haver um ataque de um grande número de abelhas”, disse ele. Prevenção O Tenente-Coronel Alexandre Pires Bitencourt, comandante do 7º Batalhão de Bombeiros Militares de Passo Fundo, destacou é importância de o trânsito de pessoas perto das colmeias. “Nossa orientação é que as pessoas não mexam nas abelhas, pois vai acontecer o ataque. Os bombeiros atuam na remoção das colmeias quando elas estão em locais públicos. Nós vamos até o local, realizamos a remoção e encaminhamos para um apiário”, comentou ele. Em caso de propriedades rurais, por exemplo, os bombeiros aconselham que o agricultor entre em contato com associações de apicultores para que a colmeia seja removida por uma pessoa que utilize o material de proteção necessário. O comandante enfatizou que em hipótese alguma as pessoas devem tentar exterminar uma colmeia. “A abelha é um inseto importante para o equilíbrio ambiental, por isso, não devem ser exterminadas e, ao eliminar uma colmeia, além de se colocar em risco, a pessoa estará cometendo um crime ambiental”, explicou. Em caso de ataque, os bombeiros recomendam que a pessoa se afaste de forma mais rápida possível da colmeia, protegendo especialmente os braços e o rosto. E caso seja picada, deve procurar atendimento médico. Apicultores conhecem os perigos O apicultor Francisco Lucacheski tem 73 anos e trabalha com apicultura desde os 12. Um ofício herdado do pai. Mesmo não sendo a principal atividade da sua propriedade rural, localizada na cidade de Centenário, norte do RS, ele está fazendo investimentos para aumentar a produção de mel. Atualmente são 33 caixas com abelhas, que produzem entre 27 e 30 quilos de mel todos os anos. Ele explica que é importante tomar o máximo de cuidado, pois as abelhas são muito perigosas, e, muitas vezes, não é recomendável chegar perto das caixas. “Eu tenho todos os apetrechos, como fumegador, macacão, luvas, botas, pois assim eu posso trabalhar com elas mais tranquilo. Algumas abelhas são bastante agressivas, eu nunca fui picado, mas na minha propriedade já perdi uma vaca de leite e um boi. Não foi possível salvar os animais, mesmo com a vinda de um veterinário”, comentou ele. Casos registrados no RS em 2020 - Ronda Alta - No dia 20 de janeiro, Adair Balen, de 60 anos, trabalhava na lavoura quando foi atacado por um enxame de abelhas no interior do município, ele foi encontrado sem vida por vizinhos. - Santa Rosa – No dia 1º de fevereiro, Anastácia Nassinhak, de 88 anos, morreu após ficar dois dias hospitalizada. Ela estava em casa quando foi atacada pelas abelhas. A família relatou que ela estava com mais de mil picadas pelo corpo. - Ronda Alta – No dia 4 de fevereiro uma família foi atacada por um enxame de abelhas na comunidade de Linha Brilhante. Os bombeiros foram acionados e encontraram a família fechada dentro de casa aguardando por socorro. Apesar do susto, ninguém se feriu com gravidade. - Carazinho – No dia 6 de fevereiro uma mulher de 39 anos foi atendida pelo Corpo de Bombeiros e conduzida ao hospital com mais de 400 picadas de abelhas pelo corpo. - Ijuí – No dia 10 de fevereiro Helmuth Janke, de 84 anos, morreu no HCI, onde estava internado. No dia 4 de fevereiro ele foi fazer um trabalho de capina em sua propriedade rural quando foi atacado pelas abelhas. Inicialmente foi conduzido para o hospital em Panambi, mas posteriormente foi transferido.
Especialistas alertam sobre os perigos das abelhas
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