Cuidados neonatais para filhotinhos de puma

Com dez dias de vida, eles estavam numa caixa na beira da estrada em Vacaria

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Filhotes ainda estão em fase de amamentação (Fotos: Divulgação)Filhotes ainda estão em fase de amamentação (Fotos: Divulgação)
Filhotes ainda estão em fase de amamentação (Fotos: Divulgação)
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Sábado, 15, o Hospital Veterinário da Universidade de Passo Fundo acolheu dois filhotinhos de puma. Os pequenos felinos foram recolhidos em Vacaria e encaminhados à UPF, onde recebem os cuidados do Grupo de Estudos de Animais Silvestres. “Eles foram encontrados na beira da estrada, as pessoas chamaram a Brigada Militar e, num trabalho de união com a ONG Amigos do Bicho de Vacaria, a Polícia Rodoviária Federal ajudou no transporte dos filhotes de Lagoa Vermelha para Passo Fundo”, explicou a Doutora Michelli de Ataide, coordenadora do GEAS. Essa agilidade na logística também foi importante para a saúde dos bichinhos. “Chegaram bem de saúde. Eles não ficaram muito tempo sem mamar. São novinhos, têm em torno de 10 dias, praticamente recém-nascidos, e abriram os olhinhos há pouco”, completou a médica veterinária.

Abandonados numa caixa

Os animais foram encontrados abandonados em uma caixa, na BR-285 entre Vacaria e Lagoa Vermelha. “Eles não saem de perto da mãe. Ou a mãe foi morta ou eles foram roubados. Pode ser tráfico de animais silvestres ou, então, alguém os encontrou e acabou deixando-os na estrada, com medo de envolvimento, pois havia uma blitz na rodovia”, avalia a professora e cirurgiã-veterinária da UPF. Essas possibilidades têm por base que, além da existência do tráfico, ainda persiste a caça de animais na região. Assim, se a puma-mãe desapareceu, não seria surpresa encontrar a sua cabeça na sala de um caçador como um troféu, autêntica glória da ignorância manchada pela crueldade. Mas essa é apenas uma entre tantas suposições. Tomara que a mamãe esteja no seu habitat, o que poderá ser muito útil para os filhotes num futuro próximo.

Um felino conhecido

Os filhotinhos de puma são um casal. A fêmea pesa 1,5 kg e o macho 1,3 kg. “Não são irmãos gêmeos, pois há uma diferença entre eles. Normalmente o macho é maior do que a fêmea”, concluiu Michelli. A identificação da espécie foi fácil. “Pelas fotos, já falei que realmente eram filhotes de puma. Quando eles chegaram, vi de perto e defini”. O puma é um felino encontrado na América do Sul, na região pampiana e no cerrado. “É muito comum do Rio Grande do Sul até o Paraná e São Paulo, além de Uruguai e Argentina”. É um felino de grande a médio porte, pesando de 35 a 40 kg. Segundo Michelli, “eles são carnívoros e contribuem no controle de pequenos mamíferos (predadores). Só atacam seres humanos quando encurralados”.

Sem nomes e pouco contato

Os pequenos pumas estão sob os cuidados de veterinários e biólogos do HV da UPF. Recebem leite com formulação especial para filhotes de felinos. A fase é de cuidados neonatais, através de estímulos que correspondam às tarefas maternas. Mais tarde, após o desmame, por volta de 45 a 50 dias, atingirão o estágio ideal para a introdução de carnes diversas. Porém, isso tudo é realizado com muito respeito às origens silvestres dos bichinhos. Por mais fofinhos que sejam sequer receberão nomes. “Seria muita afeição diante da possibilidade de eles voltarem para a vida silvestre. Por isso, somente poucas pessoas da equipe têm contato com eles”. O futuro da duplinha ainda é incerto. “A gente dá o diagnóstico, mas as autoridades ambientais (Sema-RS/Ibama) é que farão a destinação. Dependendo da espécie, pode ser a simples soltura (aves), cativeiro (quando não têm condições de voltar à vida silvestre) ou devolução ao local de origem. Mas isso nem sempre é possível. É necessário avaliar bem o ambiente”.

Quando o bicho aparece...

No Hospital Veterinário da UPF os pacientes são das mais variadas espécies. Lá estão internados tucanos, papagaios, serpentes, cervídeos, corujas e muitas mais. Mas a remoção de bichinhos machucados ou abandonados não é tarefa simples, alerta Michelli. “Ao encontrar um animal silvestre a pessoa não deve mexer nele, sem saber o que aconteceu. Então, primeiro deve observar se ele está só”. As informações devem ser relatadas aos agentes policiais mais próximos. Também podem buscar suporte junto ao GEAS da UPF, para receber as orientações sobre os procedimentos corretos.

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