Famílias podem se cadastrar para acolher crianças em situação de risco social

Em Passo Fundo, oito adolescentes aguardam pela adoção enquanto 35 estão acolhidos em lares temporários

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A decoradora de festas infantis, Samanta Maria Leme de Almeira Prado Weber, guarda na memória, e em registros fotográficos, o rostinho da primeira criança que lhe foi entregue para acolhimento temporário. O menino, de um ano e meio, chegou tímido e um pouco assustado, “como todas as crianças nesta condição”, achou importante ponderar, para conviver com a família até o ambiente familiar biológico se mostrar seguro.

No decorrer dos 16 anos desde que partiu de São Paulo rumo a Passo Fundo, Samanta já recebeu sete pareceres favoráveis para abrigar os pequeninos cidadãos em situação de vulnerabilidade social que foram retirados dos lares de origem para proteção infantil. “Eu já atuava como voluntária nas casas de acolhimento paulistas e, quando vim para cá, não havia a possibilidade de continuar o voluntariado. Então, foi uma maneira que encontrei para ajudar as crianças de alguma forma”, contou. A casa onde mora com o marido e os dois filhos ultrapassa o entendimento que temos de moradia. Perante a Justiça Brasileira, o lar de Samanta não é apenas um espaço para compartilhar rotinas, refeições e períodos de descanso, mas é um local de acolhimento. “Sempre que elas chegam, explicamos o nosso papel de família acolhedora até que o juiz determine o regresso”, afirmou ela que, agora, resguarda uma menina de 10 anos.

A pequena é, junto a outras 34 crianças e adolescentes passo-fundenses, uma das faces da modalidade conhecida como guarda subsidiada. Nela, as famílias acolhedoras, como a de Samanta, não se comprometem a assumir a criança como filho. Elas são, na verdade, parceiras do sistema de atendimento e auxiliam na adaptação para o retorno à família biológica ou para ingresso na fila de adoção, segundo o entendimento legal. “Através do acolhimento, podemos orientar e corrigir comportamentos que não são legais, além de romper aquele ciclo de tristeza e fomentar o sonho. Quando elas saem daqui elas já saem sonhando e isso nos traz uma alegria muito grande”, atestou Samanta.

Adoção tardia

O promotor de Justiça da Promotoria Especializada em Infância e Juventude de Passo Fundo, João Paulo Bittencourt Cardozo, destaca que os índices de destituição familiar, no município, são consideravelmente baixos para o porte populacional. “O que se nota é que o trabalho técnico em Passo Fundo é muito bom. Para uma cidade com esse número de habitantes, temos oito adolescentes na fila para adoção”, disse. Nos dois abrigos públicos, antes conhecidos por orfanatos, a idade é o principal entrave para que estes jovens recebam o abraço de uma das 104 pessoas cadastradas como pretendentes adotivos. “Quando os adolescentes vão chegando nessa idade, alguns preferem trabalhar a independência. O que leva a retirar uma criança de uma família é a vulnerabilidade. É importante as pessoas considerarem e abrirem o leque para a adoção tardia. Eles estão ali esperando uma família", enfatizou o promotor.

A maioria dos cadastrados no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), conforme ponderou Cardozo, espera por bebês ou crianças menores retiradas dos braços maternos por estarem em ambientes impróprios, marcados pelos cenários de drogadição, alcoolismo e violência. “Seguidamente, chega criança recém-nascida e se trabalha para ver se tem como recompor o núcleo familiar porque a primeira coisa que o Direito quer é que a criança fique no seio familiar”, esclareceu o promotor. 


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