É por meio de um portão que o neto Fabiano e a bisneta Helena matam a saudade da avó Suely. A idosa vive em uma Instituição de Longa Permanência (ILPI) e, mesmo vacinada, segue sem receber o abraço dos familiares. Uma rotina que não se altera há um ano. Cansados da situação, contam que a vacina trouxe mais segurança e que a conversa, mesmo distante, ajuda com a saudade.
A suspensão das visitas é uma norma determinada pelos protocolos de bandeira preta e mostra como a vacina não aliviou as restrições nas ILPI devido ao cenário geral da pandemia. A Dona Nazy Espinola, orgulhosa em anunciar seus 90 anos, tomou a primeira dose da vacina em casa. A imunização completa com a segunda dose ocorreu na Casa Santa Catarina. Ela conta que ficou feliz pela vacina e que aguarda ansiosa para os quatro filhos também se vacinarem. Um deles passa pelo local todas as tardes para conversar através do portão ou para deixar algum presente. “Sinto falta porque antes não tinha esse problema”, conta Dona Nazy.
As ILPIs foram alguns dos locais mais afetados pela pandemia de Covid-19. As casas abrigam justamente pessoas que pertencem a dois grupos de risco da doença: idosos e pessoas com comorbidades. Por isso, elas foram contempladas logo nos primeiros lotes das vacinas contra a Covid-19.
“Os casos caíram bastante, tanto que a gente não tem nenhum surto em aberto”, destaca a coordenadora da Vigilância em Saúde do município, Marisa Zanatta, sobre a situação das ILPIs após a vacinação. A questão das visitas será analisada após a publicação do decreto que determina a bandeira vermelha. “Se de fato vier para vermelha, talvez a gente consiga liberar”, disse Marisa.
Casas
Primeira instituição a declarar surto de Covid-19 no ano passado, o Abrigo Nossa Senhora da Luz (HSVP) relata que a espera pela vacina foi com ansiedade, pelos idosos e funcionários. “A vacina foi uma esperança de que a situação melhore, até porque teve todo o estresse pelo surto”, explica o presidente Jonatha Souza. A instituição ainda deve demorar para voltar a receber visitantes. “A gente vai esperar mais, pelo menos toda a comunidade voltar a ter uma certa normalidade. A princípio tendo a vacina num certo percentual da população”, informou o presidente, explicando que essa é a normativa da Sociedade de São Vicente de Paulo.
A expectativa pela vacina também foi grande nas ILPIs da Fundação Lucas Araújo. “Os idosos aguardavam muito, alguns tinham uma vida externa, de vez em quando saíam, agora eles estão ansiosos para essa outra fase”, conta o presidente das instituições, Luiz Costella. Assim como as visitas, as saídas também não estão permitidas. A Fundação aguarda mudanças nos protocolos para retomar visitas agendadas e com distanciamento. Quanto às outras medidas, como uso de EPIs e higienização, pouco mudou. “Tudo a mesma coisa, a gente não baixou a guarda”, afirma Luiz. Apesar da ansiedade dos idosos e familiares, o presidente lembra um aspecto importante sobre a imunização. “A vacinação tem seus limites, a gente teve casos de Covid entre a primeira e a segunda dose, mas depois da segunda não tem conhecimento”, explica Luiz.
A Casa Santa Catarina também foi uma das primeiras a registrar um surto no ano passado, mas afirma que depois desses casos não teve novas infecções do coronavírus. O momento da chegada da vacina é lembrado com alegria. “Foi um misto de ansiedade com a chegada da vacina e sensação de dias melhores chegando. Eles estavam muito ansiosos e as famílias foram muito receptivas”, conta uma das enfermeiras, Bruna Thill. Para amenizar a saudade dos familiares, a casa realiza chamadas de vídeo diariamente, além de enviar fotos e vídeos em um grupo do WhatsApp. “Trouxe esperança, mas não aliviamos em nenhum momento os protocolos”, afirma a instituição sobre a vacinação.
Notícia atualizada às 16h18