Em tempos de pandemia, a bike se destaca como meio de transporte

Se antes da pandemia do coronavírus o uso de bicicleta já estava em alta, em época de distanciamento social, ela virou uma boa opção para o deslocamento

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 Fotos: Natália Fávero/UPF Fotos: Natália Fávero/UPF
Fotos: Natália Fávero/UPF
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A busca por meios de transportes alternativos para ir trabalhar em época de pandemia de coronavírus é uma forma de garantir o isolamento social durante o trajeto e evitar a contaminação pela covid-19. Por isso, a bicicleta vem ganhando a confiança e se destacando como um dos meios mais seguros neste período. No ano passado, por exemplo, em meses críticos da pandemia, foi registrado um aumento de 100% nas vendas de bike no Brasil, conforme levantamento da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike). Na Universidade de Passo Fundo (UPF) alguns adeptos a esse meio de transporte confirmam os inúmeros benefícios de utilizar a bicicleta no dia a dia.

“Eu sempre tive o sonho de morar relativamente perto do meu trabalho e não depender de nenhum transporte que queime combustível fóssil. Então, organizei a minha vida nesse sentido e a bicicleta passou de um meio de lazer para o meu meio de transporte principal desde 2017. Eu me desloco a todos os lugares com a bicicleta”, revelou o professor da UPF, Dr. Ivan Dourado, que antes da pandemia fazia, em média, seis deslocamentos por dia de bike, entre a Universidade e a sua casa, que fica cerca de um quilômetro de distância do seu trabalho, o que dá aproximadamente meia hora por deslocamento, e que durante a pandemia, mesmo com menos deslocamentos na semana, mantém o hábito.

Para o professor, esse é o meio de transporte mais ecológico, saudável, ágil e econômico. “Eu resolvi usar a bicicleta como meio de transporte porque une consciência ecológica, saúde e autonomia. Eu não preciso, independente do preço do combustível, do trânsito, eu me desloco com liberdade e qualidade, de forma livre. Eu me sinto muito feliz quando eu estou pedalando, eu enxergo as pessoas e o que estou fazendo, e isso me faz muito bem”, declara Dourado.

Em época de pandemia, a bicicleta só reforça a sua importância e segurança como meio de transporte. “No contexto de pandemia, a vantagem de se deslocar de bicicleta é que você não se coloca em uma situação de risco, no sentido de risco biológico. Eu sempre pedalei de máscara por causa do frio e da poluição, então, isso não mudou muito para mim. Mas, a bike dá a possibilidade de a gente estar seguro, se colocando numa velocidade maior do que um ônibus, e, muitas vezes, do que o carro, dependendo do trânsito, e você está seguro, isolado e, principalmente, em deslocamento, respirando ar puro”, enfatiza o professor.


“A bike sempre foi meu ganha pão, me ajudou a ter o que tenho hoje”

A relação do seu Antônio Marcos de Oliveira, 48 anos, que trabalha no setor de Obras da Universidade, e a bicicleta é antiga. Desde que iniciou sua vida profissional, a bike é sua companheira diária no deslocamento para o trabalho. “Consegui comprar a primeira bike com 18 anos, era as torpedo, simples, sem marcha, faz força pra pedalar e freia com o pé. Ela começou a fazer parte da minha vida para trabalho mesmo. Morava em Povinho Velho, próximo a Passo Fundo, cerca de 12 quilômetros, e eu não tinha opção, não tinha carro, ônibus e eu precisava trabalhar”, relembrou o assistente construtivo, que já atuou em diversas empresas da cidade e, em todas elas, o único meio de transporte utilizado por ele foi a bicicleta.

Há 20 anos, ele mudou-se para o bairro São José, em Passo Fundo. Trabalha na UPF há dois anos, que fica a cerca de cinco quilômetros da sua casa. Os quatro deslocamentos por dia são feitos com a bike. E seu Antônio nunca teve bicicleta com marcha. A preferência dele continua a mesma. “Sempre comprei nesse estilo, sem marcha. Dura dez anos uma bicicleta dessa. A gente se acostuma. O segredo para ter disposição é se alimentar bem, cuidar da saúde, ter paz de espírito e ter calma. Com a bicicleta você vai aonde você quer. É uma sensação de liberdade”, explica.

Para ele, a bike tem um significado especial. “A bike sempre foi meu ganha pão, me ajudou a ter o que tenho hoje”, declara seu Antônio, que é casado há 26 anos e tem dois filhos.


“A bicicleta te dá essa liberdade, o vento na cara”

A primeira bicicleta do também funcionário da UPF, Leandro dos Passos da Silva, de 32 anos, morador do bairro Petrópolis, foi aos 11 anos, a muito custo. “Era de família humilde, em uma época muito difícil. Catava latinha e a minha primeira bicicleta montei com peças de ferro-velho. No Natal, sempre esperava uma bicicleta. Via os amigos, primos ganhando, e eu não. Mas isso me tornou uma pessoa melhor. Eu tive que batalhar para ter, dar valor às coisas que fui conquistando ao longo dos anos. Hoje, posso proporcionar aos meus filhos. Tenho três filhos e eles andam de bicicleta. Foi um esforço que trouxe amor”, comenta Silva.

Embora ele tenha carro, a bicicleta sempre foi o principal meio de deslocamento e, na pandemia, o uso foi intensificado. “Só uso o carro quando chove. A bicicleta te leva onde você quer, é segura, principalmente agora na pandemia, afasta a gente do vírus, me sinto mais protegido. Além disso, não tem rota, poupo o meio ambiente e faço um bem para minha saúde. A bicicleta te dá essa liberdade, o vento na cara”, destaca o assistente construtivo.


Motivos para ir de bike

E os motivos e benefícios de utilizar a bike, especialmente, neste momento de pandemia são muitos. De acordo com a professora da Faculdade de Engenharia e Arquitetura (Fear) da UPF, Me. Eliara Riasyk Porto, que coordena o Grupo de Pesquisa em Mobilidade MOVE UPF, uma das motivações passa pelo medo de contaminação. “Houve muitas inseguranças sobre a contaminação, principalmente, no transporte coletivo, e isso levou a busca por meios alternativos e com mais garantia ou de isolamento social ou ventilação”, observa a professora.

Além disso, a necessidade de atividade física neste período é fundamental. “O fato de ficarmos mais tempo em casa trouxe o alerta que precisamos nos exercitar para melhora da saúde como um todo, e a bicicleta proporciona um sentimento de liberdade, então se tornou um atrativo considerável para o momento que estamos vivendo. Fora que a manutenção da saúde física e mental é fundamental em uma época como esta”, salienta Eliara.

De maneira geral, os benefícios de incluir a bicicleta na rotina são de ordem pessoal e social. “Na ordem pessoal, melhora o desempenho físico, a disposição, os indicadores de saúde ou até mesmo estéticos. Na social, socialização através dos grupos de pedaladas, redução de acidentes de trânsito e das velocidades nas vias (quando substancial diminuição da motorização e/ou aumento dos ciclistas), aumento do respeito no trânsito ao se colocar numa posição mais frágil (no caso de um tradicional motorista se tornar um ciclista)”, ressalta a professora.

A mobilidade urbana sustentável também passa pelo uso da bicicleta. “No âmbito econômico, é um veículo de baixo custo de aquisição e de manutenção quando comparado aos motorizados. Na esfera ambiental, não é um veículo poluente e no âmbito social, ele é mais acessível, não exige regulações ou treinamentos complicados para que qualquer pessoa (salvo algumas deficiências motoras ou mentais) possa fazer o seu uso”, enfatiza Eliara.

A infraestrutura adequada da cidade para os ciclistas é fundamental para incentivar o uso da bicicleta. “Em qualquer lugar do mundo, para qualquer modo de transporte, quando há a oferta de infraestrutura de qualidade há o aumento da demanda. Muito se dizia que era irrelevante construir ciclovias, pois não haviam ciclistas na cidade, sendo que na realidade não havia ciclistas porque não haviam ciclovias, tanto que hoje as que existem são alvo de reclamações que são poucas ou estreitas”, pontua a professora.

A segurança para o ciclista, também deve ser levada em consideração. “Hoje, o que prejudica o aumento do uso de bicicletas, tanto no dia a dia quanto para atividades de lazer, é a insegurança, tanto referente a assaltos ou a acidentes de trânsito, e é nesse sentido que as ações de melhoria devem ser planejadas, de modo a estimular o crescimento desse modo”, afirma Eliara.

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