Morte de Delsi da Luz encerra capítulo dos pracinhas em Passo Fundo

Ex-combatente atuou em Nápoles durante o último ano da 2ª Guerra Mundial

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Delsi exibe quadro com a foto registrada nos Estados Unidos (Foto: Gerson Lopes/ON)Delsi exibe quadro com a foto registrada nos Estados Unidos (Foto: Gerson Lopes/ON)
Delsi exibe quadro com a foto registrada nos Estados Unidos (Foto: Gerson Lopes/ON)
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 A morte do tenente Delsi Branca da Luz, aos 96 anos, na última terça-feira (25) encerrou o ciclo de uma geração de passo-fundenses que conheceu de perto os horrores da Segunda Guerra Mundial, em solo italiano. O último pracinha estava internado havia 16 dias e não resistiu a uma pneumonia. O corpo foi velado no Memorial Vera Cruz e sepultado no cemitério da Vera Cruz. Ele deixou três filhas.

 Em nota, o Comando da Artilharia Divisionária da 3ª Divisão de Exército, de Cruz Alta, lamentou a perda do ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB). “Com o seu falecimento, o herói Tenente Delsi passa a integrar o rol dos grandes nomes a serem eternamente lembrados e reverenciados por todos os brasileiros”, diz um trecho.

 Por ironia do destino, a mesma doença que provocou a morte do militar, foi responsável por tirá-lo do campo de batalha durante a Segunda Guerra Mundial. Em entrevista ao ON, em julho de 2016, Delsi contou que, no campo de batalha, em Nápoles, integrava a chamada patrulha de reconhecimento. A missão, de alto risco, consistia em se mostrar ao inimigo para descobrir o tipo de armamento usado por ele.

 Acometido por uma pneumonia provocada pelo rigoroso inverno Europeu, Delsi precisou ser levado a um hospital, na cidade de Livorno. Foi justamente enquanto recebia tratamento médico, e acreditava já estar longe do perigo, que o passo-fundense viveria seu maior drama na Itália.

Um funcionário do hospital realizava a limpeza do pátio, ao redor do prédio, quando bateu em uma mina. A explosão destruiu vidros e paredes, deixando 18 pessoas feridas. Atingido na cabeça, Delsi precisou ser transferido para um hospital de Nova Orleans, nos Estados Unidos, encerrando sua participação na Guerra.

Com o fim do conflito, retornou ao Brasil e iniciou  carreira no Ministério da Agricultura, desempenhando a função de meteorologista. “Não é nada fácil passar pelo que passamos, mas meu sentimento é de dever cumprido pela pátria”, declarou ao final daquela entrevista.


Uma grande perda

O capitão do exército Jesus Maurício da Silva, lamentou a morte do amigo e lembrou de um episódio decisivo na vida de Delsir. “Já era o último ano da guerra, ele estava em Cruz Alta, quando saiu a relação de uma nova tropa que viajaria à Itália. O nome dele não constava, havia sido liberado. Pouco tempo depois, quando participava de uma festa entre familiares, recebeu a notícia de que deveria embarcar às pressas com os demais. Cumpriu a missão dele de maneira exemplar. Sem dúvida, uma grande perda para o Brasil”, acrescentou.

 

 Resgate da história

Para o doutorando em história, e membro do Instituto Histórico de Passo Fundo, Alex Antônio Vanin, esse capítulo da história local, envolvendo os pracinhas, interligado com um acontecimento de proporções mundiais, precisa de uma atenção especial. “Há uma carência de dados sobre um momento tão importante. Não podemos afirmar com precisão quantos soldados de Passo Fundo participaram da guerra. É preciso aprofundar as pesquisas”, afirma.

Uma das iniciativas para que isso aconteça, adianta Vanin, será a inclusão do roteiro Segunda Guerra Mundial, na segunda edição do projeto Museu a céu aberto: Culturas e Memórias no Cemitério Vera Cruz. A visitação deve incluir a praça Itália, na Avenida Sete de Setembro, onde está o memorial em homenagem a Miguel Pereira. Com o término da guerra, o passo-fundense se encarregou de ficar na Itália, zelando pelos pracinhas sepultados no Cemitério Brasileiro Militar de Pistoia. Ele faleceu em 2003. Na sequência, a visitação  seguirá para o cemitério da Vera Cruz. “Tem cerca de dez ex-combatentes sepultados lá. Primeiro é preciso fazer o levantamento da história de cada um deles. No próximo ano já teremos concluído todo o trabalho”, revela.


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