A massa de ar polar em atuação no Rio Grande do Sul tem mantido as temperaturas mínimas próximas de zero grau na região de Passo Fundo. De acordo com o Laboratório de Meteorologia da Embrapa Trigo, nessa terça-feira (29), o município registrou o dia mais frio deste ano, quando os termômetros marcaram temperatura mínima de 0,2°C. A situação foi ainda mais atípica, no entanto, em municípios como Quaraí, na Fronteira Oeste, e São José dos Ausentes, na Serra, onde a semana começou com registro de neve.
Apesar de a previsão do tempo ter indicado ainda a possibilidade de geada na manhã de ontem (29), conforme o analista meteorológico da Embrapa Trigo, Aldemir Pasinato, o fenômeno não se confirmou no município, já que a terça-feira manteve-se com céu encoberto. A possibilidade de geada continua até esta quinta-feira (1º), quando a temperatura mínima não deve passar dos 2°C. O frio começa a perder a intensidade somente na sexta-feira (2), que deve ter mínima de 4°C e máxima de 17°C. Já no sábado, as temperaturas variam entre 7°C e 19°C. Ainda conforme o prognóstico, em Passo Fundo, não há expectativa de neve nos próximos dias.
Queda nas temperaturas é motivo de preocupação para população em situação de rua
Se as baixas temperaturas assustam os moradores de Passo Fundo que dispõem de uma cama confortável para dormir, a preocupação é ainda maior entre aqueles que vivem em situação de rua. No município, a Secretaria de Cidadania e Assistência Social (Semcas) estima que cerca de 50 pessoas vivam nessas condições, mas o número é ainda maior quando considerado aquelas que estão apenas de passagem pelo município.
Por isso, nos últimos dias, as equipes da Semcas têm intensificado o serviço de abordagem para identificar indivíduos em situação de rua e encaminhá-los a serviços socioassistenciais, segundo a secretária adjunta da pasta, Elenir Chapuis. “A Semcas já desenvolve ações contínuas para esse público-alvo, mas intensificamos um pouco mais no inverno. Todos os dias, nossas equipes fazem o serviço de abordagem para assegurar a busca ativa e verificar nos espaços públicos do município a incidência de pessoas em situação de rua, de frio e de vulnerabilidade, direcionando elas para o serviço especializado, no Centro Pop Júlio Rosa”, explica.
É no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) que essas pessoas recebem auxílio para o encaminhamento de documentos, passam por atendimento psicológico, são incentivadas a realizar tratamentos de saúde e reabilitação da dependência química e reaproximadas das suas famílias, além de terem acesso a banhos, roupas limpas e alimentação. No centro, elas também recebem direcionamento para a Casa de Passagem Madre Teresa de Calcutá — mais conhecida como albergue municipal —, onde dispõem de banheiros com água quente, dormitório e cinco refeições diárias. “Nós não fazemos a oferta de alimentos na rua, porque o objetivo é que elas não permaneçam nessa situação. Muitas vezes, a oferta de roupas, colchões, alimentos mantêm essas pessoas na rua e o trabalho da assistência social vem de encontro a isso. A gente não quer que ela fique lá, a gente quer garantir um espaço digno, protegido, sem risco social e pessoal. É na casa de passagem que oferecemos as refeições”, complementa Elenir.
Procura por pernoite aumenta na Casa de Passagem
A intensificação na busca ativa e no direcionamento feito pelas equipes têm resultado em um aumento na procura por refeições e por pernoite na casa de passagem. “No verão, as equipes de abordagem direcionam essas pessoas para cá, mas elas não querem vir. No inverno, isso muda um pouco, a procura por pernoite aumenta de 30% a 40%. Nessa segunda-feira, por exemplo, tivemos nove pernoites. Mais pessoas também vêm procurar por refeição. Antes tínhamos uma média de 10 a 12 almoços por dia, ontem tivemos 20”, detalha o recepcionista do espaço, Paulo Roberto de Oliveira, complementando que nem todos que procuram pelo serviço são pessoas que vivem no município. Parte deles estão apenas de passagem, seja procurando por um emprego na cidade ou tentando chegar até outro município.
A busca por pernoite, no entanto, ainda é abaixo da capacidade da Casa de Passagem, que dispõe de 12 lugares reservados para homens e quatro para mulheres — antes da pandemia, eram admitidas até 30 pessoas no espaço, mas a capacidade precisou ser reduzida para garantir um maior distanciamento social entre os abrigados. O problema, de acordo com a secretária adjunta da Semcas, é que muitas dessas pessoas, mesmo em situação crítica, recusam a oferta de espaços de acolhida, onde poderiam estar mais seguras. “Ainda há uma resistência bastante grande e um dos fatores primordiais para isso é a questão do uso de substâncias químicas. Muitas dessas pessoas estão nesse processo de dependência há muito tempo, não têm mais laços familiares, então é um resgate bastante complexo. A intervenção é feita de forma técnica em conjunto com psicólogos e equipes de abordagem, mas também dependemos do desejo da pessoa de rua. Ela precisa querer sair e, muitas vezes, esse querer não depende apenas da vontade dela. Ela tem vontade, mas não consegue exercer isso pelas circunstâncias ao redor dela”, relata.