Réplica da embarcação usada por Garibaldi na Revolução Farroupilha está quase concluída

Após dois anos de construção, o professor Antônio Rodrigues apresentará o barco à comunidade de Camaquã no dia 18 de dezembro

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(Foto: Divulgação)(Foto: Divulgação)
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Considerado um dos capítulos mais épicos da Revolução Farroupilha, as façanhas de Giuseppe Garibaldi pelas águas do litoral gaúcho e catarinense poderão ser lembradas de dentro de uma embarcação que leva as mesmas características do lendário Seival, usado pelo aventureiro italiano. Nos dias 18 e 19 de dezembro, a réplica, em tamanho original, será apresentada aos moradores de Camaquã, durante a programação natalina do município, e levada para o Delta do Camaquã, de onde Garibaldi partiu para a tomada de Laguna.

Idealizador e responsável pela empreitada, o professor de educação física, Antônio Rodrigues, explica que, no lugar dos carroções puxados por bois no período farrapo, o transporte da embarcação, pelos 64 quilômetros até a beira do rio, será feito por uma carreta especial. “Ela deve ficar por mais um período lá no Delta, antes de iniciarmos a navegação. Ainda precisamos concluir algumas etapas, como o tanque de combustível, o de água, colocar o lastro, e montar o museu”, explica o professor.

Assim que essa fase estiver concluída, a embarcação vai se transformar em uma ferramenta de conhecimento para estudantes da rede pública e privada. A intenção é navegar pela costa gaúcha e catarinense, realizando oficinas com conteúdos de história e educação ambiental. Também terá um museu com objetos relacionados ao período. Pelo menos 12 prefeituras já fecharam parceria para receber a embarcação. A primeira delas, onde acontece a apresentação oficial do barco, está prevista para 15 de fevereiro, às margens da Lagoa dos Patos, no município de Barra do Ribeiro.

 

Recursos

Os recursos, tanto para a montagem do museu, como a contratação de profissionais para formação da equipe, ainda dependem da aprovação de projetos já encaminhados. Desde que trocou Passo Fundo por Camaquã, há quatro anos, para concretizar o projeto, Rodrigues tem enfrentado dificuldades em receber apoio financeiro.

Obstinado em levar adiante o sonho, desde o início vem tirando dinheiro do próprio bolso para vencer etapas. Além de fornecer toda a madeira, precisou se desfazer de outros dois veleiros e de parte de um imóvel. Já são pelo menos três empréstimos para cobrir as despesas, estimadas até o momento, em aproximadamente R$ 400 mil, sem incluir a mão de obra e o combustível do carro. O aceno de uma parceria com a Fundação Garibaldiana de Roma trouxe um certo alento, mas a demora na efetivação gera incertezas.

Durante o período mais restritivo da pandemia, a situação ficou ainda mais difícil. Sem poder contar com a ajuda do carpinteiro naval, Jader Pontes, Antônio precisou se virar sozinho. Professor da rede estadual de ensino, divide o tempo entre as 40 horas semanais no educandário, e o trabalho quase solitário em um antigo ginásio municipal abandonado, improvisado como estaleiro. 

“Neste tempo que estou aqui recebi contribuições de alguns amigos. Fizemos ações para arrecadar recursos, mas insuficientes para um projeto deste porte. Ver o barco pronto, na água, é sem dúvida uma sensação muito boa. Mas meu sonho vai além da construção. Quero ver ele navegando, visitando escolas, como uma ferramenta pedagógica. Trazer as crianças para dentro do barco. Ver a reação, o brilho nos olhos deles. Isso é que vale a pena”, observa.

 

Réplica

Inspirado a partir da construção de uma réplica em miniatura do Seival, Antônio, acompanhado da esposa e os dois filhos menores, mudou de Passo Fundo para Camaquã, em fevereiro de 2018. A intenção era realizar o projeto na Estância da Barra, onde residia dona Antônia, irmã do tenente-capitão da República Rio-Grandense, Bento Gonçalves. Foi naquele local que Garibaldi construiu o Seival e o Farroupilha, em 1839, com o propósito de estender o ideal republicano para Santa Catarina. A busca pela autorização para se instalar naquela região consumiram, em vão, mais de um ano. A Alternativa foi aproveitar o espaço de um ginásio abandonado, na cidade de Camaquã.

Sem a disponibilidade de informações técnicas sobre a embarcação construída pelo italiano, o professor Antônio usou uma fotografia do Seival como principal referência. “É uma boa aproximação, procuramos manter as medidas da imagem disponível em Laguna. Mas como o barco ficou muito tempo lá, pode ter sofrido algumas alterações em relação ao original. Tentamos fazer a melhor aproximação possível”, explica.


Projeto Navegar Rio Passo Fundo

O interesse de Rodrigues pela navegação surgiu em 2014, quando decidiu realizar o projeto Navegar Rio Passo Fundo - da nascente ao mar. Dividido em oito etapas, alunos do ensino médio da escola Cecy Leite Costa, onde lecionava, juntamente com outros professores e integrantes de grupos ecológicos, eles navegaram mais de 1 mil quilômetros, do Rio Passo Fundo até a capital Uruguai, Montevidéu. No ano seguinte, o roteiro seguiu pelas águas do rio Jacuí.

 

Números da embarcação

Comprimento – 15 metros

2,20 m de pontal, mais 70 cm de borda falsa

Peso – Aproximadamente 15 toneladas

Motor – Mwm diesel 137 HP

Madeiras utilizadas – Ipê, Grápia, Cedro e Jatobá

Em batalha, o Seival de Garibaldi tinha a bordo 30 farrapos, além de 2 canhões e armamentos


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