A noite do dia 25 de setembro era para ser como outra qualquer na rua Melânia Salton, no bairro Planaltina, em Passo Fundo, Capital Nacional de Literatura. Era um dia de calor e como sempre crianças brincavam na rua, vivenciando as alegrias da infância. Mas a professora Juliana Laimer, de 37 anos, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo (PPGH/UPF), resolveu fazer uma noite diferente, uma noite de “Jornadinha”, semelhante às experiências de leitura que viveu nas Jornadas Literárias de Passo Fundo.
Mas como chamar a atenção e convencer a criançada? Então, teve a ideia de estender em frente à sua casa um tapete na calçada, com algumas almofadas e livros em cima. E não é que a isca deu certo? “Minhas duas filhas se aconchegaram nas almofadas e logo foram chegando as outras crianças para ver o que estava acontecendo. E foi nos embalos dos livros de Ilan Brenman, que uma pequena jornada no mundo dos livros iniciou. Com isso, memórias eram relembradas nas minhas vivências de Jornadinha”, revelou a professora Juliana, inspirada pelas atividades em alusão aos 40 anos das Jornadas Literárias, que propõem Rodas de Leitura e de Memórias pela cidade, região ou em qualquer parte do mundo.
Livros ocuparam a calçada e as mãos de pequenos leitores em formação. Essa é a essência e um dos legados da Jornada e Jornadinha Nacional de Literatura. “ ‘Pai, não fui eu’, ‘A Cicatriz’, ‘Telefone sem fio’ e ‘Caras animalescas’ de Ilan Brenman foram os livros que levaram as crianças a lugares para os quais só os livros têm a ‘passagem’ para levar os leitores”, salientou Juliana, ao escolher um dos autores que já participou da Jornadinha.
Depois de explorar as histórias colocadas com muito carinho em cima do tapete, um livro foi escolhido. E foi na onda do “Pai, não fui eu” que a professora e as crianças passaram alguns minutos apreciando a história superdivertida. E o resultado de tudo isso foi transformador. “Por fim, as próprias crianças foram ‘agentes de leitura’, pois as crianças maiores liam para as menores. E eu?! Não precisei fazer mais nada, porque elas, as crianças, só precisavam de um espaço para ler”, contou a professora.
E o que as crianças acharam disso? “Eu achei bem legal, porque fazia tempo que eu não lia um livro. A nossa escola estava fechada e a Jú convidou a gente, foi muito legal”, afirma Yasmin dos Santos Viana, de 8 anos, que está no terceiro ano do ensino fundamental.
E da calçada, os livros foram para outros lugares. “Eu gostei muito da história. A Jú me emprestou o livro para ler e devolvi no dia certo, que era para devolver, sem nenhum rasgo. Fazia muito tempo que eu não lia também”, declarou Mathias dos Santos Viana, de 10 anos, que está no quinto ano do ensino fundamental.
Formar leitores em todos os cantos
Não importa se é na escola, em casa, na rua ou na calçada. Qualquer espaço pode virar um lugar para a leitura e literatura. Desde 1981, as Jornadas Literárias de Passo Fundo têm um papel significativo na formação de leitores. Em 2021, esta movimentação literária e cultural completa 40 anos de história e realiza uma programação especial. Entre as atividades estão as Rodas de Leitura e Rodas de Memória.
Nestas quatro décadas, Passo Fundo e região se tornaram um grande acervo reunindo obras dos autores que passaram pelas Jornadas. Incontáveis livros integram as bibliotecas públicas, das escolas e o próprio acervo presente nas casas dos leitores. “Para as bases teóricas das Jornadas, incluída na concepção plural que defendemos de leitura, está a noção de encontro. Ler é encontrar a si e ao outro pela literatura”, destaca um dos coordenadores das Jornadas Literárias, o professor da UPF, Dr. Miguel Rettenmaier.
As Rodas ocorrem em um momento de reencontros presenciais, após mais de um ano em distanciamento social. “As Rodas serão um (re)encontro mediado pela leitura literária, e esse (re)encontro pretende acontecer tanto entre leitores, em mais de uma forma de espaço coletivo, quanto entre esses leitores e um acervo de obras e de lembranças associadas a quatro décadas que, na realidade, constituem a identidade de uma movimentação cultural que forma leitores e que nos faz uma comunidade leitora”, afirma o professor.
As atividades em alusão aos 40 anos das Jornadas Literárias são promovidas pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e Prefeitura de Passo Fundo com patrocínio da Corsan, apoio do Programa Nacional de Assistência ao Ensino (PNAE) e Sesc como parceiro cultural.
Faça uma Roda de Leitura e de Memória
Os encontros das Rodas são espontâneos, registrados em redes sociais com imagens e textos que demonstrem o que realmente aconteceu e documentem a movimentação dos leitores da Jornadinha. A única regra é fazer isso e marcar a página da Jornada Nacional de Literatura no Facebook. Saiba mais em upf.br/jornada40anos.