Da Universidade para a comunidade: óleo de cozinha pode virar sabão e velas artesanais

Oficina ministrada por professores do curso de Química da UPF ensina moradores a reaproveitar o óleo de cozinha com receitas especiais e com mais segurança

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Professores do curso de Química, por meio dos projetos de extensão testaram essas receitas em laboratório (Fotos: Natália Fávero/UPF)Professores do curso de Química, por meio dos projetos de extensão testaram essas receitas em laboratório (Fotos: Natália Fávero/UPF)
Professores do curso de Química, por meio dos projetos de extensão testaram essas receitas em laboratório (Fotos: Natália Fávero/UPF)
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Há gerações, famílias produzem sabão caseiro, reaproveitando o óleo de cozinha misturado à soda cáustica. A questão é que fazer sabão em casa requer cuidados e atenção para questões de segurança. Assim, professores do curso de Química da Universidade de Passo Fundo (UPF) testaram receitas caseiras em laboratório e desenvolveram uma receita especial com dicas de segurança. Além disso, ensinam a fazer velas artesanais. O conhecimento adquirido no laboratório agora é levado até à comunidade, sendo repassado para moradores do bairro José Alexandre Zachia.

Por meio da oficina de “Reuso de óleo de cozinha: produzindo sabão e velas artesanais”, Andreia Moreira de Souza, moradora do bairro Zachia há 34 anos, aprendeu uma prática já realizada pela sua mãe há muitos anos, que é fazer sabão. Mas agora, a receita é diferente e mais segura: a frio e com menos soda. “Resolvi fazer a oficina pra poder reutilizar o óleo que costumamos jogar fora. Isso é muito importante para os rios e meio ambiente. Além disso, está tudo tão caro, que economizar no sabão já é uma grande coisa. Dá pra lavar louça, roupa e calçada”, declara a moradora.

Há diversas receitas difundidas na internet e pela própria comunidade. Nesse sentido, os professores do curso de Química, por meio dos projetos de extensão “Saberes e fazeres da docência: rodas de conversa em processo formativo coletivo” e “Recursos Minerais e Sustentabilidade”, testaram essas receitas em laboratório. “Muitas receitas da internet têm mais de 15% de concentração de soda. Esse excesso provoca o ressecamento das mãos ao utilizar o sabão, podendo criar até fissuras. Se as mãos ficarem murchas, significa excesso de soda”, explica a coordenadora do curso de Química, Me. Ana Paula Härter Vaniel.

A partir das experiências em laboratório, os professores desenvolveram uma receita com menos soda e feita a frio, sem precisar aquecer. Além disso, a questão da segurança é essencial. “O percentual que utilizamos de soda é menor. Demora um pouco mais para secar, mas é mais seguro. A nossa intenção é trazer receitas que testamos em laboratório em quantidades ajustadas e atentar aos cuidados com segurança. A soda é corrosiva e o óleo pode entrar em combustão quando está sendo aquecido, por isso optamos por fazer a frio. É importante o uso de luvas, óculos de proteção e uma roupa que possa ser facilmente retirada em caso de acidente. Crianças também devem ser mantidas afastadas para evitar acidentes”, observa a professora, ressaltando que, ao utilizar o sabão caseiro em casa, é indicado sempre trabalhar com luvas, a fim de proteger as mãos.

A primeira oficina foi realizada no dia 4 de outubro com moradoras do bairro Zachia. “O conhecimento químico e hoje, em especial, sobre o sabão, é um conhecimento difundido popularmente, mas muitas vezes as pessoas não sabem as proporções e nós, como professores e pesquisadores, precisamos ir até a comunidade socializar o conhecimento. Essa também é uma das funções da Universidade de estar na comunidade e trazer a discussão, o conhecimento e ampliar essas compreensões”, enfatiza o professor do curso, Dr. Ademar Antonio Lauxen, ressaltando a importância dessa ação para a questão ambiental, evitando o descarte incorreto do óleo de cozinha, e também para a questão social, já que a produção pode gerar uma renda própria e até uma renda extra nas famílias.


Velas artesanais: coloridas e perfumadas

Outra receita que a comunidade aprendeu envolve parafina e óleo de cozinha, que podem ficar coloridas utilizando giz de cera ou perfumadas por meio de essências oleosas. “Eu nunca tinha ouvido falar que dava pra fazer vela com óleo de cozinha e ainda com essência pra deixar um cheirinho na casa”, comenta a moradora Andreia.

No entanto, questões de segurança também devem ser levadas em consideração. “A parafina entra em combustão facilmente, então não é indicado aquecer diretamente na chama do fogão. Indicamos trabalhar sempre em banho-maria, com a água quente, nunca fervendo. Dessa forma, a temperatura não fica tão alta. Além disso, utilizamos a técnica do cimento na parte inferior, que irá servir de base, para evitar incêndios quando a vela chegar ao fim”, comenta a professora Ana Paula.


Conhecimento acadêmico

Para os acadêmicos, aprender na Universidade e depois repassar esse conhecimento para a comunidade também é um aprendizado importante. “Essas oficinas possibilitam que nós alunos possamos colocar a ‘mão na massa’ na prática e também ajuda a comunidade a aprender como funciona a química no dia a dia, porque ela está muito presente na nossa rotina. Além disso, tem a questão do meio ambiente, evitando despejar o óleo na terra ou no banheiro. É importante viver bem com o meio ambiente, porque a gente precisa dele para viver, não somos nada sem ele”, enfatiza a acadêmica do quarto nível do curso de Química (B), Giovana Favreto.

Essa atividade é uma das estratégias que vêm sendo desenvolvidas na busca pela integração do ensino e da extensão e dos diversos cursos da Universidade com ações práticas nas comunidades, tendo como articulador o projeto de extensão Redes de Cuidados Territoriais em parceria com a Comissão de Integração da Área da Saúde (Cias) e demais projetos de extensão.

Para mais informações sobre as receitas do sabão e das velas, entre em contato pelo e-mail [email protected].

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