Pedindo justiça pela morte do congolês Moïse Kabagambe, manifestantes se reuniram em Passo Fundo em um ato simbólico, na manhã deste sábado (5), em frente ao prédio da Justiça do Trabalho. O protesto, convocado por centrais sindicais em todo o país, acontece em memória ao jovem imigrante que foi espancado até a morte no dia 24 de janeiro, no quiosque Tropicália, no Rio de Janeiro, depois de ter cobrado do local onde trabalhava o valor de R$ 200, referente a duas diárias de trabalho que não haviam sido pagas.
De acordo com um dos organizadores do ato no município, o representante da Central Sindical e Popular (CSP Conlutas) e diretor do 7º Núcleo do Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (CPERS Sindicato), professor Orlando Marcelino, além de pedir justiça pela brutalidade da morte do congolês e o fim do racismo e da xenofobia, a manifestação também discutia as mudanças na leis trabalhistas que, segundo ele, precarizaram as relações de trabalho. “Com a última reforma trabalhista e a reforma da Previdência, tivemos mudanças que atingem principalmente a comunidade negra, por ser a maioria da classe trabalhadora, e ainda mais os imigrantes. Sem um vínculo empregatício, o trabalhador não recebe apoio da empresa e nem proteção à vida, que deveria ser a principal prioridade em uma relação de trabalho. Por isso achamos importante manifestar. Estamos em um ano eleitoral, em que devemos discutir a revogação das reformas trabalhistas que tivemos”, explica.
Para Marcelino, em Passo Fundo, o ato tem um significado ainda mais simbólico ao acontecer na mesma semana em que um imigrante senegalês, Serigne Mbacke Dieng, foi baleado durante um assalto, enquanto trabalhava como motorista de aplicativo no município. Segundo amigos de Serigne, ele ainda paga as prestações do veículo que utiliza para trabalhar. Para ajudar no tratamento da vítima e apoiar financeiramente a família do senegalês — que tem quatro filhos no Senegal —, a comunidade passo-fundense chegou a organizar uma vaquinha pedindo doações em dinheiro. “É um episódio que também tem a ver com a precarização do trabalho, onde a pessoa trabalha sem um vínculo empregatício oficial e acaba ficando sem um suporte adequado da empresa. Tanto é que foi a comunidade que precisou se organizar para fazer uma ação solidária”, aponta.
Participaram da manifestação em Passo Fundo representantes da Central Única dos Trabalhadores, da Central Sindical e Popular, da Unidade Popular pelo Socialismo e do Partido dos Trabalhadores.