Limpeza de terrenos, realização de fretes e a venda de maçãs do amor, são algumas das atividades que funcionários do Rei Center Park, instalado desde o final de dezembro em Passo Fundo, estão adotando para sobreviver. Desde o decreto do governador Eduardo Leite, determinando bandeira preta em todo o estado, há 45 dias, os brinquedos do parque permanecem parados e o portão fechado.
“A gente está acostumado com uma rotina, sempre no meio do povo, aí vem uma pandemia. Tivemos que parar de repente e se adaptar”, conta o funcionário Eleandro Alves, funcionário do parque há quase dez anos.
A estrutura do Rei Center chegou a Passo Fundo no final de dezembro, mas os portões somente foram abertos no início de janeiro. O movimento, principalmente nos fins de semana, animou os funcionários e acenou para a possibilidade de amenizar os prejuízos acumulados no ano passado, quando ficaram oito meses fechados em Erechim, pelo mesmo motivo: a pandemia. A expectativa não durou por muito tempo. No dia 22 de fevereiro, o decreto estadual determinou novo fechamento.
“Nós nunca pensamos na vida que aconteceria isso. Ninguém pensaria, nós que somos dos parques de diversões achamos que ia ser fácil, mas não está sendo não”, diz o gerente Cristiano B. Pedroso.
Antes da pandemia, o grupo visitava em torno de 12 cidades por ano, ficando no máximo dois meses em cada uma delas. “É complicado, porque as contas não batem e eles não querem saber, as contas, os boletos. Volta e meia recebo ligações”, relata Cristiano. “O salário está parcelado porque não tem como, o dono sem ganhar na bilheteria não tem como nos pagar”, reforça Eleandro.
Funcionários
Grande parte dos funcionários, especialmente os temporários, precisou ser dispensada. Para quem tem carteira assinada, o emprego está garantido pelo menos até junho. Isso porque a empresa aderiu a uma medida do governo federal que impede as demissões. Nessa lista estão algumas poucas famílias com crianças. Eleandro precisou levar a esposa e o filho para São Leopoldo, há um mês devido ao risco de contaminação. “A saudade é bastante, é complicado”, diz o parqueiro. Já Eduarda dos Santos Lankamer, que trabalha há três anos no parque na cozinha e venda de Crepes, vive no local com o marido e o filho de sete meses. “Estamos precisando de ajuda, não pode trabalhar e aí como está fechado não entra dinheiro. E eu tenho o nenê, preciso de ajuda também, a gente está se virando como pode”, conta a jovem.
Bicos
Para se manter, os funcionários buscam trabalhos alternativos. “A gente faz bicos, frete para mudança, limpa pátio, corta grama e essas coisas”, explica Cristiano. O dinheiro do trabalho é utilizado para o estoque de comida, de acordo com o gerente. Eles também estão recebendo algumas doações que auxiliam a completar a renda. “Tem gente precisando mais que nós, mas estamos na luta”, explica o gerente. Uma publicação chegou a ser feita por Eduarda nas redes sociais, oferecendo até encomenda de maçãs do amor, para divulgar os trabalhos realizados pelos funcionários.
Além dos trabalhos alternativos, mesmo sem a presença do público, eles seguem trabalhando no parque. “Também estamos fazendo a manutenção e pintando os brinquedos, para manter em ordem para quando abrir estar tudo bonito”, ressalta Cristiano.
Expectativa
Vivendo nessa rotina, os funcionários esperam pela reabertura. “A gente espera que a bandeira volte para a vermelha pelo menos, já que não vai voltar para laranja, voltando para a vermelha já nos ajuda a abrir com a capacidade de 25% e pagar as contas, ganhar um dinheiro”, explica o gerente.
“Eu espero que o parque abra de uma vez para a gente poder trabalhar e que passe tudo isso porque todo mundo precisa trabalhar, todos precisam”, ressalta Eduarda. Cientes da situação da pandemia, caso a bandeira não seja alterada, a esperança é por algum auxílio. “Eu queria que ajudassem a gente, algum auxílio, porque vivemos disso aqui, se está fechado a gente não tem como se manter”, desabafa a jovem, de 22 anos.